Viúva de Rolando Boldrin disputa com filha e neto dele sobre controle da obra

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A obra do cantor e apresentador Rolando Boldrin, morto em novembro passado, está no centro de uma briga judicial. Segundo testamento deixado por ele, sua viúva Patricia Boldrin deve ter controle sobre os direitos autorais do seu trabalho artístico.

A vontade do artista foi contestada por Vera Boldrin, filha única dele com a cantora Lurdinha Pereira, e por Marcus Boldrin, neto que Rolando adotou legalmente como filho quando o jovem tinha 12 anos. “Pela lei eu sou irmão da minha mãe”, diz Marcus antes de dar risada no WhatsApp. “Meus irmãos são meus sobrinhos.” É por isso que ele tem tanto direito ao patrimônio do apresentador quanto Vera.

O imbróglio vem do fato de os dois, que são os únicos herdeiros legais do cantor, dizerem que o desejo dele é inconstitucional. Isso porque, segundo a legislação brasileira, metade do patrimônio deixado por uma pessoa morta deve ser destinado aos herdeiros. Com isso, Patricia não poderia ter controle pleno sobre a obra de Rolando, afirmam Vera e Marcus.

Os dois também se opuseram à validade do testamento. Diziam não ter certeza sobre a veracidade do documento porque ele não foi assinado e celebrado na presença deles e de outras testemunhas numa reunião formal.

O testamento foi homologado em sentença judicial dada na quinta-feira (4), atribuindo a Patricia o controle sobre a obra de Rolando.

“Vera e Marcus diziam que os direitos autorais representavam mais que metade do patrimônio de Rolando, mas foi demonstrado que isso não é verdade”, diz Juca Novaes, o advogado da viúva. O judiciário aceitou o testamento porque foi feito na pandemia, acrescenta ele, quando a norma de assinatura presencial havia sido flexibilizada.

Vera e Marcus afirmam que não desistiram do processo e que vão contestar a decisão judicial. “A gente não sabe quanto vale a obra de Rolando. Hoje pode valer R$ 10, mas amanhã a Globo pode querer fazer um documentário sobre ele e aí passa a valer R$ 10 milhões. Não vamos mais questionar o fato de o testamento ser verdadeiro ou não, mas vamos contestar a divisão sobre os direitos autorais”, afirma Marcus.

Patricia diz querer o controle do trabalho de Rolando para “perpetuá-lo na área de educação, e impedir que vire boneco de festa de rodeio”.

Segundo a viúva, o artista e Vera viviam em discordância. “As opiniões do Rolando eram sempre divergentes às da filha. Ela assiste Record e tem preferências musicais que não correspondem às dele. Na questão política, ela é Bolsonaro. O Rolando não era pró-Lula, mas votaria nele nessa eleição. Ele tinha asco do Bolsonaro por causa da questão das vacinas e das falas agressivas.”

Vera, hoje aos 64 anos, afirma que se dava bem com o pai. “Sou filha única e mimada. Ele ajudou a gente a vida inteira. Foi um paizão. Quem disser que eu tive problema com ele vai ter que provar. Só briguei com meu pai depois que ela [Patricia] entrou na vida dele.”

“Meu pai odiava o Lula. Odiava com força, tanto quanto o Bolsonaro. Uma pessoa que baba o Sergio Moro e posta foto na internet, não pode gostar do Lula, né? E ela [Patricia] cismava com isso. A gente discutia por causa disso. Meu pai não era petista”, acrescenta, dizendo que não vota numa eleição há anos.

Questionada sobre o motivo que levou o pai a deixar sua obra para Patricia, Vera diz que o pai “pirou na pandemia”. “Ele não saia de casa, nos ligava todo dia para pedir para tomarmos a vacina e não sairmos de casa. Todo mundo aqui no interior levou uma vida normal, não ache que as pessoas ficaram em casa. Mas eu tinha que ficar. Ele estava meio ‘neurotiquinho’, só posso imaginar isso”, diz Vera.

A viúva agora vai aproveitar que comanda a obra de Rolando para estudar projetos que surgiram desde a morte do cantor. “Teve universidade que quis dar prêmio de honoris causa e escola abrindo com o nome dele. Algumas gravadoras, como a Kuarup e a Biscoito Fino, ofereceram oportunidade de trabalhar, mas eu não pude seguir com elas nos últimos cinco meses”, diz Patricia.

Rolando Boldrin morreu aos 86 anos em São Paulo. Conhecido por apresentar o programa Sr. Brasil na TV Cultura por 17 anos, ele foi um importante divulgador da música regional brasileira. Grande defensor da música caipira, o apresentador impulsionou artistas da MPB e resgatou raízes da cultura nacional na TV.

GUILHERME LUIS / Folhapress

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