De onde vem a nossa brasilidade? Já parou para pensar sobre a origem da música brasileira? Esta semana, no Vitrine, Lívia Nolla conversa com a ilustre Kaê Guajajara, que traz em sua arte essas e outras importantes reflexões a respeito do que significa ser indígena no Brasil nos dias atuais.
A cantora, compositora, atriz, arte-educadora e escritora Kaê Guajajara nasceu em Mirinzal, no Maranhão, em um território indígena não demarcado pela FUNAI que sofre constantes ataques de madeireiros – violência contra a natureza, e os corpos, principalmente das mulheres.
Kaê se mudou, ainda criança, para o complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro, e lá passou a viver a experiência de ser uma indígena em contexto urbano. Teve sua vida marcada por preconceitos e racismo, violências por conta de seus traços e origem. A favela da Maré lhe deu a coragem de denunciar.
Mais que uma expressão artística, ela vê na música uma forma de resistir e se manifestar contra o silenciamento dos povos originários imposto pelos colonizadores e perpetuada até hoje pelos seus descendentes.
Na adolescência formou um grupo de rap, ao lado de dois amigos angolanos, chamado Crônicos. Nas músicas, contavam as violências que sofriam dentro da comunidade. Em seguida, iniciou carreira solo e as suas composições passaram a discutir diretamente a sua realidade indígena.
Lançou dois EPs em 2020 – Usaw e Wiramiri – antes de lançar seu primeiro álbum, Kauarahy Tadir, em 2021, muito bem recebido pela crítica, tendo sido nomeado melhor álbum do ano em diversas listas importantes da música brasileira.
Em 2022, o disco ganhou uma nova camada de compreensão com o lançamento em forma de álbum visual, com clipes para todas as músicas feitos por indígenas. Este é o primeiro projeto do tipo estrelado por uma artista indígena da história da música brasileira.
“Não somos povos do passado, estamos aqui hoje e fazendo música também, fazendo arte também!” diz Kaê Guajajara
Kaê Guajajara acaba de lançar seu novo álbum Zahytata, que significa “Estrela do zeeg’ete”, idioma falado pelo povo Guajajara. Ele traça novas narrativas, como o olhar para o futuro nas vivências de corpos indígenas e o reflorestar – não apenas a floresta, mas as relações. Kaê detalha em conversa com Lívia Nolla.
A artista também faz reflexões a respeito de nos aprofundarmos sobre a origem da música brasileira, e defende o que chama de MPO, a Música Popular Originária. Em seus primeiros EPs, Kaê traz o tema do apagamento indígena. Ela reflete o quanto as narrativas errôneas que muitas vezes é ensinado na escola sobre pessoas indígenas é prejudicial.
Além de falar sobre importância de trazer o amor e afeto entre pessoas indígenas em suas músicas e clipes, outro tema abordado em entrevista é a experiência de Kaê como escritora no livro “Descomplicando com Kaê Guajajara: o que você precisa saber sobre os povos originários e como ajudar na luta anti-racista”.
Ouça o episódio na íntegra:
Sobre o ‘Vitrine’
O Vitrine chega na grade da novabrasil para celebrar os novos talentos da música brasileira. Nomes expoentes da nossa música ganharão espaço e destaque na programação da rádio.
Apresentado por Lívia Nolla, pesquisadora musical e garimpeira de carteirinha, é no Vitrine que os ouvintes vão conhecer os artistas e os sons que estão se destacando na cena musical.
Confira a playlist oficial do programa: