Torres alega agravamento do quadro psíquico, e PF cancela depoimento

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, lança a segunda edição da Operação Guardiões do Bioma - Combate a Queimadas e Incêndios Florestais. Foto: Fabio Rodrigues/ Agência Brasil

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal cancelou o depoimento de Anderson Torres que estava marcado para esta segunda-feira (24), após os advogados do ex-ministro do governo Jair Bolsonaro (PL) alegarem “drástica piora” de seu estado de saúde.

Segundo a defesa, Torres teve um “agravamento do quadro de saúde psíquico” depois de o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), negar um pedido de soltura. Ele está preso desde janeiro.

“Após ter ciência do indeferimento do pedido de revogação de sua prisão preventiva, o estado emocional e cognitivo do requerente, que já era periclitante, sofreu uma drástica piora”, alega a defesa.

No pedido à PF, o advogado Eumar Novacki destaca que Anderson Torres recebeu um atestado de uma psiquiatra da Secretaria de Saúde do Distrito Federal que fala sobre a impossibilidade de o ex-ministro “comparece a qualquer audiência no momento por questões médicas (ajuste medicamentoso) durante uma semana”.

“A despeito disso, a defesa informa que o requerente, tão logo esteja recuperado, pretende cooperar para o esclarecimento dos fatos em apuração, motivo pelo qual pugna pela redesignação de sua oitiva”, conclui.

O ex-titular do Ministério da Justiça do governo Bolsonaro havia sido convocado para prestar depoimento nesta segunda sobre a suposta utilização da PRF (Polícia Rodoviária Federal) em bloqueios no segundo turno da eleição presidencial, em outubro de 2022, para dificultar a chegada de eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para os locais de votação.

A PF investiga uma viagem do então ministro à Bahia na época. Na ocasião, segundo as suspeitas, Torres teria pedido à PF que atuasse com a PRF nas rodovias para realizar blitz em locais em que Lula havia recebido mais votos que Bolsonaro no primeiro turno.

“O que eu posso afirmar é que há múltiplos indícios de elaboração de relatórios, viagens, comandos, de determinações administrativas. E temos um indício muito eloquente, o fato ocorreu: no dia 31 de outubro [na verdade, 30] houve essas ditas operações atípicas”, disse o ministro da Justiça, Flávio Dino, no início do mês.

A defesa estava esperançosa com a soltura do ex-ministro após a PGR (Procuradoria-Geral da República) ter defendido na segunda-feira passada (17) a revogação da prisão de Torres.

Ele foi preso por decisão do STF após os ataques às sedes dos Poderes, em 8 de janeiro. Torres havia sido recém-nomeado secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, mas viajou para os Estados Unidos antecipadamente, já que as férias dele começavam no dia seguinte às invasões.

Ao defender a revogação da prisão, o subprocurador Carlos Frederico dos Santos afirmou que a prisão poderia ser substituída pelo uso de tornozeleira eletrônica, proibição de Torres sair de Brasília e de se comunicar com outros investigados, além da manutenção do afastamento do cargo de delegado da Polícia Federal.

“A intenção [das medidas restritivas] é evitar que o investigado possa utilizar de sua influência política para interferir no andamento da apuração”, acrescentou o representante da Procuradoria.

O relator do caso no STF, Alexandre de Moraes, negou o relaxamento da situação de Anderson Torres citando as suspeitas em torno da utilização da PRF numa “operação golpista” contra eleitores de Lula.

“[Há] fortes indícios da participação do requerente [Torres] na elaboração de uma suposta ‘minuta golpista’ e em uma ‘operação golpista’ da Polícia Rodoviária Federal para tentar subverter a legítima participação popular no 2º Turno das eleições presidenciais de 2022”, disse Moraes na decisão.

“Não bastasse isso, o requerente Anderson Gustavo Torres suprimiu das investigações a possibilidade de acesso ao seu telefone celular, consequentemente, das trocas de mensagens realizadas no dia dos atos golpistas e nos períodos anterior e posterior; e às suas mensagens eletrônicas”, completou.

Em março, Anderson Torres trocou de advogados e, desde então, a defesa passou a detalhar o quadro de saúde do ex-ministro para pedir a soltura e adiamento de compromissos com a Justiça.

Segundo os advogados, Torres tem sofrido problemas psicológicos desde que foi preso, em janeiro. “[Ele] entrou em um estado de tristeza profunda, chora constantemente, mal de alimenta e já perdeu 12 quilos”, dizem.

“Após a decretação da custódia cautelar do requerente, suas filhas, infelizmente, passaram a receber acompanhamento psicológico, com prejuízo de frequentarem regularmente a escola. Acresça-se a isso o fato de a genitora do requerente estar tratando um câncer”, completaram.

FABIO SERAPIÃO E CÉZAR FEITOZA / Folhapress

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