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5 livros essenciais de Manoel de Barros

O mato-grossense Manoel de Barros é considerado o mais aclamado poeta brasileiro da contemporaneidade.

Nascido em Cuiabá, no Mato Grosso, em 19 de dezembro de 1916, até os 17 anos o poeta viveu entre a casa da família e um internato, onde iniciou os estudos. 

Sua vida acadêmica se passou na cidade do Rio de Janeiro, onde ele ficou até se formar bacharel em Direito, em 1941. Viveu também em Nova Iorque, Paris, Itália e Portugal. ​ 

Em 1935, Manoel de Barros filiou-se ao Partido Comunista, do qual se desligou em 1945, após a aliança de Luís Carlos Prestes com o poder. Participou de atividades clandestinas na Juventude Comunista e teve o manuscrito de seu primeiro livro, “Nossa Senhora da Minha Escuridão”, apreendido pela polícia de Getúlio Vargas.

Em 1937, publicou seu primeiro livro de poesia, “Poemas Concebidos sem Pecado”.

Pertencente à geração de 45, onde despontaram os grandes poetas brasileiros da metade do século XX, Manoel de Barros construiu uma linguagem inovadora, cheia de neologismos e, ao mesmo tempo, remetendo a língua portuguesa às suas raízes mais profundas. ​ 

A profunda correlação da sua fala poética com as imagens visuais, vem da leitura que Manoel de Barros fazia do escritor e orador português da Companhia de Jesus, Padre Antonio Vieira: Eu aprendera em Vieira que as imagens pintadas com palavras eram para se ver de ouvir”, dizia o poeta.

Jorge La Rossa, escritor espanhol e tradutor da obra de Manoel de Barros, fala com propriedade de sua criação poética:  “A obra de Barros é inexplicável como o milagre, como qualquer obra de arte quando é genuína. É um poeta por necessidade, por dom …  Do estado de ruína do mundo, à inevitável fragmentação do sujeito, sua obra reflete o desmoronamento de uma cultura e de uma forma de humanidade.  Seu universo pantaneiro aparece poeticamente filtrado por pontos de vista humanos, animais, vegetais e minerais altamente elaborados: um mundo intocado e profundamente humanizado, um mundo poético, encantado”. ​ 

O poeta brasileiro Manoel de Barros | Foto: Reprodução

Manoel de Barros criava uma relação única com a linguagem e o mundo. “Uma linguagem que desobedece, a seu modo, e que tem um mundo concreto que brinca a seu modo”, como diz o site oficial dedicado à vida e à obra do poeta. 

O que escrevo resulta de meus armazenamentos ancestrais e de meus envolvimentos com a vida. Sou filho e neto de bugres, andarejos e portugueses melancólicos. Minha infância levei com árvores e bichos do chão. Penso que a leitura e a frequentação das artes desabrocha a imaginação para um mundo mais puro. Acho que uma inocência infantil nas palavras é salutar diante do mundo tão tecnocrata e impuro. Acho mais pura a palavra do poeta que é sempre inocente e pobre”. Manoel de Barros.

Em 1998, recebeu o Prêmio Nacional de Literatura, do Ministério da Cultura, pelo conjunto de sua obra.

Enquanto ainda escrevia, Carlos Drummond de Andrade recusou a alcunha de maior poeta vivo do Brasil, para dedicar o posto a Manoel de Barros.

Os poemas de Manoel de Barros – ele mesmo disse mais de uma vez – não são para ninguém entender. São para a gente esfregar nos olhos, espreguiçar e acordar mais feliz.

Manoel de Barros publicou seu último poema, “A Turma”, em 2011, poucos anos depois de falecer, em 2014, aos 97 anos.

Hoje, vamos te apresentar quatro livros essenciais para conhecer Manoel de Barros.

1 – Livro sobre Nada (1996)

Obra mais conhecida e um dos trabalhos mais importantes de Manoel de Barros, o “Livro sobre Nada”, publicado em 1996, é uma poesia vibrante que desacata as normas e convenções sociais.

O título veio da frase dita pelo escritor francês conhecido como o fundador do realismo e do romance moderno, Gustave Flaubert: “Sempre desejei escrever um livro sobre nada”. Dividido em quatro partes, o livro traz poemas curtos em que desconstrói a linguagem para reorganizar um mundo singular, em que expressa de forma contundente sua adesão a tudo que não tem importância, é solitário ou vazio. 

O livro tem a proposta de desconstruir a poesia, apresentando elementos que trazem outro olhar para o fazer poético. Sempre focando nos elementos mais singelos, nas sutilezas do cotidiano e da natureza, Manoel de Barros constrói uma obra essencial para todos que queiram entender o que é poesia. Como o poeta mesmo explica ao leitor: “O ‘nada’ do meu livro é nada mesmo”.

2 – O Guardador de Águas (1989)

Vencedor do Prêmio Jabuti de Literatura de 1990, na categoria “Poesia”, o livro “O Guardador de Águas” é uma síntese primorosa do universo simbólico de Manoel de Barros, contendo toda a exuberância da natureza do Pantanal (e subvertendo-a também!). 

Neste livro, Manoel de Barros duplica-se e cede a palavra a outro personagem, o Bernardo da Mata. Bernardo trabalhava em sua fazenda e foi seu amigo de uma vida inteira. Em vários poemas, é ele quem apresenta a fala primal da natureza que tanto caracteriza o poeta. 

“O Guardador de Águas”  é feito de frases em mutação, que juntam as águas, o mato e os pequenos seres da mata. Mas não se deixem enganar: Manoel é muito maior que um “poeta pantaneiro”, expressão tantas vezes utilizada para defini-lo. É ele quem diz: “Não tenho em mente trazer contribuição para o acervo folclórico do Pantanal. Meu negócio é descascar as palavras, se possível, até a mais lírica semente delas”.

3 –  O Fazedor de Amanhecer (2001)

Vencedor do Prêmio Jabuti de Literatura de 2002, nas categorias “Livro de Ficção” e “Infantil ou Juvenil”, “O Fazedor de Amanhecer” é uma coletânea de poemas para pequenos e grandes leitores, com reflexões, personagens encantadores e as invenções da sua imaginação. 

Manoel de Barros nos conduz a uma viagem à sua imaginação e às imagens que a permeiam, como sons e silêncios, luz e escuridão, amanhecer e anoitecer, a infância, o ambiente bucólico, entre tantas outras temáticas pelas quais o poeta é tão reconhecido em sua poesia para leitores de todas as idades. São poemas que brincam com as palavras e inventam narrativas, personagens e traquinagens.

Em sua edição original, o livro foi ilustrado por outro gênio da nossa cultura: Ziraldo, o poeta da cor e da forma.

4 – Gramática Expositiva do Chão (1966)

Considerada uma das obras primas de Manoel de Barros, “Gramática Expositiva do Chão” foi publicado em 1969 e é o quinto livro do poeta, instaurando o estilo narrativo com o qual ainda hoje o identificamos.

Escrito ora em verso, ora em prosa poética, o livro evoca impressionantes imagens que desafiam o pensamento utilitário e a racionalidade do mundo moderno. Aqui, a natureza e as coisas ínfimas que compõem a poesia de Manoel de Barros se mesclam à crítica social. 

Como se não encontrasse um lugar no mundo, o poeta busca se reintegrar a tudo o que não está impregnado de civilização. Logo no título do livro, Manoel une dois elementos aparentemente díspares – a gramática e o chão – em uma pista de como subverte a formalidade da língua, alterando seu significado e uso. 

De suas singulares combinações estilísticas, surgem os versos que falam mais com o sentimento do que com a razão. Essa percepção de que há importância nas coisas consideradas insignificantes dá unidade a sua escrita, que vem atravessando os anos e gerações de leitores sem perder o vigor e a atualidade. O livro recebeu importantes premiações, como o Prêmio Nacional de Poesia e o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal, chamando a atenção de intelectuais e críticos para a obra do poeta.

5 – Livro das Ignorãças (1993)

Divulgação.

Outro livro considerado uma das obras primas de Manoel de Barros, o “Livro das Ignorãças” revela uma sofisticada e expressiva arte poética. Nele, a erudição se faz presente para poetizar a fala do que é marginal ou fronteiriço à civilização, a começar pela própria natureza e a população de pequenos animais do ar, das águas, de alagadiços e umidades. 

Desaprender para retornar ao estado da ignorância, procurando dentro de si a disponibilidade necessária para observar e apreender novamente o mundo, é uma das lições do poeta. Dividido em três partes, “O livro das Ignorãças” rompe com as regras da gramática e da linguagem, inaugurando uma forma sofisticada e singular de fazer poesia.

Em contraste com a “educação pela pedra” deJoão Cabral de Melo Netoou com a “pedra no meio do caminho” de Carlos Drummond de Andrade, Manoel constrói um novo lugar para sua poesia ao propor uma deseducação pelo musgo, pelo caramujo, pelo sapo. Uma deseducação pela prática metódica de sensações e estímulos. 

Seu universo poético, como os riachos do Pantanal, ramifica-se ao infinito, mas é dotado de forte consistência semântica, estética e ética. Alcança a “não função” da palavra ao fazê-la “delirar”, “voar fora da asa”. 

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