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5 vezes em que Clarice Lispector abrilhantou a MPB

Hoje, 10 de dezembro, seria aniversário de um dos maiores nomes da história da literatura brasileira: a escritora Clarice Lispector.

Com uma obra importantíssima para a nossa cultura, em livros importantes como “A Hora da Estrela” e “Água Viva”, a autora também já abrilhantou a MPB, você sabia? Hoje, nós vamos te contar mais sobre isso! 

Quem foi Clarice Lispector?

Clarice Lispector fez parte da Terceira Geração Modernista ou Geração de 45 – época de renovação das formas de expressão literária na prosa e, principalmente nos gêneros conto e romance. Em busca de uma linguagem especial para expressar paixões e estado da alma, a escritora utilizou recursos técnicos modernos como a análise psicológica e o monólogo interior. 

As histórias de Clarice raramente têm um começo, meio e fim. Sua ficção transcende o tempo e o espaço, e os personagens, postos em situações limite, são com frequência femininas e quase sempre situadas em centros urbanos. 

Nascida Haia Lispector, em 10 de dezembro de 1920, em Tchetchelnik, aldeia da Ucrânia, em uma família judia. Seu nascimento ocorreu durante a viagem de emigração da família para o Brasil, que deixava a Ucrânia três anos após a Revolução Bolchevique de 1917.

Em março de 1922, a família chegou em Maceió, capital do estado de Alagoas. No país, adotaram novos nomes e Haia – que significa vida ou clara –, passou a ser chamada de Clarice.

Em 1925, mudaram-se para Pernambuco, no bairro da Boa Vista, em Recife, habitado pela comunidade judaica, onde já residiam tios e primos do lado materno de Clarice.

Lá, elaaprendeu a ler aos sete anos e – em 1930 – após assistir a uma peça no tradicional teatro Santa Isabel, Clarice escreveu “Pobre Menina Rica”, obra em três atos, cujos originais escondeu e acabou perdendo. 

Foi com 13 anos que Clarice decidiu tornar-se escritora: “Quando tomei posse da vontade de escrever, vi-me de repente num vácuo. E nesse vácuo não havia quem pudesse me ajudar”.

Em 1935, a escritora mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Em 1939, Clarice começou o curso superior na Faculdade Nacional de Direito e, no ano seguinte, publicou o conto “Triunfo”. A narrativa traz temas que serão recorrentes em sua obra: as dificuldades do relacionamento amoroso relatadas a partir das sensações de uma mulher que, em sua solidão, descobre a força interior.

Em 1940, Clarice Lispector começou a sua carreira no jornalismo e trabalhou como redatora e repórter da Agência Nacional.

Clarice Lispector | Imagem: Reprodução

Obras de Clarice Lispector

Em 1943, aos 22 anos, a escritora publicou seu primeiro romance, o premiado “Perto do Coração Selvagem”, que retrata uma visão interiorizada do mundo da adolescência, abrindo uma nova tendência na literatura brasileira. 

O livro – que ganhou o Prêmio Graça Aranha – recebeu atenção apaixonada da crítica, dada a singularidade de sua escrita, pois sua narrativa quebra a sequência de começo, meio e fim, assim como a ordem cronológica, e funde a prosa à poesia. 

Em 1946, morando em Berna, Suíça (a escritora morou em diferentes países por conta do trabalho de seu marido, diplomata e seu colega de turma na faculdade) publicou seu segundo livro: “O Lustre”, em que se reconhecem características já anunciadas no  primeiro romance de Clarice: enredo sem estrutura definida e fluxo de consciência, que valoriza as sensações e a percepção das coisas. 

O livro introduz uma poética feminina trágica: prevê a “vida terrível” de personagens vocacionados ao isolamento, ao conflito e à falta de afeto. 

Depois, Clarice Lispector dedicou-se também a escrever contos, como “Mistério em São Cristóvão” e “Os Laços de Família”, de 1948, em que aparecem – pela primeira vez – personagens tomados por um estado de graça diante de fatos aparentemente banais da vida cotidiana, o que seria uma marca da autora.

A escritora brasileira Clarice Lispector | Imagem: Reprodução

Em 1949, Clarice Lispector publicou “A Cidade Sitiada”, segundo ela, um dos seus livros menos gostados, mas que teria preenchido os dias de tédio na cidade suíça.

Em 1952, morando em Washington, nos Estados Unidos, publicou o livro “Alguns Contos” e retomou as notas, iniciadas na Inglaterra, para o que seria seu quarto romance: ”A Maçã no Escuro”. 

Em 1959 – ano em que separou-se do marido e retornou definitivamente ao Brasil com os filhos, instalando-se no Rio de Janeiro – a escritora passou a publicar contos na revista “Senhor” 

Iniciou também uma coluna no jornal Correio da Manhã, intitulada “Correio feminino – Feira de utilidades”, sob o pseudônimo de Helen Palmer, etrabalhou no Diário da Noite, com a coluna “Só Para Mulheres”.

Já em 1960, Clarice Lispector lançou o livro de contos “Laços de Família”, reunindo um total de 13 contos, alguns dos quais escritos e publicados anteriormente na imprensa e no formato de coletânea, garantindo à escritora o Prêmio Jabuti de Literatura, no ano de 1961. 

Em 1961, depois de muitos anos de espera, finalmente lançou o romance “A Maçã no Escuro”, que – ao lado de “A Paixão Segundo G.H.” (de 1964) – marca um ponto de culminância em sua obra, por enfrentar a experiência do limite da maneira mais radical.  

Em 1963, a escritora fez uma conferência sobre o tema “Literatura de vanguarda no Brasil”, no XI Congresso Bienal do Instituto Internacional de Literatura Ibero-Americana, na Universidade do Texas, nos Estados Unidos. 

“Acho que existe uma vanguarda forçada, isto é, o autor se determina a ser ‘original’ e vanguardista. O que para mim não vale. Só me alegra muito a originalidade que venha de dentro para fora e não o contrário”, afirma no livro “Clarice Lispector – Esboço para um possível retrato”, de Olga Borelli.

Em 1964, depois de sete anos sem lançar um livro, Clarice lançou “A Paixão Segundo G.H” – para muitos, a sua obra mais importante -e o conjunto de contos “A Legião Estrangeira”. As duas obras juntas são inspiração para a peça “Perto do Coração Selvagem” (além do próprio romance que dá nome à peça), dirigida por Fauzi Arap.

Acidente e produção dos últimos anos

Em 1966, Clarice Lispector adormeceu com um cigarro aceso, provocando um incêndio em sua casa. A escritora sofreu graves queimaduras no corpo, correndo risco de morte e passou dois meses hospitalizada, saindo com sequelas, principalmente na mão direita.  As cicatrizes profundas na perna e na mão direitas a levaram a forte depressão, e a escritora passou a viver isolada, sempre escrevendo.

Apesar do estado de espírito abalado, ela publicou seu primeiro livro para crianças, “O Mistério do Coelho Pensante”, seu primeiro de vários livros infantis, que lhe garantiu o prêmio de melhor livro infantil do ano com a Ordem do Calunga, instituída pela Campanha Nacional da Criança.

No ano seguinte, Clarice publicou crônicas no Jornal do Brasil e passou a integrar o Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Livro.  Como cronista, alcançou grande popularidade.

Em 1968, a autora passou a colaborar na revista Manchete, na seção “Diálogos possíveis com Clarice Lispector”, em que entrevista personalidades do mundo político e artístico. No mesmo ano, lançou seu segundo livro infantil: “A Mulher que Matou os Peixes”.

Em 1969, foi a vez de “Uma Aprendizagem” ou “O Livro dos Prazeres”, romance que ganhou o prêmio Golfinho de Ouro, do Museu da Imagem e do Som do Rio de  Janeiro.

E, em 1971, de “Felicidade Clandestina”, reunião de contos publicados anteriormente na imprensa, incluindo um conjunto de escritos em que rememora a infância no Recife.

Em 1973, Clarice Lispector publicou outra de suas obras mais importantes: “Água Viva”, depois de três anos de elaboração. Híbrido, sem enredo convencional, não é romance, poesia, diário, ensaio filosófico, mas tem fragmentos de cada um desses gêneros.

Numa narrativa fluida, ideias e imagens se fundem e a busca de conexão direta entre corpo, pensamento e linguagem, fazendo com que ela se expresse como quem pinta ou interpreta uma música fora do padrão realista de representação. 

Em 1974, a escritora lançou a coletânea de contos “Onde Estivestes de Noite” e “A Via Crucis do Corpo“, livro pouco aceito pela própria autora.

No mesmo ano, publicou outro livro infantil:” A Vida Íntima de Laura”, e – em 1975 – como passatempo, Clarice dedica-se à pintura. No total, produziu 18 quadros em técnica mista, que buscam – tanto como na escrita – fugir do figurativo rumo à abstração.Em 1976, pelo conjunto de sua obra, a escritora ganhou o primeiro prêmio do X Concurso Literário Nacional de Brasília

Em 1977, concedeu entrevista a Júlio Lerner, para o “Panorama Especial”, da TV Cultura. No vídeo, se diz triste e cansada. O programa é seu único registro audiovisual e só seria transmitido postumamente, tornando-se um clássico.

Trecho de entrevista antológica de Clarice Lispector | Imagem: Reprodução

Também em 1977, Clarice Lispector trabalhou no livro infantil “Quase de Verdade” e, por encomenda da fábrica de brinquedos Estrela, produziu outras 12 histórias infantis, reunidas sob o título “Como Nasceram as Estrelas”.

Ainda no mesmo ano, a escritora lançou “A Hora da Estrela”, sua última obra publicada em vida, na qual conta a história de Macabéa – migrante nordestina, pobre, em luta pela sobrevivência na cidade grande – em que desmascara a crueldade humana e a brutal desigualdade social no Brasil  

A versão cinematográfica desse romance, dirigida por Suzana Amaral, em 1985, conquistou os maiores prêmios do festival de cinema de Brasília e deu à atriz Marcélia Cartaxo, que fez o papel principal, o troféu Urso de Prata, em Berlim, em 1986. 

Ainda em 1977, Clarice Lispector tomou notas para um novo romance intitulado “Um Sopro de Vida”. Mas, infelizmente, a escritora faleceu antes de publicar o livro, um dia antes de completar 57 anos de idade, por conta de um adenocarcinoma de ovário irreversível. “Um Sopro de Vida” foi publicado postumamente, em 1978.

A escritora viveu quase duas décadas fora do Brasil e escreveu muitas cartas aos amigos, e com olhar cosmopolita ela fala sobre os absurdos do cotidiano, as agruras da condição humana e as banalidades da vida. Suas cartas foram reunidas na obra “Todas as Cartas”, publicada em 2020. 

Clarice Lispector é amplamente traduzida e divulgada no mundo todo, o que faz com que seja colocada pela crítica ao lado de autores internacionalmente reconhecidos, como Virginia Woolf, Kafka e Katherine Mansfield.

Fonte:https://site.claricelispector.ims.com.br/

Clarice Lispector na MPB

Também na música popular brasileira Clarice Lispector é muito admirada e respeitada. Ela ganhou um lugar muito especial na obra de alguns dos maiores nomes da nossa MPB. Hoje, vamos conhecer cinco dessas músicas.

1 – Álbum “Rosa dos Ventos” – Maria Bethânia

Em 1971, a cantora baiana Maria Bethânia estreou um show com direção de Fauzi Arap, chamado “Rosa dos Ventos”. O espetáculo, que virou um álbum ao vivo, conta com alguns textos declamados por Bethânia entre as canções. Entre eles, um texto inédito de Clarice Lispector, nomeado como “Texto nº 4″, que entra antes da música “Não Identificado”, de Caetano Veloso

2 – Que o Deus Venha

“Eu queria anunciar aqui o seguinte: a pessoa que eu mais amo na minha vida chama-se Clarice Lispector”. Essa afirmação foi feita por Cazuza, durante sua participação em um show deAngela Ro Ro no Morro da Urca, no Rio de Janeiro, em 1988.

Logo em seguida, o artista disse à plateia que queria cantar uma “poesia” de Clarice que ele havia musicado. A tal poesia era, na verdade, um trecho do livro “Água Viva”, de 1973, devidamente adaptado para se tornar letra da canção “Que o Deus Venha”, em parceria com seu amigo e parceiro constante, Frejat.

A canção entrou para o álbum “Declare Guerra”, doBarão Vermelho, em 1986 e, depois, foi regravada por Cássia Eller, no álbum que leva o seu nome, de 1990.

3 – Batendo no Mundo

Ava Rochae Pedro Paulo Rocha compuseram uma música que conta com uma das frases mais famosas de Clarice Lispector, que torna-se parceira dos dois na canção: “Batendo no Mundo”, que entrou no álbum “Diurno”, de 2011, lançado pela banda AVA, formada por Ava Rocha (voz), Daniel Castanheira (percussão), Emiliano Sette (violão) e Nana Carneiro (violoncelo).

4 – A Hora da Estrela

A cantora e compositora Fernanda Takai, que também é escritora, sempre admirou Clarice Lispector. Seu companheiro de banda Pato Fu e de vida, John Ulhôa, compôs a canção “A Hora da Estrela” inspirada em uma das mais famosas obras de Clarice, que leva o mesmo nome.

Na música – lançada em 2007, no disco do Pato Fu,Daqui Pro Futuro” – assume-se a perspectiva da protagonista do livro, Macabéa, que se mantém de fato alienada em relação a seu destino e que está pronta para mudar sua vida para sempre.

5 – O Canto de Macabéa ou a Hora da Estrela

Aqui não é apenas uma canção, mas sim um disco completo! O álbum “O Canto de Macabéa ou a Hora da Estrela” – deChico Césare Laila Garin, lançado em 2022 – conta com umrepertório é formado por 16 das 32 músicas da trilha sonora composta por Chico César para o espetáculo “A Hora da Estrela – O Canto de Macabéa”, musical protagonizado por Laila em 2020 e baseado no livro “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector.

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