De volta à seleção brasileira após perder os últimos jogos por lesão, Neymar foi o principal assunto da entrevista coletiva de Tite nesta quarta-feira, véspera da partida contra o Chile, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. E o técnico admitiu certa preocupação com o jogador, a oito meses do Mundial do Catar. Ele revelou ter cuidados especiais com o atacante, mas evitou revelar o teor de suas conversas com o atleta.
“Aprendi ao longo do tempo e o ‘start’ foi a minha filha socióloga. Ela dizia: igualdade não, equidade, sim. O que um atleta precisa pode ser o que o outro não precisa, são abordagens e correções diferentes porque somos diferentes enquanto seres humanos. Temos uma preocupação geral”, comentou o treinador, ao ser questionado sobre alguma conversa mais pessoal com Neymar.
“Não vou responder à tua pergunta (do jornalista) porque são coisas muito íntimas, de dentro de vestiário, no cunho particular. Eu vou ser direto contigo: se um técnico meu quando eu era atleta pegasse e externasse meus problemas de forma pública eu ia perguntar a ele: por que você não vem falar comigo antes? Faço com os atletas aquilo que eu gostava que os técnicos faziam comigo quando eu era jogador”, afirmou.
As preocupações de Tite se devem à alta exposição do jogador na mídia e nas redes sociais, à responsabilidade em campo por ser a principal referência do time e também à decepcionante eliminação do Paris Saint-Germain da Liga dos Campeões, neste mês. O torneio europeu é a grande ambição do time francês e o atacante brasileiro chegou ao clube em 2017 justamente com a missão de liderar o time na busca por esta conquista.
Ao mesmo tempo, o treinador disse não esperar que a queda afete o desempenho de Neymar nos jogos contra o Chile, no Maracanã, e a Bolívia, terça da próxima semana, em La Paz. “As realidades do clube são diferentes. Uma série de atletas passou adversidades em seus clubes, outros chegaram com autoestima elevada”, comentou.
“Do processo de jogar sob a pressão que temos conosco de fazer o nosso melhor. Nisso está inserido o Neymar? Claro, mas estão inseridos todos os jogadores. Nisso está inserido o mais jovem também, que fica com a pressão de executar. Talvez a expectativa do grande nome, do grande astro, do Neymar fique em evidência. Mas todos têm pressão em seus clubes. Nós temos a pressão nossa, não vamos trazer a dos outros para aquilo que já é uma responsabilidade grande.”
Tite também comentou sobre o posicionamento de Neymar. No treino de terça, ele escalou o atacante como um “falso 9”, atuando entre Lucas Paquetá e os pontas Vinicius Junior, pela esquerda, e Antony, pela direita.
“Particularmente, não gosto de usar ‘falso 9’. Ele é um verdadeiro, é um atacante com liberdade criativa. Um jogador que tem as características… Como é o termo? Ousadia. O Vini diz que é o ‘malvadeza’. São adjetivos que fomentam e incentivam a criatividade, o lance pessoal. Teve um jogo que ele trabalhou assim e teve outros jogos que ele voltou para deixar outros jogadores à frente. O Neymar tem uma estrutura há bastante tempo na seleção para potencializar a criatividade dele. Cada um trabalha em seu setor para que ele possa ter a criatividade em seu setor.”
O técnico indicou ter ficado satisfeito com esta formação mais ofensiva, mas fez questão de desprezar qualquer rótulo ao time. Como treinador de clubes, Tite ganhou fama por formar equipes mais defensivas, principalmente nos comandos do Internacional e do Corinthians.
“Cuida para não ter num recorte o retrato. A minha história profissional me remete olhar para trás e é sempre de encontrar equipes equilibradas. Não defensivas, porque não gosto, tenho aversão. Quando atleta, sempre gostei de ter a bola comigo, é instinto. Meus amigos mais próximos sabem disso. Se tivesse que montar uma equipe quando eu estava jogando, só colocaria meia e atacante. Mas, para ganhar, não é assim, tem que ter os dois processos. O futebol tem uma lógica: fazer gol e não tomar gol.”
ANTONY – Tite não fez mistério sobre a escalação. E revelou que já dúvida sobre Antony, por motivos físicos. O jogador deve ser avaliado ainda nesta quarta, antes do treino, marcado para começar às 16 horas. Se ele for vetado, o técnico pode escalar Rodrygo no ataque da seleção.
“O Antony vai fazer um trabalho específico para ter uma definição da equipe, para ver se ele inicia ou não. Para ser bem transparente, bem claro. Ele vem recuperando de um problema e precisa de uma situação clínica confirmada”, disse o técnico, sem revelar qual é o problema físico do atacante do Ajax.
Agência Estado