SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Eram 13h15 de segunda-feira quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu ao palco montado pelas centrais sindicais no Vale do Anhangabaú, região central de São Paulo, em comemoração ao 1º de Maio, Dia do Trabalho. Falou sobre o novo salário mínimo, de R$ 1.320, como uma conquista do trabalhador. “Vamos voltar a gerar muitos empregos, com compromisso de seguridade social”, disse Lula.
Na plateia, trabalhadores ouvidos pela reportagem se mostravam em sua maioria confiantes no novo governo, mas reclamavam das condições precárias do trabalho intermitente (o popular bico), da burla que algumas empresas promovem para evitar o registro em carteira, do assédio moral e da falta de capacitação. No Brasil, o desemprego atinge 8,8% da população, ou 9,4 milhões de trabalhadores.
“No mercado de segurança privada, não tem vaga CLT. Estou há três anos procurando trabalho, mas só encontro humilhação”, diz Claudenilson Cunha da Silva, 46, que estava a trabalho no evento promovido pelas centrais sindicais. “A gente sai de casa às 4h, para ficar numa fila por emprego das 8h às 11h. Só tem trabalho freelancer de segurança, para trabalhar em eventos.”
Segundo ele, seu nome está no cadastro de quatro empresas do setor, mas ele só consegue entre 8 e 12 eventos por mês. A média de ganho por dia é de R$ 140 o que lhe confere uma renda mensal de menos de R$ 1.700, afirma.
Dos 97,8 milhões de ocupados no primeiro trimestre de 2023, 38,1 milhões eram informais no setor privado, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Isso equivale a uma taxa de informalidade de 39%. O indicador segue próximo da máxima da série histórica (40,9%), verificada no terceiro trimestre de 2019.
“Eu sou separado, tenho dois filhos. As empresas só costumam pagar uma refeição por dia, sem transporte, mas a gente trabalha de 12 a 14 horas”, diz Silva. “Eu votei no [Jair] Bolsonaro, porque sou muito família, de respeito. Mas não gostei do que aconteceu no 8 de janeiro, aquele quebra-quebra. Agora é orar para que o Lula faça o melhor pelo Brasil e pelos trabalhadores.”
De acordo com o IBGE, 25,6% (ou 2,2 milhões) do total de trabalhadores desocupados no Brasil (8,6 milhões) procuravam trabalho havia dois anos ou mais no 4º trimestre de 2022. Desse total de 2,2 milhões, 1 milhão estavam na região Sudeste, 836 mil no Nordeste, 147 mil no Norte, 134 mil no Sul e 62 mil no Centro-Oeste.
Jovens historicamente têm taxas maiores de desemprego. No 4º trimestre do ano passado, o maior indicador foi de 29% no grupo de 14 a 17 anos. Dos 18 aos 24 anos, o índice é de 16,4%. Falta de experiência e possibilidade de ainda serem sustentados pelos pais costumam ser apontadas como questões que pesam para o maior desemprego nessa faixa etária.
Entre as mulheres, o índice de desemprego é de 9,8%, superior ao indicador observado entre os homens, de 6,5%. O desemprego entre os pretos (9,9%) e pardos (9,2%) é superior ao indicador dos brancos (6,2%).
Ellen da Silva Lima, 22, reúne os três traços de maior desemprego: é jovem, mulher e negra. “Estou desempregada há um ano e meio. Era cabeleireira, registrada CLT. Mas a dona do salão onde trabalhava, na zona leste de São Paulo, resolveu ficar com 70% do meu ganho bruto, sendo que o combinado eram 50%. Não aceitei continuar nessa exploração”, diz ela, separada, mãe de três filhas.
Agora, Ellen também trabalha como segurança freelancer, depois de migrar para este mercado por indicação de uma amiga. “É um trabalho estressante, nada valorizado. Muitas vezes, nos eventos, a marmita vem azeda porque a comida chega cedo e não é conservada. Se você reclama, é pior, eles não te chamam mais para trabalhar”, diz. “Meu sonho é estudar Direito, deixar essa humilhação para trás”, diz ela, que tem o ensino médio completo.
Luiz Alberto Dias Vieira, 41, trocou de lado no balcão há pouco mais de um ano. Foi mandando embora do banco onde trabalhou por 21 anos durante a pandemia e hoje é sindicalista do Sindicato dos Bancários de São Paulo. “Entrei como estagiário no banco e saí como gerente operacional”, diz. “Hoje ganho 30% menos do que recebia antes, mas não passo o mesmo estresse, nem sofro de ansiedade”, afirma.
“Agora, no Sindicato dos Bancários, faço o que gosto: tenho a chance de encaminhar demandas comuns no setor, como o intenso assédio moral para conquistar metas intangíveis, que mexem com a saúde mental dos trabalhadores”, diz ele, eleitor de Lula.
“Os últimos quatro anos foram uma destruição. O esforço agora é para reconstruir, envolvendo as centrais sindicais e as classes trabalhadoras, que voltam a dialogar com o poder público. Estou muito confiante.”
Quem também demonstra confiança no futuro é a paulista Daiane Cristina dos Santos, 37. Ela viajou de São José do Rio Preto, no interior paulista, em uma caravana promovida pelas centrais sindicais para ver Lula.
“Estou empregada desde janeiro, como auxiliar de escritório. Fiquei um ano desempregada. Antes disso, por seis meses, fiquei trabalhando sem registro em carteira. O empregador queria me pagar oficialmente um salário mínimo. Mas sou formada em Tecnologia da Informação, não podia me sujeitar a isso”, diz ela, que procurou o curso superior na Fatec de São José do Rio Preto na tentativa de avançar na carreira.
“Era recepcionista, tenho três filhos adolescentes. Quero um futuro melhor para a minha família, este 1º de Maio tem um gostinho especial. Espero que o Lula ofereça muito concurso público, agora temos um governo que pensa no trabalhador.”
Rosa Maria Azevedo Freitas, 46, está desempregada há seis meses. Era auxiliar de serviços gerais em uma empresa, onde trabalhou por três meses como terceirizada.
“Hoje as terceirizadas fazem isso: quando a gente completa o período de experiência, eles mandam embora, para não ter que registrar em carteira”, diz ela, separada e mãe de dois filhos adultos.
“Fiz um curso profissionalizante de recepcionista e gostaria de conseguir um emprego melhor. Mas está ficando mais difícil por conta da idade e do pouco estudo que tenho”, diz ela, que cursou até a antiga 8ª série do ensino médio.
De acordo com o IBGE, o número de desalentados (quem desistiu de procurar emprego, mas gostaria de trabalhar) vem caindo: do recorde de 5,9 milhões no primeiro trimestre de 2021 para 3,9 milhões no primeiro trimestre deste ano.
DANIELE MADUREIRA E LEONARDO VIECELI / Folhapress