SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cristiano Zanin incluiu uma parada evangélica na peregrinação em busca de apoio para sua indicação ao STF (Supremo Tribunal Federal), feita há uma semana por um dos seus principais clientes, o presidente Lula (PT).
Zanin causou boa impressão em almoço, servido nesta terça (6), com três congressistas que têm boa interlocução com os pares parlamentares dessa fé: o senador Carlos Viana e os deputados Sóstenes Cavalcante e Renata Abreu.
Renata Abreu é presidente do Podemos, mesmo partido de Viana e sigla que acolhe Deltan Dallagnol, ex-procurador da Lava Jato que teve no mesmo dia a cassação confirmada pela Câmara um notório opositor à nomeação do defensor de Lula.
Viana preside a bancada evangélica do Senado, posto que Sóstenes, do PL de Jair Bolsonaro, já ocupou na Câmara, no eleitoral 2022.
O encontro aconteceu em Brasília, na casa de um advogado amigo de Abreu, que é anglicana. Nem ela nem Sóstenes votarão na sabatina pela qual Zanin terá que passar, já que ela envolve apenas senadores, mas a dupla foi acionada para ajudar a dirimir eventuais resistências ao advogado no segmento.
Não são tantas assim. Ele é descrito por Sóstenes como um homem de família predisposto a dialogar. Na pauta mais nevrálgica para esse bloco cristão, a de costumes, teria sinalizado que o tema compete sobretudo ao Legislativo, e não ao Judiciário.
“Zanin é casado com a mesma mulher a vida inteira, tem três filhos, [disse:] Sou católico, entendo a luta dos evangélicos, acho que muitos dos temas conservadores judicializados são inerentes à atividade legislativa, entendo a separação dos Poderes e quero demonstrar que vou respeitar todos os segmentos.”
O advogado afirmou, segundo o deputado, que não vai se fechar ao diálogo com quem quer que seja por ser um indicado de Lula. Também estaria interessado em identificar senadores evangélicos que se opõem a seu nome, para abrir um canal com eles.
Enquanto os convidados degustavam costelinha, macarronada e filé mignon, temas potencialmente indigestos foram tratados colateralmente. Como a posição de Zanin sobre pontos delicados nas igrejas, do aborto às drogas.
Sóstenes conta que ninguém ficou cutucando essas questões, que certamente seriam abordadas na sabatina, e voltou à resposta de Zanin sobre entender que um Poder não deve invadir a área do outro. Ou seja, o Congresso tem que apitar sobre isso, não o STF.
Nos bastidores, Zanin tem demonstrado ser pessoalmente contrário ao aborto, embora isso não tenha sido conversado especificamente no almoço.
A reportagem conversou com três líderes evangélicos que, em 2022, ladeados com Bolsonaro, levaram a campanha contra Lula ao púlpito. Nenhum deles se opõe a Zanin.
O apóstolo César Augusto, da igreja Fonte da Vida, o define como “uma pessoa equilibrada, que realmente tem um saber jurídico inquestionável, alguém que vai contribuir”. ”
“Primeiro que é um cara de família, que eu sei”, afirma Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Maior bazuca evangélica contra Lula, o pastor diz não confundir alhos com bugalhos: “Advogado é advogado. Uma coisa é advogado militante, e [Zanin] não é advogado militante do PT, é um advogado contratado por Lula”.
Se acreditasse que Zanin vestia a camisa do PT, teria o atacado da mesma forma que fez com Edson Fachin, indicado por Dilma Rousseff (PT) em 2015. Na época, vazou um vídeo antigo em que o hoje ministro do STF pede votos para Dilma vencer a Presidência. “Desci a madeira em cima, botei pra quebrar.”
“E até onde sei”, continuou Malafaia, “Zanin diz que o aborto não é assunto do STF, e sim do Congresso”.
A reportagem procurou Zanin via assessoria de imprensa para ver se ele queria falar sobre o encontro. Não quis. Ele tem ficado em silêncio desde a indicação de Lula.
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER / Folhapress