Hoje, dia 01 de dezembro, é o Dia Mundial de Luta Contra a AIDS, uma data voltada para que o mundo una forças para a conscientização sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, uma doença do sistema imunológico humano, causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).
Estamos entrando também no mês Dezembro Vermelho, que tem o objetivo de sensibilizar a população sobre a prevenção e o tratamento precoce contra o HIV, a AIDS e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).
Pessoas em todo o mundo se unem para mostrar apoio às pessoas que vivem com HIV e para lembrar quem perdeu a vida por doenças relacionadas à AIDS.
A história da AIDS
Segundo o UNAIDS – programa das Nações Unidas criado em 1996 e que tem a função de criar soluções e ajudar nações no combate à AIDS – aproximadamente 91,4 milhões de pessoas foram infectadas pelo HIV desde o início da epidemia, em 1981, até o final de 2024. 44,1 milhões de pessoas já morreram de doenças relacionadas à AIDS.
O relatório atual do UNAIDS também aponta que 40,8 milhões de pessoas vivem com HIV em todo o mundo, 1,3 milhão de novas infecções ocorreram em 2024 e 9,2 milhões de pessoas ainda não têm acesso ao tratamento.
Além disso, 630 mil pessoas morreram por doenças relacionadas à AIDS em 2024; e 31,6 milhões de pessoas estavam acessando a terapia antirretroviral neste mesmo ano.
A AIDS foi observada clinicamente pela primeira vez em 1981, nos Estados Unidos. Em 1982, o primeiro caso surgiu no Brasil. Naquela época, havia muita desinformação e preconceito e logo conhecemos uma das epidemias mais devastadoras da história.
No início dos anos 80, o maior impacto da epidemia foi sobre a comunidade homossexual. Nessa época, nas manchetes de jornais ou em conversas de rua, a desinformação levou os preconceituosos e moralistas desinformados a chamarem a AIDS discriminadamente de “peste gay” ou “câncer gay”.
Por isso, muito tempo se levou até que se iniciassem pesquisas efetivas na área, para uma possível cura, vacina ou tratamento. Essa negligência só acabou quando se descobriu que a AIDS não escolhia gênero, sexualidade, idade ou classe social.
Em 1985, quando aconteceu o primeiro caso de transmissão de mãe para filho no Brasil, surgiu o primeiro programa de AIDS do Ministério da Saúde e logo a sociedade também se organizou.
Surgiram instituições de luta contra a AIDS, entre elas a ABIA (Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS), que contava com o sociólogo e ativista dos direitos humanos Herbert de Souza, o Betinho, soropositivo, na presidência.

O Dia Mundial de Luta Contra à AIDS e o tratamento
O Dia Mundial de Luta Contra à AIDS foi instituído em 1986, depois de já se saber que a ideia de um grupo de risco era incorreta. No ano seguinte, surgiu o AZT, o primeiro medicamento e a primeira esperança real de vida para quem tinha a doença e também foi criada a Comissão Nacional de AIDS, um espaço que amplia a contribuição da sociedade na resposta à epidemia.
As principais formas de contágio são por meio do sangue, do fluído vaginal, do pré-sêmen (fluido seminal), do sêmen e do “leite materno” de pessoas com HIV, ou seja, a maioria das pessoas contrai o HIV ou em relações sexuais desprotegidas, ou compartilhando da mesma agulha ou seringa ao consumir drogas, ou por nascer de mãe infectada, podendo o bebê ser infectado antes, durante ou depois do parto.
Antigamente, outra forma de contaminação por AIDS era por meio de transfusão (recebimento) de sangue de um doador infectado, mas – atualmente – o fornecimento de sangue é examinado cuidadosamente. Não existe nenhum caso documentado de transmissão do HIV pela lágrima ou saliva.
Quando a pessoa é infectada pelo HIV, seu corpo tenta atacar a infecção desenvolvendo anticorpos (moléculas especiais que combatem os microorganismos estranhos que entram em nosso corpo, no caso, o HIV). A pessoa que possui anticorpos contra o HIV é denominada “HIV positivo”, “soropositiva” ou “pessoa vivendo com HIV”.
Ser HIV positivo ou estar infectado pelo vírus não significa o mesmo que ter AIDS (estar doente). Muitas pessoas soropositivas vivem bem por anos sem apresentar sintomas da doença. Existe um ataque progressivo e constante ao sistema imunológico pelo HIV.
Quando o sistema imunológico fica enfraquecido (imunodepressão), os vírus, parasitas, protozoários, fungos e bactérias que normalmente não causam nenhum problema podem produzir doenças. Estas enfermidades são conhecidas como “infecções oportunistas”.
Com o SUS, após a Constituição de 1988, começou a distribuição de medicamentos para infecções oportunistas.
As ações de prevenção foram ganhando mais corpo e, em 1994, foram distribuídas quase 13 milhões de camisinhas. Em 1995, o Brasil já produzia o AZT e, em 1996, surgiu um novo tratamento com combinação de três drogas, denominado terapia anti-retroviral altamente potente – o “coquetel”.
Esse tratamento reduziu em torno de 50% as taxas de mortalidade, além de reduzir em 80% as internações hospitalares por infecções oportunistas. Além disso, novos tratamentos contra as infecções oportunistas também contribuíram para a redução da mortalidade por HIV/AIDS.
Neste mesmo ano, 1996, o SUS distribuiu os medicamentos do coquetel de tratamento para a AIDS e o país já começou a produzir o coquetel de anti-retrovirais. Em 2002, passa a ser garantido o tratamento universal de AIDS.
Com o passar dos anos, as pessoas foram tendo mais acesso ao tratamento e também às informações sobre a doença, o tratamento como prevenção passa a ser adotado no país e aumentam o número de campanhas contra o preconceito, relacionadas à identidade e respeito. Em 2014, o tratamento 3 em 1, que une três anti-retrovirais, foi finalmente anunciado.
Embora muito se tenha avançado, que a infecção por HIV não seja mais uma sentença de morte como nos anos 80 e que o tratamento permita que pessoas infectadas convivam com o vírus do HIV sem desenvolver a AIDS, até hoje não existe vacina ou cura para a AIDS.
Muito ainda precisa ser feito e é nosso dever entrar nesta luta.

Dia Mundial de Luta Contra a AIDS 2025: Eliminar as barreiras, transformar a resposta à AIDS
A fita vermelha é o símbolo universal de conscientização, apoio e solidariedade com as pessoas que vivem com HIV e uma forte simbologia para que este grupo de pessoas se façam ouvidas sobre questões importantes sobre suas vidas.
O Dia Mundial de Luta Contra a AIDS permanece tão relevante hoje como sempre foi, lembrando às pessoas e aos governos que o HIV não desapareceu. Ainda há uma necessidade crítica de aumentar financiamento para a resposta à AIDS, para aumentar a consciência do impacto do HIV na vida das pessoas, para acabar com o estigma e a discriminação e para melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem com o HIV.
O tema do Dia Mundial de Luta contra a AIDS deste ano é “Eliminar as barreiras, transformar a resposta à AIDS.”
É uma oportunidade importante para destacar o impacto que os cortes de financiamento por parte de organismos doadores internacionais tiveram na resposta à AIDS, bem como para evidenciar a resiliência dos países e comunidades que estão se mobilizando para proteger as conquistas alcançadas e continuar a impulsionar a resposta ao HIV.
Em 2025, uma crise histórica de financiamento ameaça desfazer décadas de progresso. Os serviços de prevenção do HIV estão sendo gravemente afetados. Os serviços liderados por comunidades, essenciais para alcançar populações marginalizadas, estão sendo despriorizados, enquanto o aumento de leis punitivas que criminalizam relações entre pessoas do mesmo sexo, identidades de gênero e o uso de drogas aprofunda a crise, tornando os serviços de HIV inacessíveis.
Os países precisam promover mudanças radicais nos programas e no financiamento do HIV. Neste Dia Mundial de Luta contra a AIDS, junte-se ao UNAIDS para reivindicar liderança política contínua, cooperação internacional e abordagens centradas nos direitos humanos para acabar com a AIDS até 2030.
A música popular brasileira e a AIDS
E a música popular brasileira tem um importante papel nesta luta. Cazuza foi a primeira personalidade do nosso país a declarar publicamente que era HIV positivo e depois a falar sobre o seu tratamento contra a AIDS, ajudando a desmistificar muitas questões sobre a doença e a acolher muitas outras pessoas que sofriam por conta dela.
Cazuza partiu aos 32 anos, em 1990, depois de viajar aos Estados Unidos para se tratar, quando os tratamentos para a doença no Brasil ainda não eram tão desenvolvidos. A Sociedade Viva Cazuza – fundada pela mãe do cantor e compositor, Lucinha Araújo, um ano após sua morte – ofereceu por anos assistência a crianças e adolescentes vivendo com HIV/AIDS.
Cazuza é um grande exemplo de como a arte pode ser uma ferramenta poderosa para promover mudanças sociais e seu legado é imensurável na luta pelos direitos da comunidade LBTGQIAPN+.
Logo em seguida, veio Renato Russo, amigo de Cazuza – que inclusive escreveu uma música para ele quando Cazuza anunciou ser soropositivo.
“Feedback Song For a Dying Friend” foi composta em inglês e o vocalista da Legião Urbana pediu que o escritor Millôr Fernandes a traduzisse para o português, para o encarte do disco da banda em que ela foi lançada: “As Quatro Estações”, em 1989.
Meses depois, Renato descobriu também ser HIV positivo, vindo a falecer em 1996, aos 36 anos. Da tradução de Millôr para a canção, que também conta com Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos como compositores:
“Outra vez
Os dois juntos junto de nossos próprios corações
Calei e escrevi
Isto em reverência
Pela coincidência”
Mas, além dessa – que foi uma homenagem de Renato Russo para Cazuza – temos três outras canções da MPB que falam exatamente sobre a epidemia da AIDS ou sobre pessoas que convivem com o HIV. Hoje, vamos relembrar cada uma delas.
1 – A Via Láctea
A primeira delas – “A Via Láctea” – também foi composta por Renato Russo em parceria com seus colegas de Legião Urbana, Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos e lançada no álbum “A Tempestade”, último lançado pela banda com Renato ainda vivo, semanas antes de seu falecimento, 1996.
Devido ao seu estado de saúde, Renato gravou apenas a voz-guia das faixas desse álbum – todo ele mais melancólico – não tendo voltado ao estúdio para registrar as versões definitivas, que deveriam ir para o produto final. A única exceção é a faixa “A Via Láctea”, com elementos de autobiografia e que ele queria que fosse enviada às rádios.
Na letra da música, Renato fala sobre como se sentia ao conviver com a doença, em uma época em que eram poucas as chances de sobreviver. Ele traz uma forte melancolia, dor e revolta pelo que estava vivendo (ele e mais diversas pessoas ao redor do mundo).
“Quando tudo está perdido
Sempre existe um caminho
Quando tudo está perdido
Sempre existe uma luz
Mas não me diga isso
Hoje a tristeza não é passageira
Hoje fiquei com febre a tarde inteira
E quando chegar a noite
Cada estrela parecerá uma lágrima”
2 – O Gosto do Azedo
Outra música sobre o tema foi escrita pelo guitarrista e compositor Beto Lee, para a sua mãe Rita Lee interpretar, em seu disco “Acústico MTV”, de 1998: “O Gosto do Azedo”.
A letra trata da dificuldade de socialização de pessoas soropositivas e a canção, inclusive, deu a Beto o Prêmio Sheila Cortopassi, que é uma premiação oferecida pela APTA (Associação para Prevenção e Tratamento da Aids) e concedida a pessoas e instituições que se destacaram em trabalhos ligados à AIDS ao longo do ano.
“Para o sangue, sou o veneno
Eu mato, eu como, eu dreno
Para o resto da vida, sou extremo
Sou o gosto do azedo
A explosão de um torpedo
Contaminação do medo
Eu guardo o seu segredo
Sou o HIV que você não vê
Você não me vê
Mas eu vejo você”
3 – A Cura
Em 1988, o disco “Toda Forma de Amor”, trouxe um dos maiores hits da carreira de Lulu Santos: “A Cura”.
Foi justamente nesta época que o mundo era assolado pela primeira grande epidemia da segunda metade do século XX: a epidemia da AIDS ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.
Ao se deparar com muitos artistas importantes, pessoas que ele admirava e até amigos próximos serem levados pela AIDS, Lulu escreveu “A Cura”: como uma forma de esperança de que se descobrisse logo uma cura para a doença.
“Existirá, em todo porto tremulará
A velha bandeira da vida
Acenderá, todo farol iluminará
Uma ponta de esperança
E se virá, será quando menos se esperar
Da onde ninguém imagina
Demolirá toda certeza vã
Não sobrará pedra sobre pedra
Enquanto isso, não nos custa insistir
Na questão do desejo, não deixar se extinguir
Desafiando de vez a noção
Na qual se crê que o inferno é aqui
Existirá
E toda raça então experimentará
Para todo mal, a cura”
https://www.youtube.com/watch?v=u72Vl_POHNw&list=RDu72Vl_POHNw&start_radio=1
Fontes: abiaids.org.br e unaids.org.br



