80 anos de Cassiano: 12 sucessos inesquecíveis

Se não tivesse nos deixado aos 77 anos, em maio de 2021, o cantor, compositor e instrumentista Cassiano completaria 80 anos hoje. 

O autor de sucessos como Primavera, Coleção e A Lua E Eu é mais um gênio incompreendido da nossa história. Cassiano foi um artista que não obteve o reconhecimento merecido por sua contribuição para a música popular brasileira, apesar de tê-la transformado para sempre. 

O artista foi ao lado de Tim Maia e Hyldon – precursor no estabelecimento de uma cena de black music – influenciada pelo funk e o soul estadunidenses – na música popular brasileira. Cassiano, Tim e Hyldon influenciaram uma geração de músicos como Sandra Sá, Ed Motta, Claudio Zoli e tantos outros.

Hoje, no dia em que ele completaria oito décadas de vida, preparamos uma matéria especial para homenagear este gigante da nossa MPB, da forma que ele sempre mereceu.

Cassiano foi um dos precusores da cena black music brasileira |Foto: Reprodução

Quem foi Cassiano?

Genival Cassiano dos Santos nasceu em Campina Grande, na Paraíba, em 16 de setembro de 1943, mas viveu pouco tempo no estado, mudando com a família para o Rio de Janeiro no fim da década de 1940. Uma das poucas lembranças que tinha do tempo na Paraíba era a amizade de seu pai com Jackson do Pandeiro.

No Rio, Cassiano passou a trabalhar como assistente de pedreiro e foi nessa época que aprendeu com o pai os primeiros acordes de bandolim e violão.

Bossa Trio e Os Diagonais

Iniciou a carreira musical em 1964, como violonista do Bossa Trio, grupo que surgiu rastro da proliferação dos conjuntos de samba jazz vinculados à Bossa Nova, mas com uma marcada influência do jazz e do, até então, incipiente soul dos Estados Unidos.

Apesar da curta duração, o Bossa Trio gravou dois LPs e uma série de compactos. Após essa experiência, Cassiano, o irmão Camarão e o amigo Amaro fundaram o grupo Os Diagonais, grupo notadamente influenciado pela soul music estadunidense.

Embora tenha participado apenas do primeiro dos dois álbuns da banda, Os Diagonais, lançado em 1969, o trabalho musical de Cassiano no grupo chamou a atenção de outros artistas da cena brasileira.

Entre eles, Tim Maia, que, depois de um período nos Estados Unidos, descobriu no compositor paraibano um outro entusiasta da obra de artistas como:

  • Marvin Gaye;
  • Otis Redding;
  • James Brown;
  • e Stevie Wonder.

A parceria de Cassiano com Tim Maia

Foi então que Tim Maia convidou o músico a participar do seu álbum de estreia, tanto como guitarrista quanto como compositor. Cassiano assinou quatro das doze faixas do LP Tim Maia, de 1970:

  • Você Fingiu;
  • Padre Cícero (híbrido de funk e baião, em parceria com Tim);
  • Eu Amo Você;
  • e Primavera (Vai Chuva) (ambas baladas soul em parceria com Sílvio Rochael). 

Todas essas canções – principalmente as duas últimas, inéditas – tornaram-se grandes sucessos nas rádios brasileiras e são um sucesso até os dias atuais, tendo sido regravadas por diversos artistas.

Primavera foi regravada por nomes como:

  • Nana Caymmi;
  • Edson Cordeiro;
  • Cauby Peixoto;
  • Pato Fu;
  • e Criolo.

E Eu Amo Você por artistas como:

  • Léo Jaime;
  • Banda Eva;
  • Sandra Sá;
  • além do próprio Cassiano.

Carreira solo

A boa repercussão comercial do disco de estreia de Tim Maia possibilitou a oportunidade de Cassiano gravar o seu primeiro álbum solo, Imagem e Som, lançado em 1971 pela RCA. Estão neste disco a versão do autor para Primavera (Vai Chuva) e duas outras parcerias com Tim:

  • Tenho Dito;
  • e Ela Mandou Esperar

Embora tenha ganhado reconhecimento tardio – como uma sofisticada mistura de bossa, samba, soul e funk-  o álbum não teve uma grande repercussão na época do lançamento. 

Em 1973, Cassiano lançou o seu segundo disco, Apresentamos Nosso Cassiano, no qual interpretou dez composições de sua autoria, entre elas:

  • Cedo ou Tarde (em parceria com Suzana);
  • Me Chame Atenção (composta com Renato Britto);
  • e Castiçal

Embora algumas canções tivessem recebido um toque ainda mais pop em relação ao primeiro álbum, o disco tinha características experimentais que ecoavam rock progressivo em algumas faixas, trabalho que não recebeu grande aceitação comercial e nas rádios brasileiras.

Grandes hits de Cassiano

Foi então que, em 1975, Cassiano finalmente obteve êxito comercial no Brasil, com os singles que tornaram-se grandes hits da nossa música, regravados mais tarde por outros grandes nomes da MPB: A Lua e Eu e Coleção (ambas compostas em parceria com Paulo Zdanowski). 

O sucesso dessas duas canções foi ainda mais impulsionado com a inclusão de ambas nas trilhas sonoras das telenovelas O Grito (1975, A Lua e Eu) e Locomotivas (1977, Coleção), ambas da Rede Globo.

Coleção foi mais tarde regravada por nomes como:

  • Ivete Sangalo;
  • Emílio Santiago;
  • Mart’nália;
  • e Maurício Manieri;

E A Lua e Eu teve regravações de:

  • Cláudio Zoli;
  • Leo Jaime;
  • Emílio Santiago;
  • e Nana Caymmi

Com essas duas músicas no repertório, o álbum Cuban Soul: 18 Kilates, lançado por Cassiano em 1976, se tornou o disco referência de seu trabalho de imenso sucesso comercial. 

Misturando R&B e soul music à música brasileira, com harmonias ricas e timbre vocal inconfundível, ele apresentou esse que é um dos mais importantes discos da música nacional. Mas mesmo assim, sua relação com as gravadoras não acontecia de forma favorável para a sua carreira.

Racismo e a relação com as gravadoras 

Isso porque a lógica muitas vezes perversa da indústria da música historicamente cala vozes que se rebelam contra os padrões mercadológicos e não têm vocação para seguir os códigos sociais que regulam o mercado fonográfico, mesmo com sua refinada musicalidade.

Cassiano sempre enfrentou problemas com executivos de gravadoras porque a indústria fonográfica do Brasil sempre pressionou cantores e compositores de funk e soul para embranquecer e adocicar, com o padrão então vigente, uma música negra pela própria natureza. 

O artista jamais aceitou o jogo dessa indústria. Mais uma vez, o racismo ditando as regras de uma sociedade  estruturalmente mergulhada no preconceito até os dias atuais.

Além disso, como escreveu o pesquisador cultural Jairo Malta para uma matéria da Folha de São Paulo:

“Negro ser romântico era novidade naqueles anos 1970. Roberto Carlos, Ronnie Von e Jerry Adriani eram românticos mais atraentes para a cena musical da época do que Cassiano, Tim Maia e Hyldon.

Quando os negros falavam de amor, eles iam além do romance. Vai ver por isso que uma das edições do jornal do Movimento Negro Unificado, o MNU, criado em 1970, trazia a frase ‘beije sua preta em praça pública’. O negro romântico existia, e Cassiano era um deles.”

Em 1978, a gravadora CBS desistiu de lançar um quarto álbum de Cassiano, por considerá-lo um produto sem retorno financeiro garantido. O descaso do Brasil com a obra que construiu com sofisticação singular desde a década de 1960 levou Cassiano a sentir uma grande mágoa e revolta.

Recluso por 30 anos

Nessa mesma época, os problemas de saúde começaram a atrapalhar a carreira do artista: forçado a retirar parte do pulmão por conta de um grave problema respiratório, Cassiano só pôde retomar a carreira, em ritmo bem mais comedido, em 1984.

Um novo trabalho, que também seria seu último LP de estúdio em vida, foi lançado em 1991. O disco foi chamado de Cedo ou Tarde e contava com as participações de Sandra de Sá, Ed Motta e Claudio Zoli — três artistas nitidamente influenciados por ele — além de Djavan, Luiz Melodia e Marisa Monte.

Além de sucessos antigos regravados, constam também uma ou outra composição inédita, como Rio Best-seller.

Entretanto, sem o controle da direção musical do disco – que ficou por conta de Líber GadelhaCassiano ficou extremamente insatisfeito com o resultado final do álbum, e – a partir de então – resolveu nunca mais gravar um disco, tendo permanecido recluso ao longo de suas últimas três décadas de vida, em um apartamento na zona sul do Rio de Janeiro.

Consta que o artista nunca parou de fazer música, mas quis esconder essa música do Brasil, que o relegou a um amargo e injusto ostracismo nessas três décadas, momentaneamente quebrado pela mídia em 2000, ano em que o discípulo Ed Motta apresentou a compilação Coleção, com 14 preciosidades tiradas dos três álbuns lançados por Cassiano entre 1971 e 1976. 

Cassiano eterno

Em 2021, os problemas pulmonares de Cassiano agravaram-se. Depois de algumas semanas internado e com o coração sobrecarregado pelo tratamento da doença pulmonar, o compositor acabou sofrendo de uma arritmia cardíaca, e faleceu aos 77 anos,  em 7 de maio desse mesmo ano, silenciando de vez uma voz já silenciada há tantos anos. 

Mas para nós, Cassiano e sua contribuição para a música popular brasileira são eternas.

Trazendo mais um trecho sobre a matéria escrita por Jairo Malta para a Folha de São Paulo:

“Na periferia, sua voz sempre estará em nosso inconsciente, seja na abertura de um show dos Racionais MCs com a música Onda ou em uma roda de samba do Pagode da 27. Sofrer por amor e manter a cara de mau é uma das coisas que aprendemos com Cassiano.”.

12 sucessos inesquecíveis de Cassiano

Preparamos uma playlist com 12 sucessos inesquecíveis desse grande artista. Viva, Cassiano!

1- Eu Amo Você (em parceria de Cassiano com Sílvio Rochael)

 

2- Primavera (Vai Chuva) (em parceria com Sílvio Rochael)

 

3- Tenho Dito (em parceria com Tim Maia)

4- Ela Mandou Esperar (em parceria com Tim Maia)

 

5- Cedo ou Tarde (em parceria com Suzana)

 

6- Me Chame Atenção (composta com Renato Britto)

7- Castiçal

 

8- A Lua e Eu (em parceria com Paulo Zdanowski)

9- Coleção(em parceria com Paulo Zdanowski)

 

10- Onda (em parceria com Paulo Zdanowski)

 

11- Rio Best-seller

 

12- Padre Cícero (em parceria com Tim Maia)

Por: Lívia Nolla

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