Milton Nascimento é um dos maiores artistas do mundo e uma das maiores vozes da MPB. Dia 26 de outubro, Bituca completou 81 anos de vida. Para homenageá-lo, preparamos matérias especiais sobre sua vida e obra, dividida em três capítulos. Nesta matéria, confira a contribuição de Milton Nascimento para história mundial da música além da última turnê.
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Milton Nascimento
Grande compositor, excelente cantor, importante intérprete e multi-instrumentista, Milton é reconhecido mundialmente como um dos mais influentes e talentosos artistas de todos os tempos.
Vencedor de três Grammy Latinos e um Grammy Award, suas canções já foram regravadas por quase todos os maiores nomes da MPB, como Elis Regina, Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque, além de grandes nomes internacionais como Sarah Vaughan, Peter Gabriel e Bjork. Milton Nascimento influencia e é inspiração para uma geração de artistas da música brasileira.
Considerado pela revista Rolling Stone Brasil como a 10ª maior voz brasileira de todos os tempos e o 20º maior artista brasileiro de todos os tempos, Milton já se apresentou pelo mundo todo, em países da América do Sul e do Norte, da Ásia, África e Europa.
Milton Nascimento: fazendo história na música mundial
Em 1983, Bituca lançou o disco Milton Nascimento Ao Vivo, com a participação de uma orquestra de mais de 30 músicos. Entres as canções, os grandes clássicos:
- Coração de Estudante (parceria com Wagner Tiso);
- A Noite do Meu Bem (de Dolores Duran);
- Caxangá (parceria com Brant);
- e Solar (parceria com Brant, com participação de Gal Costa), além de outros sucessos já consagrados do artista.
Em 1984, Milton estreou com sucesso no Carnegie Hall, em Nova York – dois dias antes de Frank Sinatra – e fez o show de inauguração da Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, com um público de mais de 80.000 pessoas.
Em 1985, lançou o disco Encontros e Despedidas, com o super sucesso da faixa título (parceria com Fernando Brant, que – anos mais tarde – estourou na voz de Maria Rita), além da clássica Vidro e Corte.
Em 1986, lançou o álbum A Barca dos Amantes, gravado ao vivo com Wayne Shorter, e que conta – entre outros – com os clássicos:
- Amor de Índio (Beto Guedes e Ronaldo Bastos);
- Nuvem Cigana (Lô Borges e Ronaldo Bastos);
- e Lágrima do Sul (parceria com Marco Antônio Guimarães, que reforça a luta contra o racismo no mundo todo).
No mesmo ano, Milton Nascimento deu continuidade à parceria com Mercedes Sosa e Leon Gieco, gravando – também ao vivo, na Argentina – o disco Corazón Americano, com sucessos dos dois artistas.
Em 1987, lançou o disco Yauaretê, que traz o grande sucesso Canções e Momentos (parceria com Fernando Brant).
No encarte do disco, tem um poema curto na qual Tom Jobim reverencia Milton, comparando-o com uma onça ou jaguar (daí vem o nome do disco Yauaretê, que é uma das formas de chamar o animal) e chamando-o de “meu carioca mineiro”.
1º fã clube de Milton Nascimento em Tokyo
Em 1988, apresentou-se pela primeira vez no Japão. No mesmo ano foi fundado o 1º fã clube de Milton Nascimento em Tokyo, o Fã Clube da Esquina.
Em 1989, o artista lançou o disco Miltons, que traz a canção clássica Bola de Meia, Bola de Gude, parceria com Fernando Brant.
Em 1990, foi a vez do álbum Txai, concebido a partir de uma viagem de mais de 18 dias de barco pelo Rio Juruá, no Estado do Acre, até a divisa com o Peru. O álbum chegou ao primeiro lugar da lista de World Music, da Revista Billboard e foi indicado ao Grammy Award de Melhor Álbum de World Music.
Nessa viagem, Milton se encontrou com diversos povos indígenas, seringueiros e outros habitantes da Floresta e o disco traz canções originais de povos indígenas, além de suas canções em parceria com Fernando Brant – Coisas da Vida – e com Caetano Veloso – A Terceira Margem do Rio.
Em 1991, Bituca lançou o disco ao vivo O Planeta Blue na Estrada do Sol, que traz clássicos da MPB como:
- Beatriz (Edu Lobo e Chico Buarque);
- Um Índio (Caetano Veloso);
- Luar do Sertão (João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense);
- Estrada do Sol (Tom Jobim e Dolores Duran);
- além de Hello Goodbye (de Lennon e McCartney).
Em 1991 e 1992, Milton Nascimento foi – por duas vezes – escolhido como o World Best Artist of the Year pela revista americana DownBeat, dedicada ao jazz.
Em 1993, foi a vez do disco Angelus, que foi indicado ao Grammy Award de Melhor Álbum de World Music e que Milton considera como sendo o Clube da Esquina III e declara que é seu álbum favorito entre as suas composições.
O álbum conta com participações internacionais como Peter Gabriel e James Taylor e, entre as principais canções, está a clássica Clube da Esquina Nº 2, agora com letra, pois a primeira versão – lançada em 1972 – era apenas instrumental. Também traz a canção Qualquer Coisa a Haver Com o Paraíso, parceria com Flávio Venturini.
“Se Deus Tivesse voz, teria a voz de Milton Nascimento” – Elis Regina
Em 1995, Milton gravou no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, o CD Amigo, com vários sucessos de sua carreira e acompanhado da Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo e de dois corais infantis: os Curumins, de Belo Horizonte e os Rouxinóis, de Divinópolis.
O álbum fala sobre amizade e é dedicado a Ayrton Senna, seu grande amigo, que havia partido inesperadamente em 1994.
Em seu site, Milton conta que, durante a turnê deste disco, pensou em parar de cantar, pois não estava bem emocionalmente, não só por conta da perda de pessoas queridas, mas por várias questões pessoais. Mas, graças ao sorriso de uma das crianças do coral, desistiu de abandonar a carreira.
O menino – chamado Mardey, na época com 11 anos – ficou olhando fixamente e sorrindo para Milton Nascimento na hora da música Travessia, enquanto as outras crianças cantavam de costas para o cantor e de frente para o público, como tinha sido ensaiado. O artista conta que é como se o garotinho soubesse pelo que ele estava passando.
Mardey é hoje seu filho adotivo e Milton Nascimento compôs a linda música Rouxinol – lançada em seu próximo álbum – para ele:
“Rouxinol tomou conta do meu viver / Chegou quando procurei / Razão pra poder seguir / Quando a música ia e quase eu fiquei / Quando a vida chorava mais que eu gritei. Rouxinol me ensinou que é só não temer / Cantou / Se hospedou em mim”.
Com esse disco, Bituca viajou pelo mundo durante um ano, acompanhado da orquestra e das crianças do coral.
Tambores de Minas
Em 1997, o artista lançou o disco Nascimento, que traz – além de Rouxinol – outras canções importantes como:
- Louva-Deus e Janela Para o Mundo (parcerias com Brant);
- Guardanapos de Papel (versão de Carlos Sandroni para a canção Biromes y Servilletas, do uruguaio Leo Maslíah);
- E Agora, Rapaz? (de Dinho Caninana);
- Levantados Do Chão (parceria com Chico Buarque);
- e Os Tambores de Minas (parceria com Márcio Borges).
Com esse disco, Milton ganhou o Grammy Award de Melhor Álbum de World Music, sendo um dos poucos brasileiros a conquistar este prêmio, um dos mais importantes da música mundial.
Também com origem nesse trabalho, inicia a turnê Tambores de Minas – por todo o Brasil – que, no ano seguinte, virou CD e DVD ao vivo.
Milton também dirigiu o show, em que se apresentava acompanhado de vários percussionistas bailarinos, que davam um show à parte, de forma bastante teatral, com figurinos e um cenário incrível, de Gabriel Villela, que também dirigiu o espetáculo.
O show é um renascimento do próprio cantor, que tinha passado por um grave problema de saúde devido às diabetes. Milton Nascimento iniciava o show com um texto fortíssimo de abertura, em off, como uma resposta aos boatos sobre sua condição de saúde e outras especulações da imprensa.
Depois desse texto, surgia a voz de Elis Regina (uma das maiores intérpretes da obra de Milton e sua grande amiga), cantando uma parte de O Que Foi Feito de Vera. Só depois, tínhamos a entrada triunfal de Bituca.
Entre as principais canções, além de vários clássicos de sua carreira já aqui citados, Milton trazia também as músicas:
- Corsário (Aldir Blanc e João Bosco);
- e Redescobrir (Gonzaguinha), apresentada já no fim do show, quando a voz de Elis reaparecia e arrebatava.
Em 1999, Milton lançou o disco Crooner, em que canta várias canções de seu repertório de início da carreira, dos shows com os grupos Luar de Prata e W’s Boys, como:
- Beat It (de Michael Jackson);
- Castigo (de Dolores Duran);
- Frenesi (de Alberto Dominguez);
- e Lamento no Morro (de Tom e Vinicius), além da sua primeira canção gravada em compacto: Barulho de Trem.
Além disso, traz regravações das músicas:
- Certas Coisas (de Lulu Santos);
- Resposta (de Samuel Rosa e Nando Reis);
- e Mais Que Nada (de Jorge Ben Jor).
Com esse disco, Milton viajou pela América Latina e Europa e venceu a categoria Melhor Álbum Pop Contemporâneo na primeira edição do Grammy Latino.
Para sempre, Bituca
Em 2000, Bituca foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Ouro Preto. No mesmo ano, recebeu a medalha de ouro da Sisac, no Chile, junto com o escritor José Saramago e o cineasta Fernando Trueba.
Em 2001, o artista lançou o aclamado disco Gil & Milton, em parceria com Gilberto Gil e também indicado ao Grammy Award de Melhor Álbum de World Music Essas duas potências da nossa música, praticamente patrimônios culturais brasileiros, viajaram pelo mundo com a turnê do álbum e depois pelo Brasil.
Entre as principais canções, além de sucessos já consagrados da carreira de cada um, estão composições dos dois em parceria, como:
- Sebastian;
- Duas Sanfonas;
- Trovoada;
- Dinamarca;
- e Lar Hospitalar.
Também estão no disco as regravações de:
- Something (George Harrison);
- Baião da Garoa (Luiz Gonzaga e Hervé Cordovil);
- e Xica da Silva (Jorge Ben Jor).
A dupla também se apresentou na abertura do Rock in Rio III e passou pelo Festival de Jazz de Montreux.
30 anos do Clube da Esquina
Em 2002, Milton comemorou 30 anos do Clube da Esquina com uma série de shows, criou o selo próprio, Milton Nascimento, e lançou o disco Pietá, dedicado às mulheres da sua vida, principalmente à mãe – Lilia – à Elis Regina e Ângela Maria.
Maria Rita, filha de Elis, participa do disco, nas canções:
- Voa Bicho (de Telo Borges e Márcio Borges);
- Vozes do Vento (de Milton e Kiko Continentino);
- e Tristesse (de Milton e Telo Borges, que ganhou o Grammy Latino de Melhor Canção Brasileira).
A canção título é uma parceria de Milton com Chico Amaral.
Em 2004, Bituca lançou o DVD Ser Minas Tão Gerais, em parceria com o grupo Ponto de Partida e os Meninos de Araçuaí, e levou o show para a França.
Em 2005, a sua canção A Festa, foi um sucesso na voz de Maria Rita, e venceu o Grammy Latino de Melhor Canção Brasileira.
Filho adotivo Augusto
Neste mesmo ano, Milton conheceu, em Juiz de Fora, Augusto – então com 13 anos – e o carinho e amor entre os dois foi tão grande, que Bituca decidiu adotá-lo. Hoje, Augusto também cuida da carreira do pai, que diz que o filho foi o seu maior presente na vida.
Em 2006, Bituca recebeu a medalha de ouro da Academia de Artes, Ciências e Letras da França pelo conjunto de sua obra, e o disco Pietá virou DVD.
Em 2007, Milton fez shows no Chile, Japão, México e na França. Em 2008, lançou o disco Novas Bossas, com o Jobim Trio – formado por Paulo Braga (bateria), Daniel Jobim (piano), Paulo Jobim (violão) e Rodrigo Villa (baixo).
O repertório trouxe novos arranjos para músicas de Tom Jobim, Dorival Caymmi, Vinicius de Moraes e Lô Borges, como:
- Samba do Avião;
- Chega de Saudade;
- O Vento;
- e Brigas Nunca Mais.
Com o show, Milton fez turnê internacional.
No mesmo ano, o artista lançou o disco Milton Nascimento & Belmondo, em parceria com os irmãos Lionel e Stéphane Belmondo, saxofonista e trompetista considerados dois dos melhores músicos franceses contemporâneos. O disco traz sucessos consagrados de sua carreira e também levou Bituca em turnê pelo mundo.
Em 2010, Milton lançou – pela Nascimento Música – o disco E a Gente Sonhando (nome do primeiro disco do qual participou, lá em 1966), com a participação de jovens músicos de Três Pontas. Entre as principais canções estão:
- a faixa título e Sorriso (ambas de Milton);
- Resposta Ao Tempo (de Cristóvão Bastos e Aldir Blanc);
- Adivinha O Quê (de Lulu Santos);
- O Sol (de Antônio Júlio Nastácia, sucesso lançado pelo Jota Quest);
- e Espelho de Nós (de Milton e Brant).
No mesmo ano, com o objetivo de realizar um grande ato à Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada em 10 de dezembro de 1948, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e do Ministério da Cultura organizou um ato com 11 artistas para prestar uma homenagem a Milton Nascimento. Participaram da homenagem:
- Elba Ramalho;
- Elza Soares;
- Lenine;
- Chico Cesar;
- Arnaldo Antunes;
- Fernanda Takai;
- Lô Borges;
- Luiz Melodia;
- Pablo Milanés;
- Margareth Menezes;
- e Sérgio Ricardo.
Em 2011, Bituca participou do Festival de Verão de Salvador ao lado do cantor norte-americano Jason Mraz, fez turnê pelos EUA e se apresentou no Festival de Jazz de Montreal, no Canadá.
No mesmo ano, ele e a Orquestra Sinfônica Brasileira abriram o Rock in Rio 4, e Milton se apresentou com a cantora Esperanza Spalding, no palco Sunset, do mesmo festival.
O última turnê de Milton Nascimento
Em 2012, Milton completou 50 anos de carreira e 40 anos de Clube da Esquina e saiu em turnê pelo Brasil, com o show Uma Travessia, que virou CD duplo e DVD: Milton Nascimento – Uma Travessia 50 Anos de Carreira – Ao Vivo, trazendo os seus maiores sucessos de uma brilhante carreira.
No mesmo ano, recebeu o título de Doutor Honoris Causa, pela Universidade do Estado de Minas Gerais, em reconhecimento à importância da sua obra e trajetória. E também ganhou, no Grammy Latino, o Prêmio Excelência Musical de 2012.
Em 2013, o artista viajou pelo Brasil com a turnê Viva Bituca e também fez várias apresentações pelo Brasil e pelo mundo com a Banda 5. Em 2014, também se apresentou pelo Brasil e pelo mundo e lançou o álbum Tamarear, com o Duda Lima Trio.
Em 2016, Milton Nascimento recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Música pela Berklee College of Music. Em 2017, se apresentou pelo Brasil com a turnê Semente da Terra.
Em 2019, lança o disco Irmão de Fé, com algumas das suas principais canções.
E, em 2022, Milton Nascimento anunciou que faria o que chamou de sua Última Sessão de Música, ou a última turnê de shows de sua carreira, uma temporada de muito sucesso pelo Brasil e exterior.
Você é eterno, Bituca! E sempre estará nos palcos das nossas vidas.
Feliz Aniversário, Bituca!
Por: Lívia Nolla