Hoje, primeiro dia de agosto, é celebrado o Dia do Poeta de Literatura de Cordel! Gênero literário popular tradicionalmente nordestino é uma das manifestações culturais mais importantes do Brasil.
Saiba mais sobre o tema:
O que é o Cordel?
A Literatura de Cordel é um dos maiores tesouros da cultura popular brasileira. Em 2018, ela foi reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
O Cordel é um gênero literário popular escrito frequentemente na forma rimada, originado de relatos orais e depois impresso em folhetos.
Chegou ao nordeste brasileiro no século XVIII, por influência dos portugueses, que penduravam os folhetos com os relatos orais transformados em versos em varais de corda e os expunham para venda. Por isso o nome Cordel.
Aqui no Brasil, a tradição do Cordel ganhou a sua identidade própria e ajuda a contar e recontar fatos históricos, lendas, tradições populares e fatos cotidianos, principalmente do povo nordestino, fortalecendo as identidades regionais.
Os autores, chamados Cordelistas, recitam esses versos de forma melodiosa e cadenciada, trazendo musicalidade aos relatos.
Importantes cordelistas brasileiros
Alguns Cordéis são ilustrados com xilogravuras e os folhetos são vendidos em feiras, mercados e eventos culturais. Muitas vezes preenchido de humor e críticas sociais, o Cordel é muito importante para a preservação dos costumes regionais e também para incentivar a leitura e diminuir o analfabetismo.
Várias manifestações populares atuais são influenciadas pela Literatura de Cordel como o repente, o partido alto, o rap e outras expressões de nossa cultura em que vozes improvisam rimas e contam histórias da nossa população.
Alguns importantes cordelistas brasileiros são:
- Patativa do Assaré;
- Leandro Gomes de Barros;
- Firmino Teixeira do Amaral;
- Jarid Arraes,Silvino Pirauá;
- Fábio Sombra;
- Salete Maria da Silva;
- Maria Godelivie;
- Arievaldo Viana Lima;
- e Pedro Nonato da Costa.
Dentro dos grandes nomes da MPB, temos um membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, entidade literária máxima a reunir os expoentes da literatura de cordel no Brasil: o grande e eterno Moraes Moreira.
Mestre no que diz respeito à diversidade musical, o baiano de Ituaçu – que nos deixou em 2020 – trazia em suas influências – além do rock, do samba, do frevo, do choro, da música erudita e até do hip-hop – a Literatura de Cordel.
Excelente cordelista, Moraes publicou até um livro escrito todo nessa linguagem, em que conta a história dos Novos Baianos, em 2008: A História dos Novos Baianos e Outros Versos.
“O Poeta da Roça”, Cordel de Patativa do Assaré
Para celebrar o dia de hoje, finalizamos com um famoso Cordel de Patativa do Assaré, um dos mais importantes representantes da cultura popular nordestina. Compositor, improvisador e poeta, o cearense – nascido Antônio Gonçalves da Silva, na cidade de Assaré – ganhou o apelido de Patativa, em alusão ao pássaro de lindo canto.
O Poeta da Roça
Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío
Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.
Meu verso rastêro, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
Só canto o buliço da vida apertada,
Da lida pesada, das roça e dos eito.
E às vez, recordando a feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.
Eu canto o cabôco com suas caçada,
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando as visage chamada caipora.
Eu canto o vaquêro vestido de côro,
Brigando com o tôro no mato fechado,
Que pega na ponta do brabo novio,
Ganhando lugio do dono do gado.
Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.
E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte.