No dia de hoje, completamos 23 anos sem o grande João Nogueira. O cantor e compositor carioca foi um dos maiores sambistas de todos os tempos e nos deixou em 5 de junho de 2000, aos 58 anos, vítima de um infarto fulminante.
Em sua homenagem, saiba mais sobre a trajetória e a importância de João Nogueira para a música brasileira.
Quem foi João Nogueira?
João Batista Nogueira Júnior nasceu no bairro do Méier, no Rio de Janeiro, e teve contato com o samba desde muito novo. Seu pai – que lhe ensinou a tocar violão ainda criança – era violonista. Chegou a tocar com Noel Rosa e tinha amizade com grandes nomes do samba como Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Donga.
Mas o pai faleceu quando João Nogueira tinha apenas dez anos de idade e ele teve que ir trabalhar com outras coisas para ajudar no sustento da casa. Começou a fazer música aos 15 anos, com sua irmã, a compositora Gisa Nogueira.
Em 1958, passou a frequentar o Bloco Carnavalesco Labareda do Méier – do qual, mais tarde, veio a ser diretor – e a compor os sambas para o bloco. Em 1968, gravou a sua primeira composição, Espere, Ó Nega, acompanhado por um conjunto de samba que, depois, passaria a ser chamado de Nosso Samba.
As composições
Não demorou muito para que suas composições começassem a despertar a atenção de grandes nomes da música. Nessa época, conheceu Paulo César Valdez, que o levou até a sua mãe, a grande cantora Elizeth Cardoso, gravou a composição de João Nogueira, Corrente de Aço, em 1969.
Em 1971, Clara Nunes gravou seu samba em parceria com a irmã Gisa Nogueira, Meu Lema; e Eliana Pittman passou a fazer muito sucesso, chegando aos primeiros lugares nas rádios e ganhando repercussão internacional com sua composição Das 200 Para Lá.
Antes de lançar o seu primeiro disco solo, João Nogueira ainda gravou um LP coletivo intitulado Quem Samba Fica. Na contracapa, o locutor e descobridor de talentos Adelzon Alves dizia:
“É mais um João que veio diferente no cantar samba e fazer verso. É mais uma reza forte nas quebradas, meu compadre.”.
No ano de 1972, João Nogueira lançou seu disco de estreia, que trazia seu nome como título e trazia suas composições:
- Alô Madureira;
- Morrendo em Versos;
- Beto Navalha;
- Mariana da Gente;
- Meu Caminho;
- e Blá, Blá, Blá.
Os maiores sucessos de João Nogueira
Mas, foi com o lançamento do álbum E Lá Vou Eu, em 1974, e com a gravação do sucesso Batendo à Porta, sua parceria com Paulo César Pinheiro – seu parceiro mais constante – que a música de João Nogueira estourou em todo o Brasil.
A partir daí, o artista trilhou uma carreira de sucesso, tornando-se uma das principais referências do samba em todo o Brasil.
Com sua voz potente, forma de frasear muito própria e suas composições brilhantes – muitas delas em parceria com Paulo César Pinheiro – cantou sobre diversos tema, mesclando humor, amor, sensibilidade, política e crítica social, em seus 18 discos de carreira.
Entre seus maiores sucessos, estão as canções:
- Espelho (escrito em homenagem ao seu pai, em 1977);
- Além do Espelho (de 1992, que – com a repetição do famoso verso “meu medo maior é o espelho se quebrar” – foi dedicado aos seus filhos);
- Guerreira;
- Poder da Criação;
- Súplica;
- Mineira;
- e Minha Missão
Todas as canções acima são em parceria com Paulo César Pinheiro.
Além de:
- Clube do Samba;
- Do Jeito Que o Rei Mandou (parceria com Zé Katimba);
- Um Ser de Luz (com Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte).
A fundação do Clube do Samba
Em 1979, preocupado com a desvalorização do samba no cenário musical brasileiro, João fundou o Clube do Samba, com a participação de:
- sua irmã Gisa;
- do escritor, pesquisador e jornalista Sérgio Cabral;
- de Paulo César Pinheiro;
- da cantora Clara Nunes;
- e de outros nomes de peso do samba.
A primeira sede do Clube foi na casa de João Nogueira, no Méier.
Entre as atividades do Clube do Samba estava a produção de um jornal com notícias sobre o samba e a realização periódica de um baile, frequentado por grandes nomes do gênero, como:
- Beth Carvalho;
- Martinho da Vila;
- Chico Buarque;
- e Paulinho da Viola.
Em pouco tempo, o Clube se transformou em um bloco carnavalesco, arrastando amantes do carnaval e do samba em seu desfile na Avenida Rio Branco.
Apesar de ter modificado um pouco o seu perfil nos anos seguintes, sobreviveu como um dos marcos de resistência do samba carioca, promovendo rodas de samba, ensaios e desfiles carnavalescos, graças – principalmente – à família de João Nogueira, que abraçou o projeto, mantendo vivo o seu sonho, depois que o sambista faleceu, em 2000.
João deixou quatro filhos, entre eles o cantor e compositor Diogo Nogueira, que leva o seu legado com muito orgulho e competência, sendo um dos maiores sambistas da sua geração.
Com sua morte, vários colegas se juntaram para um espetáculo em sua homenagem. Participaram Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Dona Ivone Lara, Arlindo Cruz e Sombrinha, Emílio Santiago, Carlinhos Vergueiro e a família de João: o sobrinho Didu, o filho Diogo e a irmã e parceira Gisa. O show foi gravado e deu origem ao famoso disco João Nogueira, Através do Espelho.
Viva o eterno João Nogueira.