A história da música “Lanterna dos Afogados”, de Herbert Vianna

Hoje, vamos conhecer a história da música “Lanterna dos Afogados”, um dos maiores sucessos dos Paralamas do Sucesso, composta por Herbert Vianna e lançada no álbum “Big Bang”, em 1989.

A história da música “Lanterna dos Afogados”

A letra de “Lanterna dos Afogados” é inspirada no livro do escritor baiano Jorge Amado, “Jubiabá”, lançado em 1935, que retrata o dia-a-dia de pessoas humildes em Salvador, a partir do ponto de vista de Antonio Balduíno, menino que fugiu de casa, morou na rua virou, lutador de boxe e passou a frequentar um bar chamado “Lanterna dos Afogados”.

Este bar ficava no porto do cais de Salvador, em um bairro também chamado “Lanterna dos Afogados”, ponto de encontro onde se reuniam estivadores, prostitutas, jogadores de capoeira, marinheiros vindos de diversas partes do mundo, que ali bebiam, comiam, conversavam, brigavam, cantavam e confraternizavam.

O “Lanterna dos Afogados” era então um local frequentado pelo povo, cheio de vida, por onde circulavam diversos tipos representativos da mais autêntica cultura popular baiana.

Mas também neste local, havia sofrimento, a angústia e a solidão dos excluídos da sociedade. Por isso, Herbert Viana constrói a letra do ponto de vista de alguém que está no bar “Lanterna dos Afogados” e está oferecendo um ombro amigo para alguém que está triste ou sofrendo.

Em uma entrevista para o jornal Folha de São Paulo, o compositor declarou que a música,  inspirada no que ele leu do romance de Jorge Amado,  “é uma constatação da solidão e do silêncio escuro no entorno da pessoa solitária”. 

Para pegar toda essa inspiração e transformar em uma música, Herbert Vianna precisou de uma volta de moto e nada menos que dez minutos gastos em um restaurante em Ipanema , no Rio de Janeiro.

O músico contou isso em uma entrevista: “Saí com minha namorada para jantar, sentei na moto ela começou a conversar, mas eu pedi ela que não falasse mais nada, porque eu estava com a melodia e a letra na cabeça. Quando chegamos ao restaurante, o garçom veio saber o nosso pedido: ‘- Papel e caneta, rápido!’, foi o que eu pedi. Naqueles 10 minutos de moto, da minha casa até o restaurante, a música foi composta.”.

O baterista dos Paralamas, João Barone também contou um pouco sobre as influências que estão por trás da história da música “Lanterna dos Afogados”. 

Segundo ele, a ideia era fazer uma canção bem com a cara dos anos 80. Uma balada de rock com alguns clichê, facilmente reconhecível: “Eu me lembro que o Herbert, pensava em umas coisas assim meio tipo Jeff Beck, que não é essencialmente uma balada comercial. Coisas que acabavam chegando no rádio através do Whitesnake, né? Aquelas coisas quase farofa, mas que a gente deu uma certa sofisticada.”, analisa o Barone.

A música “Lanterna dos Afogados” foi trilha sonora da novela “Rainha da Sucata”, na TV Globo, em 1990 e, depois, recebeu várias regravações de sucesso, como a de Cássia Eller, em 1994.

Sobre os Paralamas do Sucesso

Fundada no Rio de Janeiro, no início dos anos 80, e transitando por influências do rock, do pop, do reggae, da música latina e da MPB, Os Paralamas do Sucesso é uma das principais bandas brasileiras de todos os tempos.

Formada por Herbert Vianna, nos vocais e guitarra; Bi Ribeiro, no baixo; e João Barone, na bateria; a banda revolucionou a cena musical – principalmente do rock – dos anos 80 e influenciou toda uma geração.

Herbert e Bi se conheceram ainda crianças, em Brasília, onde moraram por conta dos trabalhos de seus pais. Ali, eles já começaram a ter o seu primeiro contato com a música, principalmente com o rock’n roll. Já adolescentes, vivendo no Rio de Janeiro, uniram sua paixão pelo rock e montaram – despretensiosamente – uma banda que ensaiava na casa da avó de Bi, a Vó Ondina.

Em 1981, já se apresentando com o nome de Os Paralamas do Sucesso, conheceram João Barone – que substituiu o então baterista Vital em um show na Universidade Rural do Rio. Barone entrou para a banda no lugar do Vital e, ali, eles resolveram tornar o negócio profissional. Todos largaram as faculdades que faziam para se dedicarem à banda. José Fortes, amigo de faculdade de Herbert, se tornou empresário da banda e assim é até os dias atuais, sendo considerado o quarto Paralama

No ano seguinte, a canção “Vital e sua Moto” (composta por Herbert para homenagear o ex-baterista), se tornou uma das mais tocadas nas rádios. No início de 83, a banda chamou a atenção ao abrir os shows de Lulu Santos – que tinha acabado de explodir no Brasil inteiro – fato que os levou a assinar o seu primeiro contrato. 

O álbum de estreia dos Paralamas, “Cinema Mudo”, já traz – além de “Vital sua Moto” e “Vovó Ondina é Gente Fina” – o sucesso da faixa-título (todas composições de Herbert), e “Química” (composição de Renato Russo, que era amigo dos tempos de Brasília, o que ajudou a lançar a sua banda – a Legião Urbana – nacionalmente).

Em 84, Os Paralamas lançaram o seu segundo álbum, com bastante influências do reggae, que transformou a banda – definitivamente – em um fenômeno do rock nacional. O disco já contava com diversos grandes hits, como: “Óculos”; “Meu Erro”; “Mensagem de Amor”; “Ska” e “Romance Ideal”.

Com a aclamação do público e da crítica, a banda fez um show histórico no primeiro Rock in Rio, em 1985. No ano seguinte, depois de rodarem o Brasil inteiro em turnê, o terceiro disco já mostra a veia crítica e politizada dos Paralamas, e colhe fortes influências da MPB, contando com a participação ativa de Gilberto Gil, na composição de “A Novidade” (junto com o trio), e na gravação de “Alagados”. Outro, aliás, que é considerado o quarto Paralama é o tecladista João Fera, que acompanha a banda desde esse disco.

Os Paralamas do Sucesso em 1984 | Foto: Reprodução

Ao longo dos próximos álbuns, a banda passou a acrescentar metais ao seu som e abusar ainda mais das fusões com a música afro-caribenha, mesclando composições de cunho político-social, como “O Beco”, com faixas românticas e introspectivas como “Quase Um Segundo” e “Uns Dias”.

Passaram pelo experimentalismo, lançaram discos de espanhol (por conta do sucesso na Argentina), ajudaram a consolidar os novos ares da música pop brasileira e nos presentearam com mais diversos grandes sucessos como, além de “Lanterna dos  “Caleidoscópio”: “Vamo Batê Lata”, “Uma Brasileira”, “Saber Amar”, “La Bella Luna”, “O Amor Não Sabe Esperar” e “Aonde Quer Que Eu Vá”.

Herbert Vianna é um dos maiores compositores do Brasil e as suas canções são sucesso não apenas dentro dos Paralamas, mas também nas vozes de diversos outros artistas.

No início de 2001, o artista sofreu um acidente com o ultraleve que pilotava e a sua esposa e mãe dos seus filhos, Lucy, que estava a bordo, morreu no acidente. O artista foi resgatado e levado pro hospital, onde ficou entubado e em coma por 20 dias. O acidente deixou Herbert paraplégico e o fez perder a memória parcialmente por um tempo.

Ele passou por um processo de recuperação gradual e a música teve um papel fundamental nisso. Herbert teve que reaprender a tocar e cantar e foi a música que lhe deu forças para enfrentar uma dor tão grande quanto a perda da sua companheira e dos movimentos das pernas.

Exemplo de esperança e superação, ele – surpreendentemente – conseguiu voltar aos palcos com os amigos no ano seguinte, nos brindando com sua música e generosidade. Mais unidos que nunca, a banda nos trouxe novos clássicos, como: “O Calibre”, “Seguindo Estrelas”, “Cuide Bem do Seu Amor” e “A Lhe Esperar”.

Comemorando 40 anos de história este ano, a sólida amizade e o imenso talento e genialidade, fazem dos Paralamas do Sucesso uma das maiores bandas que o Brasil já conheceu.

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