Na quinta-feira, dia 19 de outubro de 2023, completamos exatos 110 anos do nascimento de um dos maiores artistas da música brasileira. Para dar continuidade na semana, seguimos com a Parte 6 das homenagens para Vinicius de Moraes: Os Afro-sambas, novas parcerias, festivais e álbuns como cantor.
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Vinicius de Moraes
Praticamente uma lenda de nossa história, a contribuição do também cantor, compositor, dramaturgo, crítico, roteirista e diplomata carioca para a cultura do nosso país é imensurável.
Quase todos os maiores nomes da música nacional gravaram alguma composição de Vinicius, que – ao lado de Tom Jobim e João Gilberto – fez história, ao tornar-se um dos fundadores da Bossa Nova, movimento que transformou para sempre o DNA da música popular brasileira, no fim dos anos 50.
Sua obra é vastíssima, passando pela literatura, teatro, cinema e música. Mas Vinicius de Moraes sempre considerou a poesia como sua primeira e maior vocação, e dizia que toda a sua atividade artística derivou do fato de ser poeta.
Novas parcerias de Vinicius de Moraes
Em 1963, Vinicius de Moraes fez novas parcerias e compôs, ao lado de Edu Lobo, uma série de canções emblemáticas como Arrastão e Zambi. Também começou a compor com Jards Macalé e Francis Hime, outro grande parceiro de Vinicius ao longo da vida.
No mesmo ano, Aloysio de Oliveira fundou a Elenco, nova gravadora dedicada aos músicos da Bossa Nova, e Vinicius lançou suas primeiras gravações como intérprete de suas próprias músicas. O disco – Vinicius & Odete Lara – foi dividido com a atriz e cantora e todas as canções são composições suas em parceria com Baden Powell, como as famosas Berimbau e Bênção.
Ainda em 1963, Vinicius compôs – com Carlos Lyra – o Hino da UNE, União Nacional dos Estudantes. Também afinado com o clima político que agitava o país, leu – em São Paulo, para um Teatro Paramount lotado – o seu poema O Operário em Construção.
Da carreira diplomática a carreira de cantor
Logo em seguida, assumiu, em Paris, um posto na delegação do Brasil na UNESCO. Mas voltou ao Brasil em 1964, depois do golpe militar, quando passou a assinar crônicas semanais para a revista Fatos e Fotos e textos sobre música popular para o Diário Carioca.
Vinicius de Moraes, então, se afastou cada vez mais da carreira diplomática e abraçou definitivamente a de cantor. Participou do famoso show na boate Zum Zum, em Copacabana, ao lado de Dorival Caymmi, Oscar Castro Neves e do Quarteto em Cy, dirigido por Aloysio de Oliveira.
O show virou disco – Vinicius e Caymmi no Zum Zum – e contou com canções como:
- Broto Maroto e Minha Namorada (de Vinicius com Carlos Lyra);
- Berimbau e Formosa (ambas de Vinicius e Baden Powell).
O primeiro Festival da história da Música Popular Brasileira
Em 1965, a canção Arrastão, de Edu Lobo e Vinicius, venceu o primeiro Festival da história da Música Popular Brasileira, na TV Excelsior, com a interpretação magistral e inesquecível de Elis Regina.
O segundo lugar também ficou para uma composição do poeta, Valsa do Amor Que Não Vem, parceria com Baden Powell, interpretada por Elizeth Cardoso.
Ainda em 1965, aconteceu o espetáculo Vinicius: Poesia e Canção, todo dedicado à obra do poeta. A orquestra do Teatro Municipal de São Paulo acompanhava Vinicius – que também recitava poemas. Também participaram outros artistas – parceiros de Vinicius – como Baden Powell, Carlos Lyra, Cyro Monteiro, Edu Lobo e Francis Hime.
O disco foi lançado no ano seguinte – em dois volumes – e contou com clássicos como, além dos já citados até agora, Canto de Ossanha (parceria com Baden) e Primavera (com Lyra). Quando o poeta terminou a apresentação de Se Todos Fossem Iguais A Você, a plateia respondeu com dez minutos ininterruptos de aplausos.
No mesmo ano, Vinicius lançou o texto da peça Cordélia e o Peregrino.
Os Afro-sambas de Vinicius de Moraes
Em 1966, Vinicius de Moraes lançou o disco Os Afro-sambas, em parceria com Baden Powell e com participação do Quarteto em Cy em todas as faixas. Entre elas:
- Canto de Ossanha;
- Canto de Xangô;
- Canto de Iemanjá;
- e Tristeza e Solidão.
O disco foi eleito o 29º melhor disco de música brasileira da história, pela Revista Rolling Stone, em 2007.
No mesmo ano, a dupla conquistou sucesso internacional pela versão do Samba da Benção, feita pelo ator francês Pierre Barrouh no filme Um homem e Uma mulher, de Claude Lelouch.
O filme venceu o Festival de Cannes, com o próprio Vinicius presente como membro do júri, e o poeta tornou-se personagem de documentários para as televisões americana, alemã, francesa e italiana.
Ainda em 1966, ele participa – ao lado dos iniciantes Gilberto Gil e Maria Bethânia – do show Pois É, com roteiro de Torquato Neto, Caetano Veloso e José Carlos Capinam. Vinicius, visionário, aliou-se ao grupo de jovens que – um ano depois – fundaria a Tropicália, movimento de transformação musical e cultural no Brasil.
Também em 1966, o poeta lançou um livro que reúne crônicas suas publicadas em jornais entre os anos de 1941 e 1966: Para Uma Menina Com Uma Flor.
Em 1967, foi lançado o filme Garota de Ipanema, de Leon Hirszman e Eduardo Coutinho, no qual Vinicius – ainda ligado ao cinema – trabalhou no roteiro. A trilha sonora, lançada em disco no mesmo ano, é composta por canções de Vinicius, Chico Buarque, Tom Jobim e outros parceiros. Entre elas:
- Lamento no Morro e Ela é Carioca (de Tom e Vinicius);
- e Rancho das Namoradas (de Vinicius e Ary Barroso).
Em 1968, o artista publicou a primeira edição de sua Obra Poética, além do livro de poemas e fotos, O Mergulhador, com seu filho Pedro.
Pátria Minha
Ainda em 1968, ano em que o Brasil viveu o início do momento mais duro da ditadura militar, no dia da publicação do Ato Institucional nº 5, Vinicius fez – no palco, durante um show da turnê que realizava em Portugal – uma leitura de seu poema Pátria Minha, como forma de protesto.
No ano seguinte, após uma ordem direta do então Presidente Arthur Costa Silva, Vinicius foi exonerado do Itamaraty, em meio a um expurgo oficial de funcionários não alinhados com o governo ditatorial do período.
No mesmo ano, fez shows em Buenos Aires, Montevidéu e Lisboa, onde – nesta última – gravou ao vivo, na Livraria Quadrante, um recital de poesia, que tornou-se disco no ano seguinte: Vinicius em Portugal. Em Lisboa, também fez outro show que – mais tarde – virou disco, ao lado da fadista Amália Rodrigues.
Está gostando de saber mais sobre a vida e a obra de um dos nossos maiores poetas? Então acompanhe os próximos capítulos dessa história amanhã, na continuação da nossa Semana Especial 110 anos de Vinicius de Moraes!