10 anos sem Dominguinhos

Neste 23 de julho de 2023 completamos exatamente 10 anos da partida do grande mestre da sanfona Dominguinhos – um dos maiores nomes da música popular brasileira de todos os tempos.

O cantor, compositor e instrumentista nasceu em Garanhuns, agreste pernambucano, em 1941, com o nome de José Domingos de Morais, em uma família com 16 irmãos.

Seu pai, Mestre Chicão, era sanfoneiro e afinador de sanfonas, e lhe deu sua primeira sanfona de oito baixos – aos seis anos de idade – com a qual começou a tocar ao lado de dois de seus irmãos em portas de hotéis e feiras livres de sua cidade. O nome do trio era Os Três Pinguins. Nesta época, Dominguinhos ainda usava o nome artístico de Neném do Acordeon.

Um dia, Luiz Gonzaga – já muito famoso – se hospedou em um hotel em que o menino (então com oito anos) se apresentava, e ficou encantado com o seu talento na sanfona, convidando-o para o acompanhar no Rio de Janeiro. Seis anos depois, por conta das dificuldades financeiras que passavam em Garanhuns, o pai foi morar com Dominguinhos na cidade maravilhosa para procurar Gonzagão.

Logo no primeiro encontro no Rio de Janeiro, Luiz Gonzaga presenteou o menino com uma sanfona de oitenta baixos. A partir de então, Dominguinhos passou a frequentar a casa do Rei do Baião e a acompanhá-lo em shows, ensaios e gravações. Foi o próprio Gonzagão que sugeriu que ele mudasse o nome de Neném do Acordeon para Dominguinhos, em 1957, em homenagem a Domingos Ambrósio, sanfoneiro mineiro que havia sido mestre de Luiz Gonzaga.

Em 1957, aos 16 anos, Dominguinhos participou de sua primeira gravação, tocando sanfona no disco O Reino do Baião, de Luiz Gonzaga, na música Moça de Feira, uma composição de Armando Nunes e J.Portela.

Dominguinhos passou então a participar de programas de rádio e se apresentar em casas noturnas no Rio de Janeiro, e também a integrar a primeira formação do grupo de forró Trio Nordestino, até gravar o seu primeiro LP solo, em 1964, chamado Fim de Festa, que já contava com duas composições suas: Frevo Cantagalo e Garanhuns.

Em 1967, Dominguinhos – viajando pelo nordeste acompanhando Luiz Gonzaga e  dividindo as funções de sanfoneiro e motorista – conheceu a cantora e compositora pernambucana, Anastácia – também conhecida como a Rainha do Forró –  que torna-se sua parceira na música e na vida por 11 anos. Juntos, eles compuseram mais de 200 canções, inclusive muitos dos sucessos que alavancaram a carreira do sanfoneiro, como Eu Só Quero Um Xodó e Tenho Sede

Quando tocava em um show de Luiz Gonzaga, em 1972, Dominguinhos foi observado pelo empresário Guilherme Araújo, que o convidou para trabalhar com Gal Costa e Gilberto Gil. 

Depois disso, ao longo de sua carreira brilhante, além de seus mais de 50 discos próprios, Dominguinhos acompanhou muitos outros nomes da música popular brasileira como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Elba Ramalho, Nara Leão e Chico Buarque, que foram parceiros ou gravaram vários dos grandes sucessos do sanfoneiro.

Um dos maiores e mais queridos sanfoneiros do Brasil nos deixou em 2013, aos 71 anos, após sofrer complicações infecciosas e cardíacas por conta do tratamento de um câncer de pulmão que já durava seis anos.

Mas, o seu legado para a música popular brasileira é imensurável. Nesta data especial, relembramos 10 sucessos inesquecíveis de Dominguinhos!

1 – Eu Só Quero Um Xodó (parceria com Anastácia, 1973)

Um dos principais forrós da nossa história, é uma parceria de Dominguinhos com a cantora e compositora pernambucana Anastácia – que foi sua companheira de vida e parceira de composição por muitos anos. Explodiu quando lançada na voz de Gilberto Gil, em 1973, e depois foi regravada por outros grandes nomes como Paula Toller, Daniela Mercury, Elba Ramalho, Marinês, Caetano Veloso e Ivete Sangalo

Que falta eu sinto de um bem

Que falta me faz um xodó

Mas como eu não tenho ninguém

Eu levo a vida assim, tão só

2 – Lamento Sertanejo (parceria com Gilberto Gil, 1973)

Composta em parceria com Gilberto Gil, é uma das mais lindas canções da história da música popular brasileira. Lançada em 1973, no álbum Tudo Azul, de Dominguinhos, a música fala com propriedade e potência sobre o povo nordestino. Foi regravada por Alcione, Djavan, Maria Bethânia, Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Zé Ramalho, Maria Gadú, Maria Rita, entre outros grandes nomes da MPB.

Por ser de lá

Do sertão, lá do cerrado

Lá do interior do mato

Da caatinga do roçado.

Eu quase não saio

Eu quase não tenho amigos

Eu quase que não consigo

Ficar na cidade sem viver contrariado.

3 – Sanfona Sentida (parceria com Anastácia, 1973)

Mais uma parceria com Anastácia – também lançada no disco Tudo Azul, de 1973 –  a canção compara o choro pela dor de um amor, com o barulho de choro que faz a sanfona, instrumento de Dominguinhos. Em 1976, a música foi regravada por outro sanfoneiro – e mestre de Dominguinhos: Luiz Gonzaga.

Chora sanfona sentida em meu peito gemendo

Vai machucando e meu peito de amor vai morrendo

Quanto mais choras me entrego todinha ao amor

E teu gemido disfarça em minha alma essa dor

4 – Tenho Sede (parceria com Anastácia, 1975)

Outra composição com a parceira Anastácia, um dos maiores sucessos da carreira de Dominguinhos, foi lançada em 1975, no LP Tá Bom Demais, do sanfoneiro, No mesmo ano, Gilberto Gil e Golden Boys regravaram a canção, que depois ganhou versões nas vozes de Emílio Santiago, Verônica Sabino, Johnny Alf, Elba Ramalho e Roberta Sá.

Traga-me um copo d’água, tenho sede

E essa sede pode me matar

Minha garganta pede um pouco d’água

E os meus olhos pedem teu olhar

5 – Abri a Porta  (parceria com Gilberto Gil, 1977)

Outra parceria de sucesso com Gilberto Gil lançada no disco Frutificar, da banda A Cor do Som, em 1977 , a otimista canção nos convence que – com amor – “O bom da vida vai prosseguir”. Foi regravada por nomes como o Trio Nordestino e o grupo Rastapé.

Abri a porta

Apareci

A mais bonita

Sorriu pra mim

6  – De Volta Pro Aconchego (parceria com Nando Cordel, 1985)

Parceria com o cantor, compositor e instrumentista pernambucano Nando Cordel, foi lançada por Elba Ramalho, no disco Fogo na Mistura, de 1985, e entrou para a trilha da novela Roque Santeiro no mesmo ano. Esse grande clássico cheio de romantismo e saudade, nos traz a sensação de pertencimento e mostra a importância dos laços fortes. Foi gravado por muitos outros nomes dos grandes nomes da nossa MPB, como: Nana Caymmi, Maria Bethânia, Geraldo Azevedo, Cauby Peixoto e Jair Rodrigues

Estou de volta pro meu aconchego

Trazendo na mala bastante saudade

Querendo um sorriso sincero, um abraço

Para aliviar meu cansaço

E toda essa minha vontade

7 – Isso Aqui Tá Bom Demais (parceria com Nando Cordel, 1985)

Mais uma parceria de sucesso com Nando Cordel, lançada em 1985, em um dueto de Chico Buarque e Dominguinhos, que entrou para a trilha sonora da novela Roque Santeiro, e também para o disco Isso Aqui Tá Bom Demais, de Gonzaguinha. Depois, foi regravada por nomes consagrados como Moraes Moreira, Gilberto Gil, Teresa Cristina e Lucy Alves.

Olha, isso aqui tá muito bom

Isso aqui tá bom demais

Olha, quem tá fora quer entra

Mas quem tá dentro não sai

8 – Gostoso Demais (parceria com Nando Cordel, 1986)

Outra famosa parceria com Nando Cordel, e outra bela canção que fala de amor e saudade. Foi lançada em 1986, no disco Dezembros, de Maria Bethânia. Depois foi regravada com sucesso por Elba Ramalho e Lucy Alves.

Tô com saudade de tu, meu desejo

Tô com saudade do beijo e do mel

Do teu olhar carinhoso

Do teu abraço gostoso

De passear no teu céu

9 –  Vem Ficar Comigo (parceria com Nando Cordel, 1987)

Declaração de amor das mais lindas, também foi composta em parceria com Nando Cordel e lançada por Elba Ramalho com imenso sucesso, em seu disco Elba, de 1987.

Vem ficar comigo

Vem ser a luz da minha estrada

Vivo esperando esse céu para brilhar

10 – Pedras Que Cantam (parceria com Fausto Nilo, 1991)

Parceria com Fausto Nilo, a canção estourou na voz de Raimundo Fagner, que a lançou em seu disco com o mesmo nome, de 1991. Fala sobre desigualdade e injustiça social e sobre como as pessoas lidam com suas realidades. Foi regravada por Elba Ramalho, Rastapé, Zé Ramalho, Moraes Moreira e Gilberto Gil.

Quem é rico mora na praia

Mas quem trabalha nem tem onde morar

Quem não chora dorme com fome

Mas quem tem nome joga prata no ar

 

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