Aniversariantes da MPB da Semana – PARTE 2

por Lívia Nolla

Esta é uma semana especial para a MPB. São vários os nomes da nossa música que nasceram entre 05 e 11 de fevereiro e nós preparamos uma série de três matérias para homenagear esses aniversariantes musicais!

Esta é a segunda parte, a primeira está aqui! Vamos lá?

07 de fevereiro

Clementina de Jesus | Foto: Walter Firmo (Acervo IMS)
Clementina de Jesus | Foto: Walter Firmo (Acervo IMS)

Clementina de Jesus

Lenda da nossa música popular brasileira e uma das maiores sambistas que o Brasil e o mundo já conheceram, Clementina de Jesus faria aniversário neste 07 de fevereiro.

Nascida em 1901, em um tradicional reduto de jongueiros no sul do Rio de Janeiro, Clementina de Jesus também era conhecida como Tina ou Quelé. Deixou um grande legado no resgate dos cantos negros tradicionais e na popularização do samba, além de ser vista como um importante elo entre a cultura do Brasil e da África.

Mudou-se com a família para a capital aos oito anos de idade, indo estudar em regime semi-interno no Orfanato Santo Antônio, onde desenvolveu a crença católica. Quando criança, aprendeu com sua mãe – filha de escravizados – rezas em jejê nagô e cantos em dialeto provavelmente iorubá. Destas influências resultam um misticismo sincrético e uma musicalidade marcada pelo samba e cantos tradicionais de escravizados do meio rural.

A partir da década de 1920 passou a frequentar os círculos carnavalescos: foi diretora da escola de samba Unidos do Riachuelo, participou de atividades da Mangueira (foi morar no bairro da Mangueira depois de casar) e acompanhou de perto o surgimento e desenvolvimento da Portela, participando ativamente das rodas de samba.

Clementina de Jesus trabalhou como doméstica e lavadeira por mais de 20 anos, até ser vista cantando na Taberna da Glória, pelo compositor Hermínio Bello de Carvalho – em 1963, já com 62 anos – que a levou para participar do projeto de grande sucesso O Menestrel, apresentando-se com o violonista Turíbio Santos.

No ano seguinte, 1964, Clementina se apresentou no show Rosa de Ouro, ao lado de Aracy Cortes, Elton Medeiros, Paulinho da Viola e Nelson Sargento, com a direção de Hermínio e Kleber Santos, show que consagrou o seu nome e gerou dois LPs (em 1965 e 1967), incluindo, entre outros, o jongo Benguelê, de Pixinguinha e Gastão Viana.

Em 1966, a artista representou o Brasil no Festival de Cannes, na França, e no Festival de Arte Negra, no Senegal, sendo ovacionada em um estádio de futebol. No mesmo ano, lançou o LP solo Clementina de Jesus, com repertório de jongo, corimá, sambas e partido-alto, recuperando a memória da conexão afro-brasileira.

Em 1968, com a produção de Hermínio de Carvalho, Clementina registrou o antológico LP Gente da Antiga, ao lado de Pixinguinha e João da Baiana. Em 1979, lançou o LP Clementina e Convidados, do qual participaram Candeia, João Bosco, Martinho da Vila, Ivone Lara, entre outros.

Em toda a sua carreira, Clementina de Jesus gravou cinco discos solo: dois com o título Clementina de Jesus (em 1966 e 1976); Clementina, Cadê Você? (1970); e Marinheiro Só (1973), título também da canção tradicional, adaptada por Caetano Veloso, que tornou-se um ícone em sua voz.

Fez também diversas participações em discos de outros artistas, como Milton Nascimento, Adoniran Barbosa, Alceu Valença, Elizeth Cardoso, João Bosco e Clara Nunes.

Em 1983, foi homenageada com um espetáculo no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com a participação de Paulinho da Viola, João Nogueira, Elizeth Cardoso e outros nomes do samba. No mesmo ano, foi homenageada pela escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, no enredo A Grande Constelação das Estrelas Negras.

Clementina de Jesus é uma grande representante da ancestralidade e sonoridade afro-brasileiras e cantou diversos pontos de umbanda e candomblé, ladainhas e jongos ao longo da vida. Em 2016, o governo brasileiro outorgou-lhe in memoriam a Ordem do Mérito Cultural, no grau de grã-cruz, junto com outros sambistas, como parte das comemorações dos 100 anos do nascimento do samba.

Mas, apesar da imensidão de sua voz e de seu legado para a música e a cultura negra brasileira, ela era grande demais para um Brasil tomado pelo racismo estrutural e pela intolerância religiosa. A artista faleceu praticamente no esquecimento, em julho de 1987, aos 86 anos, em função de um derrame.

Não sem antes influenciar uma gama de artistas brasileiros, que – hoje – celebram a  importância gigantesca de sua presença na nossa cultura e para o nosso povo.

Pepeu Gomes | Foto: Daryan Dornelles / Divulgação
Pepeu Gomes | Foto: Daryan Dornelles / Divulgação

Pepeu Gomes

Completando 72 anos neste 2024, o cantor, guitarrista, violonista, multi-instrumentista e compositor baiano Pepeu Gomes nasceu Pedro Anibal de Oliveira Gomes, em 07 de fevereiro de 1952).

Considerado pela revista americana Guitar World de 1988 como um dos dez melhores guitarristas do mundo na categoria World Music, em 2012, Pepeu foi eleito pela revista Rolling Stone Brasil um dos 30 maiores ícones brasileiros da guitarra e do violão.

Pepeu Gomes começou a ter contato com a música desde muito cedo, pois seu pai tocava em uma orquestra de bailes e sua mãe dava aulas de piano. Ainda criança, ganhou o seu primeiro violão, que aprendeu a tocar de ouvido. Aos 11 anos, interessado no estilo da Jovem Guarda, Pepeu formou sua primeira banda, na qual tocava contrabaixo: Los Gatos.

Com 17 anos, o artista fugiu de casa e formou sua primeira banda profissional, chamada Os Minos, que chegou a lançar um compacto simples. Depois, entrou para  a banda Os Leif´s, quando passou a tocar guitarra, chegando a se apresentar em programas da TV local.

Gilberto Gil, na época, assistiu uma destas apresentações na televisão e chamou Pepeu para participar do show de despedida do Brasil que faria com Caetano Veloso em Salvador (naquele momento Caetano e Gil partiam para o exílio político em Londres, por conta da perseguição da Ditadura Militar).

Antes de viajar, Gilberto Gil presenteou Pepeu Gomes com o disco Smash Hits, de Jimi Hendrix, que viria a ser o artista que mais influenciaria Pepeu ao longo de sua carreira. Em seguida, conheceu João Gilberto, que lhe apresentou o Jacob do Bandolim e Waldir Azevedo.

Em 1969, Pepeu formou o grupo Novos Baianos – ao lado de Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor, Luiz Galvão, Baby Consuelo (hoje, Baby do Brasil), Jorginho Gomes (irmão de Pepeu), Bola Morais, Baxinho e Dadi – no qual tocava guitarra, compunha e fazia arranjos.

A banda transformou para sempre a história da música popular brasileira, com suas canções icônicas, que misturam o rock – vertente inicial do grupo – com samba, ijexá, frevo, choro, baião, influências da Tropicália, da Jovem Guarda, do rock internacional e da bossa nova.

Após a gravação do primeiro disco dos Novos Baianos – Ferro na Boneca, de 1970 – Pepeu passou a estudar profundamente a música brasileira em ritmos como samba, frevo, choro e maracatu, aprendendo também a tocar bandolim.

Paralelamente aos Novos Baianos, em 1971, Pepeu Gomes substituiu Lanny Gordin na turnê Fa-tal, de Gal Costa, que foi registrada no disco duplo de mesmo nome, em que Pepeu toca a maioria das faixas.

O segundo álbum da banda, Acabou Chorare (1972), é considerado um dos maiores discos brasileiros de todos os tempos – e já traz Pepeu como compositor de uma das faixas: o sucesso Besta é Tu, em parceria com Moraes Moreira e Luiz Galvão.

Depois desse vieram mais seis álbuns com a banda, até sua pausa, em 1978, quando Pepeu seguiu uma carreira solo de sucesso, lançando o seu primeiro álbum: Geração de Som. Em 1979, lançou seu segundo disco, Na Terra a Mais de Mil, tendo sua estreia como cantor.

Outros grandes sucessos de Pepeu Gomes, gravados ao longo dos quase 20 álbuns lançados são: Eu Também Quero Beijar (parceria com Moraes Moreira e Fausto Nilo, de 1981); Um Raio Laser (parceria com Baby do Brasil, de 1982); Planeta Vênus (com Baby do Brasil e Riroca Gomes, ou Sarah Sheeva, filha do casal, de 1982); Masculino e Feminino (com Baby do Brasil e seu irmão Didi Gomes, de 1983); Mil E Uma Noites de Amor (parceria com Moraes Moreira e Fausto Nilo, de 1985); Sexy Yemanjá (parceria com Tavinho Paes (1993); Alma (parceria com Arnaldo Antunes, de 2001).

Em 1985, Pepeu Gomes e Baby do Brasil participaram da primeira edição do Rock in Rio, feito que repetiram ao lado de seu filho Pedro Baby, em 2015.

No final da década de 1980, Pepeu Gomes voltou-se para a música instrumental, dedicando-se mais a seu trabalho como guitarrista, relendo velhos sucessos como os chorinhos Brasileirinho (Waldir Azevedo) e Noites Cariocas (Jacob do Bandolim), presentes no início de sua carreira e que fizeram sua fama de virtuose, participando de festivais de jazz pelo mundo todo.

Pepeu foi casado com Baby do Brasil, com quem teve seis filhos, três das quais formaram o conjunto SNZ: Sarah Sheeva, Nana Shara e Zabelê. Além delas, Pedro Baby é um músico renomado, considerado um dos maiores guitarristas do Brasil e já tocou com nomes como Gal Costa e Marisa Monte.

O último álbum lançado por Pepeu foi justamente em parceria com Baby, Baby e Pepeu – Ao vivo no Noites Cariocas, gravado durante a turnê especial em comemoração aos 70 anos de cada um dos artistas: Baby e Pepeu a 140 graus.

Antes disso, os Novos Baianos anunciaram sua primeira reunião, depois de muito anos, em 2015.

Rogério Duprat | Foto: Luiz Pinto (Agência O Globo)
Rogério Duprat | Foto: Luiz Pinto (Agência O Globo)

Rogério Duprat

O maestro e arranjador Rogério Duprat nasceu em 07 de fevereiro de 1932, no Rio de Janeiro, mas foi em São Paulo que se radicou, tornando-se regente e compositor.

Duprat iniciou na música por acaso. Seus primeiros instrumentos foram o violão, o cavaquinho e a gaita de boca, que tocava “de ouvido”. Posteriormente, teve formação erudita, participando de orquestras como a Orquestra de Câmara de São Paulo, da qual foi membro fundador em 1956

No início dos anos 60, integrou o movimento de vanguarda erudita Música Nova, ao lado de Júlio Medaglia, Damiano Cozzella e Gilberto Mendes, entre outros. Com influência da música erudita contemporânea europeia, o manifesto propugnava a união de tendências vanguardistas, como o serialismo e o dodecafonismo de Arnold Schoemberg, à poesia concreta.

Ainda nos anos 60, Rogério Duprat viajou para Europa, onde estudou na França, com o compositor Pierre Boulez, e na Alemanha, com Karleinz Stockhausen.

De volta ao Brasil, dedicou-se à criação de peças experimentais em computador, com Damiano Cozzella. Na Universidade de Brasília, onde lecionou, fez parte de happenings e manifestações de música aleatória.

Como compositor de trilhas de cinema, foi premiado várias vezes, especialmente por músicas para filmes de Walter Hugo Khouri. Sua intervenção no campo da MPB deu-se com uma participação das mais relevantes no Tropicalismo. Além do trabalho estreito com os Mutantes, Rogério Duprat foi o arranjador da maioria dos discos do movimento.

A intenção do maestro era romper com as barreiras entre a música erudita e a música popular. Seus arranjos aliaram erudição, ousadia e inventividade. Um deles, o de Domingo no Parque, de Gilberto Gil, classificou-se como o melhor do III Festival de MPB da TV Record, em 1967.

Na década seguinte, o maestro dividiu suas atividades entre arranjador e produtor musical para o mercado publicitário. Assinou arranjos para Chico Buarque, Nara Leão, Walter Franco, Jair Rodrigues, Gal Costa, Rita Lee e muitos outros, até decidir afastar-se das atividades artísticas por problemas auditivos.

Rogério Duprat faleceu em outubro de 2006, aos 74 anos.

Parabéns aos aniversariantes musicais!

Até o fim da semana nós voltamos com a terceira e última parte desta série de matérias especiais, homenageando os aniversariantes da semana!

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