No último dia 17 de novembro, o Brasil inteiro ficou mais triste com a partida do gigante Jards Macalé – um dos mais importantes nomes da história da música popular brasileira – aos 82 anos.
O cantor, compositor, instrumentista, arranjador, produtor e ator carioca estava internado desde o dia 1º de novembro, onde tratava de problemas pulmonares e sofreu uma parada cardíaca.
São muitas as contribuições de Macalé para a cultura brasileira. Hoje, para seguir homenageando este grande artista, selecionamos 10 grandes sucessos do artista para você escutar com carinho e saudade.
Grande estudioso da música brasileira
Nascido no bairro da Tijuca, nas imediações do Morro da Formiga, Jards Macalé cresceu rodeado de música efoi um grande estudioso de música durante a sua juventude, influenciado pelos batuques do morro e pelos foxes, valsas e modinhas tocados pela mãe, ao piano, e pelo pai, ao acordeom.
Isso o permitiu, além de construir uma sólida, produtiva e cheia de originalidade carreira solo, que ele participasse também – como músico, diretor, produtor, compositor e arranjador – de momentos cruciais da nossa música popular brasileira durante as décadas de 60 e 70.

Seu nome de nascimento é Jards Anet da Silva, mas ele ganhou o apelido de Macalé, que era o pior jogador do Botafogo na época, por conta da sua irregularidade nas partidas de futebol que eram disputadas informalmente na areia da praia de Ipanema, bairro carioca em que foi morar na infância.
Na adolescência, Jards Macalé formou seu primeiro grupo musical, o duo Dois no Balanço, depois integrou o conjunto Fantasia de Garoto, que tocava jazz, seresta e samba-canção.
Estudou piano e orquestração com o maestro Guerra Peixe, violoncelo com Peter Dauelsberg, violão com Turíbio Santos e Jodacil Damasceno e análise musical com Esther Scliar.
1 – O Mundo é Seu
“Meu Mundo É Seu”, parceria com Roberto Nascimento, foi a primeira composição de Jards Macalé gravada em disco, pela cantora Elizeth Cardoso, em 1964.
Nesta época, Macalé começava sua carreira profissional, como violonista dos espetáculos músico-teatrais de protesto e resistência do Grupo Opinião, que – depois – produziu o antológico show “Opinião”, com Zé Keti, João do Valee Nara Leão.
2 – Amo Tanto
Nara foi a segunda a gravar uma canção do artista, em 1966, em seu álbum “Nara Pede Passagem”: a música “Amo Tanto”.
Antes disso, em 1965, Jards Macalé já havia participado do espetáculo “Arena Canta Bahia”, dirigido por Augusto Boal, junto com um elenco estrelado porGilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Gal Costae Maria Bethânia, todos em início de carreira.
Bethânia, logo em seguida, substituiu Nara Leão no já citado show “Opinião”, por conta de um problema que Nara teve nas cordas vocais. Este espetáculo foi o responsável por lançar Maria Bethânia ao estrelato quando a baiana tinha 19 anos.
Depois disso, Jards hospedou Bethânia no apartamento de sua família no Rio de Janeiro por um tempo e passou a acompanhar a cantora em diversos shows, inclusive dirigindo alguns deles.
3 – Gotham City
No ano de 1968, Jards Macalé iniciou uma parceria de sucesso com o poeta José Carlos Capinan e, no ano seguinte, eles participaram do IV Festival Internacional da Canção, com a composição “Gotham City”, interpretada pela banda Os Brazões e com arranjos do maestro Rogério Duprat.
4 – Hotel das Estrelas
Em 1970, a composição “Hotel das Estrelas”, de Macalé em parceria com Duda, entrou para o disco Legal, de outra grande cantora baiana que gravou muitas músicas do compositor: Gal Costa. O disco também foi dirigido por Jards Macalé.
5 – Vapor Barato
Jards acompanhou Gal Costa em diversos shows e compôs diversas canções que foram sucesso na voz da cantora. A principal delas é o grande hit “Vapor Barato”, outra parceria que foi gravada por Gal em seu antológico disco “Fa-Tal: Gal a Todo o Vapor”, de 1971, um dos mais importantes da carreira da baiana. A canção é uma parceria com Waly Salomão, que dirigiu o disco.
Com uma introdução inesquecível de Gal fazendo improvisos em que imita algo que se assemelha a um instrumento de sopro com sua voz, “Vapor Barato” é um grito de liberdade, resiliência e amor livre, e tornou-se hino de uma geração.
6 – Movimento dos Barcos
Também em 1971, a composição da dupla Macalé e Capinan, “Movimento dos Barcos”, fez um imenso sucesso no disco “Rosa dos Ventos”, de Bethânia. Essa canção foi regravada pela baiana inúmeras vezes durante sua carreira.
7 – Anjo Exterminado
No ano seguinte, mais uma vez na voz de Bethânia, uma composição de Jards Macalé fez imenso sucesso: a música “Anjo Exterminado” – parceria com Waly Salomão – deu título a um dos discos mais famosos da baiana.
A brilhante composição – baseada no icônico e perturbador filme do cineasta surrealista Luis Buñuel, “O Anjo Exterminador”, lançado uma década antes – ficou ainda mais brilhante na interpretação voraz, cheia de angústia e desespero, de Bethânia.
8 – Pula, Pula (Salto de Sapato)
Também em 1971, enquanto Gal Costa estava aqui no Brasil, sendo o símbolo de resistência da Tropicália, depois que seus parceiros Caetano Veloso e Gilberto Gil foram perseguidos, presos e obrigados e se exilaram em Londres por conta da Ditadura Militar – Jards Macalé foi convidado por Caetano para ir para a Inglaterra tocar violão, guitarra, fazer os arranjos e ser o diretor musical do também antológico disco do baiano, “Transa”, que seria lançado no ano seguinte.
O disco é um dos mais importantes da carreira de Caetano e considerado o décimo maior disco brasileiro de todos os tempos, pela Revista Rolling Stone Brasil. No mesmo 1971, Caetano gravou em Londres o disco “O Carnaval de Caetano”, em que traz uma composição de Macalé junto com seu parceiro constante, Capinan: “Pula, Pula (Salto de Sapato)”.
9 – Mal Secreto
Jards Macalé voltou ao Brasil no mesmo ano e, em 1972, lançou seu primeiro LP, gravado em forte sintonia com uma equipe enxuta de músicos: Lanny Gordin, na guitarra, e Tutty Moreno, na bateria – que, somados ao próprio Jards, no violão, formavam um power trio.
O primeiro álbum conta com um forte repertório de composições, muitas das quais viriam a se tornar clássicos no repertório de Macalé, como “Mal Secreto”, outra parceria com Waly Salomão, que depois foi regravada por nomes como Gal Costa, Zezé Motta eFrejat.
10 – Síntese do Lance
Desde então foram mais de 15 discos lançados e uma carreira toda de contribuições significativas para a música popular brasileira! Seus últimos trabalhos foram um disco em parceria com João Donato, em 2011, que conta com o sucesso da faixa-título, “Síntese do Lance”; também o álbum solo “Coração Bifurcado” e o álbum “Mascarada: Zé Keti por Sérgio Krakowski Trio e Jards Macalé”.



