A história da música “Solidão que Nada”, no aniversário de Cazuza

Hoje, dia 4 de abril, seria aniversário de um dos maiores nomes da história da música brasileira: Cazuza. Para homenageá-lo, vamos conhecer a história da música  “Solidão que Nada”.

Agenor de Miranda Araújo Neto , o Cazuza – cantor, poeta e compositor – é um dos maiores nomes da música popular brasileira de todos os tempos.

Filho do produtor musical João Araújo – fundador da gravadora Som Livre Cazuza sempre viveu em um ambiente muito musical. Sua mãe, Lucinha Araújo, teve uma breve carreira como cantora e chegou a lançar dois discos.

Dono de uma genialidade impressionante com as palavras e de uma voz e habilidade vocal inconfundíveis, Cazuza começou sua carreira em 1981, como vocalista do Barão Vermelho – uma das maiores bandas de rock do Brasil. 

Ao lado de Frejat, na época guitarrista do grupo, compôs os maiores sucessos da banda, como: “Bete Balanço”,Pro Dia Nascer Feliz, “Todo Amor Que Houver Nessa Vida” e “Maior Abandonado”.

Cazuza deixou a banda em 1985, para seguir em carreira solo. Caso você queira escutar a áudio-biografia completa do Barão Vermelho, escute o Acervo MPB Especial da banda, um podcast original da Novabrasil.

Antes de tornar-se vocalista do Barão Vermelho, Cazuza chegou a estudar Comunicação Social, trabalhou na Som Livre, e também fez parte da companhia teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, que revelou outros artistas como Regina Casé, Evandro Mesquita e Luís Fernando Guimarães. Foi lá que Cazuza cantou em público pela primeira vez.

Irreverente e cheio de personalidade, sua vasta obra fala sobre as inquietações de uma geração e transcende o tempo. Deixa um legado único, que revoluciona a música brasileira, ao unir o rock’n roll e a MPB, com clássicos como: 

  • Exagerado (parceria com Ezequiel Neves e Leoni); 
  • O Tempo Não Para (parceria com Arnaldo Brandão); 
  • Codinome Beija-Flor (com Ezequiel e Reinaldo Arias);
  • Faz Parte do Meu Show (parceria com Renato Ladeira);
  • O Nosso Amor a Gente Inventa (parceria com Rogério Meanda e João Rebouças); 
  • Brasil (com George Israel e Nilo Romero); 
  • Preciso Dizer Que Te Amo (com Bebel Gilberto e Dé Palmeira);
  • E Solidão Que Nada (parceria com Nilo Romero e George Israel , sobre a qual vamos saber a história hoje).

A parceria com Frejat foi até o fim da vida. Juntos, mesmo fora do Barão, compuseram ainda grandes clássicos como “Ideologia” – uma das canções mais importantes da vida de Cazuza –Poema, e “Malandragem”, que fez história na voz de Cássia Eller.

Cazuza nos deixou em 1990, com apenas 32 anos, vítima de complicações causadas pela AIDS. Foi a primeira personalidade brasileira a declarar publicamente que havia sido infectado com HIV, quando o assunto ainda era um tabu enorme. Esse ato de transparência ajudou muitas vítimas a lidarem melhor com a doença. Ele foi com os pais para Boston, nos Estados Unidos, para tentar a droga AZT, único tratamento disponível na época.

Após sua morte, seus pais fundaram a Sociedade Viva Cazuza, que tem como objetivo proporcionar uma vida melhor a crianças soropositivas, por meio de assistência à saúde, educação e lazer. 

Sua vida virou filme – “Cazuza- O Tempo Não Para”, em 2004 – peça de teatro – “Cazuza, Pro Dia Nascer Feliz – O Musical”, em 2013 -e foi contada em vários livros.

Você pode conferir todos os detalhes sobre a história do aniversariante do dia, na audiobiografia original e exclusiva Novabrasil – Acervo MPB Especial Cazuza. 

História da música “Solidão Que Nada” de Cazuza, Nilo Romero e George Israel

Na época em que passou a ser baixista e depois produtor de Cazuza, o músico Nilo Romero dividia casa com o então saxofonista do Kid Abelha e também compositor carioca George Israel.

George já havia composto uma música em parceria com Cazuza e Frejat “Amor Amor” – que entrou na trilha do filme “Bete Balanço”, dirigido por Lael Rodrigues, em 1984. 

A música tema do filme, composta só por Cazuza e Frejat, foi a música que fez com que o Barão Vermelho (banda dos dois na época) estourasse para o Brasil inteiro,

Depois dessa primeira composição juntos, George Israel e Cazuza firmaram uma parceria de sucesso. A segunda música que Cazuza pediu que George compusesse para que ele colocasse letra foi em parceria com Nilo Romero: “Solidão Que Nada”, que entrou para o segundo álbum solo do artista, “Só Se For a Dois”, de 1987. 

Esta foi a primeira parceria entre Cazuza e Nilo. E a letra de Cazuza foi – inclusive – inspirada no baixista. Um dia, quando eles estavam no aeroporto voltando de alguma turnê do Cazuza com a banda toda, Nilo Romero – que tinha conhecido uma moça durante a viagem – estava se despedindo dela com um beijo apaixonado, quando escutou seu nome no alto-falante do aeroporto: “Senhor Nilo Romero, voo 427 para o Rio de janeiro, embarque imediato!”. 

Nilo continua a narrar a história, no livro “Cazuza – Preciso dizer que te amo: todas as letras do poeta” (Globo, 2001): 

“- Tchau, a gente se vê. 

– Ah! E o telefone?

– Tem um papel? 

– Tenho. 

– Cadê a caneta? 

– Então tá.

Saio correndo, subo as escadas e, finalmente, entro no avião. Me deparo então com todos os passageiros olhando para mim com aquela cara de reprovação.

Procuro então com meu olhar os companheiros de banda, em busca de alguma cumplicidade. Estava atrasado, mas, afinal era por uma boa causa! Não adiantou. Estava todo mundo puto, a fim de ir logo embora pra casa. Tudo bem, então vamos sentar. Mas cadê o meu lugar? Só tinha um lugarzinho no meio, e quem me conhece sabe que odeio viajar no meio. Sou meio claustrofóbico e gosto mesmo é de corredor. 

Sentado numa das poltronas do corredor, observando tudo, estava Cazuza, uma das únicas pessoas de bom humor naquele avião. Ele sabia que eu detestava a poltrona do meio. 

Nilo Romero! (ele tinha a mania de chamar as pessoas pelo nome e sobrenome). 

Trocamos. Na passagem, eu deixo cair um papel do bolso (o papel com o telefone da moça). Cazuza pega, olha, me sacaneia e pronto. Ele iria chegar em casa e fazer uma de suas maravilhosas letras. Desta vez seria uma road song. Uma homenagem à vida na estrada, com todo seu glamour e vazio.”

Eis a belíssima letra que o poeta Cazuza compôs em cima da música de Nilo Romero e George Israel e inspirado por esse episódio do aeroporto:

“Cada aeroporto

É um nome num papel

Um novo rosto

Atrás do mesmo véu

Alguém me espera

E adivinha no céu

Que meu novo nome é

Um estranho que me quer

E eu quero tudo

No próximo hotel

Por mar, por terra

Ou via Embratel

Ela é um satélite

E só quer me amar

Mas não há promessas, não

É só um novo lugar

Viver é bom

Nas curvas da estrada

Solidão, que nada

Viver é bom

Partida e chegada

Solidão, que nada”

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