Pode ter certeza: a cada dois álbuns importantes da história da música popular brasileira que você for pesquisar, pelo menos um deles conta com os arranjos de César Camargo Mariano!
Arranjador musical, pianista, tecladista, compositor, produtor, empresário – e pai de Pedro Mariano e Maria Rita! – o paulistano completou 82 anos de vida nesta semana (dia 19 de setembro!) e nós separamos uma lista com 10 álbuns icônicos da MPB em que César Camargo Mariano tem participação fundamental.
Arranjo, em música, é a preparação de uma composição musical para a execução por um grupo específico de vozes ou instrumentos musicais. O arranjador musical basicamente reescreve o material preexistente para tornar a música mais atraente para o público, usando técnicas de rítmica, harmonia e contraponto para reorganizar a estrutura da música de acordo com os recursos disponíveis, tais como a instrumentação e a habilidade dos músicos.
Sobre César Camargo Mariano
Um dos maiores pianistas e arranjadores brasileiros e um dos músicos brasileiros mais requisitados e celebrados em todo o mundo, César Camargo Mariano desenvolveu uma expressiva e aclamada carreira na área musical desde seus 16 anos de idade.
Autodidata, aos 14 anos passou a ser apresentado como “menino prodígio” em espetáculos em que acompanhava bandas de jazz. Logo, passou a atuar como profissional na orquestra do maestro William Fourneaut e, em 1962, formou o grupo musical “Três Américas”.
No início dos anos 60, o jovem pianista, ainda adolescente, já impressionava com seu swing, característica e habilidade de sua hoje legendária mão esquerda. Integrou também o “Quarteto de Sabá”, com quem gravou o seu primeiro álbum.
Em seguida, montou o grupo “Sambalanço Trio”, ao lado de Airto Moreira e Humberto Claiber, com quem gravou cinco LPs, um deles com o cantor e bailarino Lennie Dale.
No fim da década de 1960, César Camargo Mariano foi contratado pela TV Record de São Paulo, onde trabalhou como instrumentista/arranjador e gravou vários discos com seu novo grupo, o instrumental “Som Três”, que misturava jazz com samba.
Formado para servir de banda de apoio para o cantor Wilson Simonal, o grupo resolveu fazer voo solo em 1969, lançando o LP “Um é pouco, Dois é bom, este Som Três é demais”.
O “Som Três” também é conhecido pela faixa “Irmãos Coragem”, que foi tema da novela de mesmo nome, exibida pela Rede Globo, em 1970. Composta por Nonato Buzar e Paulinho Tapajós e executada pelo “Som Três”, a versão da abertura da novela é cantada por Jair Rodrigues.
César Camargo Mariano participou também como jurado dos famosos festivais de música da Record. Na mesma época, entrou no mercado de jingles e canções para cinema e propaganda.
A “Pilantragem”, com Simonal
César dedicou-se, por muitos anos, como arranjador e produtor de Wilson Simonal. Juntos, César e Simonal criaram o que chamaram posteriormente de “Pilantragem”: uma mistura de samba, iê-iê-îê e soul, constituindo-se em um verdadeiro movimento, comandado por Wilson Simonal, Carlos Imperial e Nonato Buzar.
Unindo influências da Bossa Nova, do samba, da nascente música soul americana, do jazz, da música de protesto e do rock que se já fazia por aqui na época, sem perder a qualidade, mas fazendo um som que era diferente de tudo isso, e que eles definiam como “mais comunicativo” – isto é – que se comunicasse melhor com as massas, que fosse mais popular, a elaboração de arranjos e repertórios buscava a união do bom gosto com a comunicação imediata.
Entre as canções famosas na voz de Simonal nesta época, estão os sucessos “Carango” (composição de Imperial e Buzar); “Mamãe Passou Açúcar em Mim” (de Carlos Imperial); e “Meu Limão, Meu Limoeiro”.
Em 1967, Simonal compôs – com Ronaldo Bôscoli – a música que viria a ser um hino da luta contra o preconceito racial: “Tributo a Martin Luther King”, grande ícone e referência na luta pelos direitos civis americanos. César Camargo Mariano fez os arranjos e a canção foi gravada em compacto no mesmo ano, mas só pôde ser lançada quatro meses depois, por conta da censura.
No fim de 1970, Simonal lançou o compacto “A Tonga da Mironga do Kabuletê” (composição de Vinicius de Moraes e Toquinho), última música do cantor arranjada por César Camargo Mariano e a última canção na qual Simonal foi acompanhado pela banda “Som Três”.
Parceria com Elis Regina e carreira internacional
Nos anos setenta, César Camargo Mariano iniciou uma bem-sucedida parceria – na música e na vida com Elis Regina – e logo após casou-se com ela e tiveram dois filhos que hoje também estão na música: Pedro Mariano e Maria Rita.
O pianista atuou como diretor musical, produtor e arranjador da cantora, excursionando pelo Brasil e por vários países.
Na década de oitenta, o pianista gravou dois discos considerados históricos: “Samambaia” (1981), com o guitarrista Hélio Delmiro, e “Voz e Suor” (1983), com a cantora Nana Caymmi.
Em 1987, sua música instrumental “Mitos” foi usada como tema de abertura da telenovela “Mandala”, de Dias Gomes, na Rede Globo. Ainda nesta década, ele apresentou o programa “Um Toque de Classe”, na Rede Manchete.
César Camargo Mariano foi o primeiro brasileiro a utilizar teclado sintetizador nos seus arranjos musicais. Ele também participou de trabalhos com vários outros grandes artistas da música popular brasileira, como veremos nos álbuns a seguir.
Em 1994, quando se mudou para os Estados Unidos, César passou a colaborar também com grandes nomes internacionais, passeando da música clássica até o jazz, sem nunca deixar de trabalhar com os artistas brasileiros, dirigindo e produzindo discos e espetáculos.
Entre suas mais de 200 composições, figuram as hoje clássicas “Samambaia”, “Cristal” e “Curumim”.
Entre os vários prêmios nacionais e internacionais, César Camargo Mariano recebeu dos diretores da Academia de Artes e Ciências o prêmio especial “Lifetime Achievement Latin Grammy Award 2006”, em reconhecimento à importância do conjunto de sua obra.
Em 2007, o artista ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira, com seu disco “Ao Vivo (com Leny Andrade)”. Sua contribuição para a nossa música é fundamental.
10 álbuns da MPB com os arranjos de César Camargo Mariano
1 – Elis & Tom – Elis Regina e Tom Jobim (1974)
Cesar Camargo Mariano é um dos produtores e diretor musical deste que é um dos mais importantes álbuns da história da música popular brasileira, um encontro de gigantes: Elis ReginaeTom Jobim. Neste disco, César pôde inovar, utilizando instrumentos elétricos na Bossa Nova pela primeira vez (coisa que Tom Jobim demorou para gostar!).
Ele se reveza entre o piano e o piano elétrico em diversas faixas e divide os arranjos com Tom Jobim, como por exemplo:
- Águas de Março (composição de Tom Jobim) – piano
- Só Tinha de Ser com Você (Tom e Aloysio de Oliveira) – piano elétrico e arranjos
- Corcovado (Tom Jobim) – arranjos
- Fotografia (Tom Jobim) – piano elétrico e arranjos
2 – Alegria, Alegria – Wilson Simonal (1967)
Cesar Camargo Mariano – na época ainda na banda “Som Três”, é arranjador e pianista de todas as 14 faixas do álbum, que conta com sucessos como:
- A faixa-título (de Caetano Veloso)
- Vesti Azul (de Nonato Buzar)
- Nem Vem Que Não Tem (de Carlos Imperial)
- Belinha (de Toquinho e Vitor Martins).
Ele seguiu como pianista e arranjador de quase todas as faixas dos outros três álbuns dessa série: “Alegria, Alegria”, volumes 2, 3, e 4 – lançados entre 1968 e 1969 – e que trazem outros sucessos da carreira de Wilson Simonal, como “País Tropical” e “Zazueira” (ambas de Jorge Ben Jor) e “Sá Marina” (Antônio Adolfo e Tibério Gaspar).
3 – Falso Brilhante – Elis Regina (1975)
Em 1975, Elis Regina estreou uma temporada solo intitulada “Falso Brilhante”, com o objetivo de contar sua história, vida e carreira, sem deixar de lado as críticas à ditadura militar brasileira. Tudo isso num ambiente um tanto circense. As apresentações, sob direção cênica de Myriam Muniz e direção musical de Cesar Camargo Mariano, ocorreram no Teatro Bandeirantes, ficando em cartaz por praticamente dois anos, de 1975 a 1977.
O espetáculo virou álbum com 10 faixas, em 1975, todas com os arranjos de César, que também se reveza entre piano, piano elétrico, teclado e violão no disco, em faixas como:
- Como Nossos Pais (composição de Belchior)
- Velha Roupa Colorida (Belchior)
- Fascinação (versão de Armando Louzada para a canção “Fascination“, de M. de Feraudy e F. D. Marchetti)
- Tatuagem (Chico Buarque e Ruy Guerra)
4 – Elis – Elis Regina (1972)
Outro álbum importantíssimo de Elis Regina totalmente arranjado por César Camargo Mariano (que também toca piano em todas as faixas) é “Elis“, de 1972, que conta com canções icônicas na voz da cantora, como:
- Bala com Bala (de Aldir Blanc e João Bosco)
- A primeira gravação de Elis de Águas de Março, ainda sem Tom Jobim
- Atrás da Porta (Francis Hime e Chico Buarque)
- Casa no Campo (Zé Rodrix e Tavito)
5 – Canto por Um Novo Dia – Beth Carvalho (1973)
César Camargo Mariano também arranjou todas as 15 músicas do segundo álbum da carreira da grande “Madrinha do Samba“, Beth Carvalho, em 1973: “Canto por um Novo Dia”, que traz sucessos como:
- Folhas Secas (Nelson Cavaquinho)
- Mariana da Gente (João Nogueira)
- Fim de Reinado (Martinho da Vila)
O arranjador também toca piano em algumas faixas do álbum.
6 – Caça à Raposa – João Bosco (1975)
Os arranjos das 12 canções do segundo – e importante – álbum de João Bosco, “Caça à Raposa”, de 1975, também são de César Camargo Mariano. Entre as canções, estão os sucessos (todos de João Bosco em parceria com Aldir Blanc):
- O Mestre-Sala Dos Mares (Almirante Negro)
- De Frente Pro Crime
- Dois pra Lá, Dois Pra Cá
- Kid Cavaquinho
O arranjador também toca teclados em algumas faixas do álbum.
7 – Abraços e Beijinhos e Carinhos sem Ter Fim – Nara Leão (1984)
Neste disco de Nara Leão, em que a cantora celebra a Bossa Nova – movimento do qual foi uma das principais vozes – César Camargo Mariano é o arranjador e também tecladista, em canções de sucesso do gênero, como:
- Wave (Tom Jobim)
- Esse Seu Olhar (Tom Jobim)
- Você E Eu (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes )
8 – Elis, Essa Mulher – Elis Regina (1979)
Mais um álbum icônico de Elis arranjado por César Camargo Mariano, desta vez, o disco que apresentou ao Brasil a canção de João Bosco e Aldir Blanc eternizada na voz da cantora:“O Bêbado e a Equilibrista”,música que virou hino sobre o período da Anistia no Brasil e o início do declínio da ditadura militar.
O álbum “Elis Essa Mulher”, lançado em 1979, conta com arranjos e piano de César. Outro sucesso do álbum é a canção “As Aparências Enganam”, de Tunai e Sérgio Natureza.
9 – Vou Deixar Cair – Wilson Simonal (1966)
Antes da série de álbuns “Alegria, Alegria”, César Camargo Mariano também arranjou (e tocou piano) este outro álbum de muito sucesso de Simonal, “Vou Deixar Cair”, de 1966, que traz sucessos como:
- Meu Limão, Meu Limoeiro (José Carlos Burle)
- Carango (Carlos Imperial e Nonato Buzar)
- Minha Namorada (Carlos Lyra e Vinícius de Moraes)
- Mamãe Passou Açúcar Em Mim (Carlos Imperial)
10 – Saudade do Brasil – Elis Regina (1980)
Para finalizar a lista, mais um álbum de Elis arranjado inteiramente por César: “Saudade do Brasil”, de 1980, um dos últimos da parceria artística e de vida entre os dois. Este disco é uma versão em estúdio com as músicas do espetáculo que Elis apresentou naquele mesmo ano, no Canecão (Rio de Janeiro).
São desse álbum, diversos outros sucessos da carreira de Elis Regina, como:
- Arrastão (Edu Lobo e Vinícius de Moraes)
- Maria Maria (Fernando Brant e Milton Nascimento)
- Alô, Alô Marciano (Rita Lee e Roberto de Carvalho)
- O Que Foi Feito Devera (Fernando Brant, Milton Nascimento e Márcio Borges)
- Redescobrir (Gonzaguinha)



