RÁDIO AO VIVO
Botão TV AO VIVO TV AO VIVO
Botão TV AO VIVO TV AO VIVO Ícone TV
RÁDIO AO VIVO Ícone Rádio

20 palavras indígenas que fazem parte do português brasileiro e suas histórias surpreendentes

Estima-se que mais de 10 mil palavras do nosso vocabulário tenham origem no tupi e em outros idiomas nativos, segundo pesquisas da USP e do Museu da Língua Portuguesa.

Esses termos estão no prato quando pedimos um açaí, na conversa ao falar de resolver um abacaxi e até nos mapas que usamos, em nomes de estados, rios e cidades como Paraná, Iguaçu, Ipanema e Anhangabaú.

Essa herança cultural revela como os povos indígenas compreendiam e nomeavam o mundo, a relação íntima com a natureza, a descrição detalhada de animais e plantas, a poesia presente em nomes de lugares. Ao conhecer a origem dessas palavras, conhecemos uma outra forma de ver o Brasil, anterior a 1500 e ainda viva no nosso dia a dia.

20 palavras de origem indígena no português brasileiro — com explicações aprofundadas

  1. Açaí (ïwasa’i) – Significa “fruto que dá sumo”. Era consumido de forma tradicional pelos povos amazônicos muito antes de se tornar um fenômeno global. Para eles, o açaí tinha valor nutritivo e também espiritual, ligado à energia vital da floresta. Hoje, além de alimento, representa a internacionalização de uma identidade amazônica.
Fruto e polpa do açaí — Foto: iStock Getty Images
  1. Pipoca (pi’póka) – Traduzida como “grão que estoura”. O milho, base da alimentação indígena, era preparado de diversas formas, e o ato de estourar os grãos carregava também significados de festa e partilha. Tornou-se um dos alimentos mais presentes nas celebrações brasileiras, das festas juninas ao cinema.
Pipoca também pode ser comprada por menor preço. Foto: freepik.com
  1. Abacaxi (ibá cati) – Literalmente “fruta cheirosa”. O abacaxi, originário da América do Sul, era cultivado e consumido em larga escala pelos povos nativos. Ao ser levado para a Europa pelos colonizadores, tornou-se uma fruta de luxo no século 16. No Brasil, além de alimento, virou metáfora popular para problemas difíceis de resolver.
Freepik | Reprodução
  1. Jacaré (îakaré) – Quer dizer “aquele que olha de lado”, uma descrição fiel do comportamento do animal. Para os indígenas, nomear os animais de acordo com seu movimento era uma forma de observação e registro da natureza. Até hoje, o jacaré é símbolo dos rios e áreas alagadas do país.
Freepik | Reprodução
  1. Carioca (kari’oka) – “Casa do homem branco”. Originalmente, era o termo usado pelos tupinambás para se referir às moradias construídas pelos portugueses na foz do Rio Carioca, no atual Rio de Janeiro. Com o tempo, passou a nomear os próprios moradores da cidade, é um exemplo de transformação histórica no uso da palavra.
rio-de-janeiro-patrimônio
Paisagem carioca. | Foto: Reprodução/ Blog do Ferreirinha.
  1. Ipanema (y-panema) – Traduz-se como “água ruim para beber” ou “água imprópria para consumo”. O nome foi dado a regiões onde a água tinha excesso de sal ou impurezas. Ironia do destino: hoje é sinônimo de uma das praias mais famosas do mundo, eternizada pela música “Garota de Ipanema”.
Praia de Ipanema. Foto: Divulgação
  1. Caatinga (kaa-tínga) – Significa “mata clara” ou “mato branco”. É uma descrição precisa do bioma do sertão nordestino, onde a vegetação rala e esbranquiçada caracteriza a paisagem. A palavra reforça a forma direta e poética como os povos indígenas nomeavam o ambiente.
Caatinga | Foto: iStock.
  1. Capim (ka’a pií) – “Erva fina”. O termo mostra a importância da observação minuciosa da flora. O capim, em suas várias espécies, foi fundamental para pastagens e criações no Brasil colonial, mas já fazia parte da nomenclatura indígena muito antes disso.
Freepik | Reprodução
  1. Maracujá (mara kuya) – “Alimento na cuia”. A fruta, rica em propriedades calmantes, era utilizada tanto na alimentação quanto na medicina indígena. Além disso, seu formato foi associado a símbolos de fertilidade e espiritualidade em várias culturas nativas.
Freepik | Reprodução
  1. Urubu (urubú) – O nome desse pássaro de rapina carrega a ideia de ave necrófaga. Embora muitas vezes visto de forma negativa, o urubu tem papel essencial no equilíbrio ambiental, pois limpa carcaças e evita a propagação de doenças, conhecimento que os povos indígenas já dominavam.
Freepik | Reprodução
  1. Tatu (tatú) – Significa “animal que se esconde”. A palavra descreve o comportamento do animal, que cava tocas para se proteger. Para os indígenas, os nomes de animais tinham sempre um valor descritivo e prático. Hoje, o tatu é também símbolo cultural, presente até no futebol (o mascote Fuleco, da Copa 2014, era inspirado nele).
Freepik | Reprodução
  1. Anhangabaú (Anhangaba’y) – “Rio do espírito mau”. O nome foi dado pelos indígenas ao rio que cortava a região central de São Paulo. A palavra expressava respeito e medo diante da força da natureza, algo muito comum na toponímia indígena. Atualmente, o Vale do Anhangabaú é um dos pontos históricos mais conhecidos da capital paulista.
  1. Itamaracá (itá maraká) – “Pedra que canta”. A sonoridade expressiva do termo remete a elementos da natureza usados em rituais e na vida cotidiana. Hoje, a Ilha de Itamaracá, em Pernambuco, é famosa por suas paisagens paradisíacas e por manter viva a herança do maracatu e da cultura afro-indígena.
  1. Paraná (pa’ra ná) – “Semelhante ao mar”. Descrevia grandes cursos d’água de largura impressionante, cuja imensidão lembrava o oceano. O termo foi aplicado ao rio Paraná e ao estado que herdou seu nome, simbolizando a grandiosidade natural do território brasileiro.
  1. Arara (arára) – Nome onomatopeico que imita o som emitido pela ave. A arara é um dos símbolos da fauna tropical brasileira, conhecida por suas cores vibrantes e presença marcante no imaginário popular. O nome demonstra como a língua indígena se inspirava nos sons da natureza.
Freepik | Reprodução
  1. Caju (aka’yu) – “Fruto que se desprende facilmente da árvore” e descreve com precisão essa fruta nativa do Brasil, muito valorizada pelos povos indígenas antes mesmo da colonização. Eles consumiam tanto a polpa quanto a castanha, além de usarem o caule e a casca do cajueiro em preparações medicinais.

    Ganhou forte identidade cultural, sobretudo no Nordeste, onde está presente em sucos, doces, cachaças e na castanha, hoje um dos produtos mais exportados do país. Mais do que alimento, o caju simboliza fartura, generosidade da terra e aparece até em músicas, literatura e na religiosidade popular.

  1. Guaraná (waraná) – “Semelhante aos olhos humanos”. A semente, com sua aparência peculiar, inspirou mitos indígenas que associavam o fruto à visão espiritual. Hoje, além de alimento tradicional da Amazônia, o guaraná ganhou projeção mundial como ingrediente de bebidas energéticas.
Brasil com S - Guaraná 100% Brasileiro
  1. Iguaçu (y-guasu) – “Água grande”. Nome dado às quedas d’água que impressionavam pela força e volume. As Cataratas do Iguaçu, no Paraná, mantêm viva essa nomeação indígena e são um dos maiores cartões-postais do Brasil.
Foto: Divulgação.
  1. Cipó (sipó) – “Planta trepadeira” flexível, usada em construções, artesanato e medicina tradicional. Também teve papel importante em rituais de algumas etnias, como na preparação de bebidas de caráter espiritual. É exemplo da relação prática e simbólica dos indígenas com a flora.
  1. Pindorama (pindó-rama) – “Terra das palmeiras”. Era como os povos tupis chamavam o território que mais tarde seria denominado Brasil. Para além de um nome, carregava um significado identitário e poético, mostrando a visão dos indígenas sobre sua própria terra antes da colonização.

A herança indígena presente no português do dia a dia

Pesquisas do Museu da Língua Portuguesa e da USP mostram que o vocabulário de origem indígena permanece vivo, especialmente em áreas ligadas à natureza. A língua é um registro da memória coletiva, da sabedoria ancestral transmitida oralmente, da marca de uma relação com o território que ajudou a construir a identidade nacional. Traduz a forma como os povos originários interpretavam o mundo.

Além do tupi, outras famílias linguísticas, como o guarani, o maxacali e o nheengatu, contribuíram para o português brasileiro. A influência vai além da língua, está na música, na culinária e na toponímia, basta lembrar de cidades como Itapuã, Cuiabá, Tocantins, Itaquaquecetuba ou Paraty.

Falar em pipoca, jacaré, maracujá ou Ipanema é reconhecer a presença indígena em nosso idioma. Ampliamos a percepção de que a língua é um espelho da história e da diversidade do Brasil. Afinal, a cada frase que pronunciamos, lembramos, muitas vezes sem perceber, que o Brasil é plural desde sua origem e que a língua é uma das maiores provas dessa pluralidade.

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS