Na rua e para a rua: assim nasceu o Frevo. Essa manifestação cultural, surgida em Recife, atravessou gerações e conquistou o reconhecimento como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Para celebrar o Dia Nacional do Frevo, separamos 10 curiosidades que ajudam a compreender a riqueza desse ritmo que é música, dança, identidade e resistência.
1 – A data oficial
O Dia Nacional do Frevo é celebrado hoje, dia14 de setembro. A data foi escolhida em homenagem ao nascimento do jornalista Oswaldo Oliveira, responsável por nomear e popularizar essa manifestação cultural, e que nasceu em 14 de setembro de 1882.
No dia 09 de fevereiro também é comemorado o Dia do Frevo em Pernambuco. A data foi escolhida porque marca a primeira citação da palavra “frevo” na imprensa, em 1907, utilizada por Oswaldo Oliveira no “Jornal Pequeno”, do Recife.
2 – Raízes no Entrudo
Antes de 1900, a festa que dominava as ruas brasileiras era o Entrudo, tradição europeia em que foliões se divertiam com bolas de lama, água e farinha.
Foliões fantasiados e escravizados travavam uma guerra alegre e suja, durante os três dias que antecediam a Quaresma.
Essa celebração popular, misturada à cultura local, foi um dos pontos de partida para o carnaval de rua que mais tarde daria origem ao Frevo.

3 – Capoeira e rivalidade
No século XIX, bandas militares arrastavam multidões pelas ruas do Recife, sempre acompanhadas por capoeiristas que exibiam gingados, piruetas e bastões e facas para intimidar os rivais.
Os capoeiras eram conhecidos por seus passos complicados e assobios agudos. Da capoeira, o Frevo herdou a dança acrobática, transformada ao longo dos anos em diferentes tipos de passos.
4 – Uma festa do povo
Enquanto o espaço público era para o povo, nos salões particulares a elite imitava os bailes carnavalescos de máscara de Veneza, ao som de uma música mais sofisticada, como a valsa. Com as reformas urbanas, as festas de rua atraíram a elite e o carnaval ganhou uma nova face.
Com a chamada “Abolição da Escravatura”, em 1888, e a Proclamação da República no ano seguinte, cresceu o número de sociedades carnavalescas.
Também chamados de clubes pedestres, eles eram formados por artesãos, operários, feirantes, caixeiros e trabalhadores urbanos.
Predominavam os clubes que “arrastavam” todo tipo de gente, que os acompanhava ao som das bandas ou orquestras de metais. Surgem então as marchas carnavalescas, mais tarde conhecidas como marchas pernambucanas e, finalmente, por Frevo.

5 – As primeiras músicas
A composição “Zé́ Pereira”, primeira música carnavalesca de que se tem notícia, é uma adaptação da marcha francesa “Les Pompiers de Nanterre” e foi lançada com sucesso no carnaval do Recife em 1887.
Em 1899, a compositora, pianista, chorona e regente Chiquinha Gonzaga criou a primeira marchinha de carnaval com letra da nossa história: a clássica “Ô Abre Alas”, escrita em 1899, para o cordão carnavalesco Rosa de Ouro, que passava na frente de sua casa, no bairro do Andaraí, no Rio de Janeiro.
Em 1909, surgiu no carnaval do Recife o Frevo “Vassourinhas”, espécie de hino do carnaval pernambucano. Denominado primeiramente como “marcha”, musicalmente, o Frevo surgiu a partir da combinação de estilos musicais, tais como a polca, a marcha, a quadrilha, o maxixe e o dobrado, executados no final do século XIX pelas bandas militares e civis do Recife.
6 – Três formas de Frevo
O gênero se divide em três vertentes:
- Frevo de Rua, puramente instrumental, executado por orquestras onde se destacam instrumentos da família dos metais (trombones, trompetes e tubas) e da família das madeiras (saxofones, clarinetes e requintas), sendo a base rítmica conduzida pelo surdo, caixa e pandeiro.
- Frevo de Bloco, marcado pelos instrumentos de pau corda – como violões, cavaquinhos, banjos, bandolins, flautas e clarinetes, além da caixa, pandeiro, surdo e saxofone – e pelos corais femininos que retratam temas líricos, nostálgicos e de exaltação à beleza dos blocos e carnavais do passado.
- Frevo Canção, que leva letra e interpretação em palcos e gravações. Um exemplo que está entre as composições mais famosas é “Frevo nº 3 do Recife”, do compositor Antônio Maria, aqui executado pelo grande intérprete de frevo Claudionor Germano.
7 – A dança e seus passos acrobáticos
Conhecido como o passo, o estilo de dançar Frevo herdou o vigor da capoeira e é caracterizado pela flexão dos membros, pela descida e subida do corpo, jogo dos ombros, expressão facial e saltos.
Entre os passos catalogados, destacam-se nomes criativos como “parafuso”, “tesoura” e “dobradiça”. Hoje, são centenas de variações reconhecidas e constantemente reinventadas.
8 – Reconhecimento mundial
Mais do que música e dança, o Frevo reúne expressões artísticas, saberes, ofícios e celebrações que atravessam o tempo e o espaço. É vivo e mutante e uma manifestação cultural que conta a história do povo pernambucano na sua diversidade.
Em 2012, o Frevo foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, reafirmando sua importância como símbolo de identidade e memória coletiva.
9 – O Paço do Frevo
Localizado no Recife Antigo, o Paço do Frevo foi inaugurado em 2014 como centro de referência dedicado à preservação, pesquisa e difusão dessa manifestação cultural. O espaço promove ações colaborativas que conectam memória e contemporaneidade, garantindo a continuidade da tradição.
10 – Uma linha do tempo marcante
A história do Frevo é repleta de momentos importantes, dos quais podemos também destacar:
- A fundação de blocos como o Batutas de São José em 1932;
- O nascimento de figuras como Maestro Duda do Recife (1935) – músico, compositor, arranjador e maestro – e Antonio Nóbrega (1952) – músico, instrumentista, compositor, intérprete, ator e dançarino de Recife – nomes importantes do Frevo;
- A chegada do Frevo à Bahia em 1951;
- A fundação dos clubes carnavalescos Vassourinhas e Lenhadores de Brasília, em 1967; e do Bloco da Saudade, em 1974;
- E a difusão nacional do Frevo, com Moraes Moreira, nos anos 1980.
Fonte: Google Arts & Culture



