Pensar o futuro nunca foi um exercício simples, especialmente no Brasil. Ainda assim, a música popular brasileira sempre se permitiu imaginar o amanhã. Não como previsão, mas como invenção. O futuro, na canção brasileira, costuma ser menos um destino final e mais um campo aberto de possibilidades.
Desde o Tropicalismo, a música brasileira aprendeu a olhar para frente sem abandonar suas raízes. Ao misturar tradição e ruptura, o movimento liderado por nomes como Caetano Veloso e Gilberto Gil propôs um futuro em que passado e presente coexistem, dialogam e se reinventam. Não se tratava de negar a história, mas de expandi-la.
Gil, novamente, surge como figura central quando o assunto é o amanhã. Em canções como “Parabolicamará”, “Queremos Saber” e “Futurível”, ele atravessa tecnologia, ancestralidade, ciência e espiritualidade com naturalidade pioneira. Gil entendeu cedo que o futuro se constrói ampliando a escuta. O novo, em sua obra, nunca é vazio de sentido, é continuidade transformada.
Caetano Veloso, por sua vez, sempre fez do estranhamento uma ferramenta de avanço. Em músicas como “Tropicália”, “Alegria, Alegria”, “Um Índio” e “Podres Poderes”, ele imaginou futuros possíveis – políticos, estéticos e simbólicos – tensionando o presente. Ao provocar, questionar e deslocar sentidos, Caetano empurrou a canção brasileira para além do conforto. O futuro, em sua música, não é um lugar seguro: é um território a ser explorado.
Às vésperas de um novo ano, talvez a música brasileira nos ensine que olhar para o futuro não significa fazer promessas grandiosas. Significa manter a escuta aberta. Seguir criando. Seguir cantando. Porque enquanto houver canção, haverá sempre a possibilidade de imaginar – e construir – outros amanhãs.
Hoje, em clima de ano novo, trouxemos uma playlist com músicas que nos ajudam a olhar para o amanhã com escuta e generosidade. Aproveite!



