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As duas músicas que Caetano Veloso escreveu para Regina Casé

Você sabe o que as canções “Rapte-me Camaleoa” e “Muito”, de Caetano Veloso têm em comum? Aliás, você sabe o que Caetano Veloso e Regina Casé têm em comum, além de serem dois dos maiores artistas deste Brasil?

Pois é! Pouca gente sabe, mas essas duas músicas icônicas da discografia de Caetano e também da MPB como um todo foram compostas pelo baiano para a sua grande amiga, a grande atriz e apresentadora Regina Casé – com quem ele viveu um breve romance no fim dos anos 70.

Hoje é aniversário de Caetano Veloso, o artista completa 83 anos cheio de contribuições significativas para a música e a cultura brasileira – e nós vamos entender mais essa história do baiano!

O encontro de Caetano Veloso e Regina Casé

Caetano Veloso conheceu Regina Casé quando a viu encenando a peça “Trate-me Leão”, da companhia Asdrúbal Trouxe o Trombone, importante companhia teatral brasileira dos anos 70, fundada por Regina Casé e Hamilton Vaz Pereira no Rio de Janeiro, e também formada por diversos atores que depois se tornaram muito conhecidos, como Evandro Mesquita, Luiz Fernando Guimarães, Patricya Travassos (até Cazuza fez parte da companhia e começou sua carreira lá!).

Encenada em 1977, “Trate-me Leão” foi a terceira peça do grupo e seu trabalho de maior êxito. Ela abordava problemas, vivências e cotidiano da juventude do Rio de Janeiro e surpreendeu pela inovação da linguagem, com base na experiência dos atores e criação coletiva, onde eram comuns as improvisações.

Quando Caetano viu Regina em cena, ele – que já era um dos maiores nomes da música popular brasileira – ficou encantado e embasbacado com a artista e seu talento. Logo, o baiano foi falar com a atriz no camarim, eles saíram para jantar e ficaram amigos. A amizade se transformou – por um tempo muito breve – em um namoro. 

Regina Casé e Caetano Veloso namoraram por um breve momento e ele fez duas canções para ela | Foto: Reprodução

Foi nesta época que Caetano compôs essas duas canções para Regina Casé. A primeira, “Muito“, é do álbum que levou inclusive o nome da música: “Muito: Dentro da Estrela Azulada”, de 1978, cuja capa ele aparece deitado com a cabeça no colo da mãe, Dona Canô.

Regina Casé contou em uma entrevista recente ao “Programa do Bial”, que Caetano Veloso ia passar um tempo grande na Bahia (nesta época ele já morava no Rio faz tempo, cidade onde Regina nasceu), longe dela e como eles estavam muito próximos, ela pediu que ele lhe trouxesse um presente de sua terra.

Regina Casé conta isso rindo muito, pois diz que uma peculiaridade de Caetano é que provavelmente “Ele nunca nem entrou numa loja e comprou uma coisa! Acho que ele nem anda com dinheiro no bolso!”, conta a atriz.

“Olha que burra, que pessoa errada, pedindo pêra para o bananeiro!”. Regina conta que quando Caetano voltou da Bahia, ela perguntou: “Você comprou um presente pra mim?”, no que o baiano respondeu: “Comprar eu não comprei, mas eu tenho um presente pra você”.

Foi quando Regina Casé ganhou o melhor presente que podia receber: Caetano Veloso tocou a música “Muito“, que havia composto especialmente para ela. “Eu quase morri!”, declarou a atriz.

“Eu sempre quis muito

Mesmo que parecesse ser modesto

Juro que eu não presto

Eu sou muito louco, muito

Mas na sua presença

O meu desejo

Parece pequeno

Muito é muito pouco, muito

Broto você é muito

Broto você é muito, muito

Eu nunca quis pouco

Falo de quantidade e intensidade

Bomba de hidrogênio

Luxo para todos, todos

Mas eu nunca pensei

Que houvesse tanto

Coração brilhando

No peito do mundo louco

Gata você é muito

Broto você é massa, massa”

Mas não foi só essa pérola que Regina Casé ganhou de Caetano Veloso, não! O clássico “Rapte-me Camaleoa” também foi composto especialmente para ela. 

Lançada no álbum “Outras Palavras”, de 1981, a música foi feita por Caetano para homenagear Regina e o bem que ela lhe fez. É uma declaração pública – e belíssima – de afeto verdadeiro. 

Na época, a atriz estava em cena com uma personagem chamada “Camaleoa”, já na quarta peça de teatro do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone, “Aquela Coisa Toda”, de 1980. 

A peça, além de abordar a temática da experiência de vida dos atores, trazia a inspiração da filosofia de Nietzsche e das viagens pelo Brasil.

Ao assistir ao espetáculo, Caetano ficou mais uma vez embasbacado, como contou em entrevista: “‘Aquela Coisa Toda’ foi uma das minhas mais intensas experiências como espectador de teatro. (…) O palco de repente ficava nu, enquanto os atores surgiam em pontos dispersos da plateia para lançar perguntas aos integrantes do grupo. Essas perguntas eram cômicas, tocantes, embaraçosas: e o palco vazio e silente deixava-nos com um espaço aberto na mente, um pouco assustados, um pouco melancólicos, como na experiência de certos poemas. Quando a situação de repente se invertia e os atores se amontoavam no palco e respondiam perguntas que não se ouviam, o silêncio da plateia saía de cada espectador como se fosse uma exposição de suas responsabilidades.”

A “Camaleoa” de Regina fez Caetano conceber uma das maiores poesias da música popular brasileira:

“Rapte-me camaleoa

Adapte-me a uma cama boa

Capte-me uma mensagem à toa

De um quasar pulsando lôa

Interestelar canoa

Leitos perfeitos

Seus peitos direitos

Me olham assim

Fino menino me inclino

Pro lado do sim

Rapte-me

Adapte-me

Capte-me

It’s up to me

Coração

Ser querer ser

Merecer ser

Um camaleão

Rapte-me camaleoa

Adapte-me ao seu

Ne me quitte pas”

Mas o compositor, sempre modesto, declarou ao poeta Eucanaã Ferraz, no livro “Letras”, em que reúne as histórias das letras das canções de Caetano Veloso, em 2003:“É bem feitinha a letra. E tem de interessante o verso ‘rapte-me, adapte-me, capte-me, it’s up to me’, que traz uma rima bilíngue“. Não é só “bem feitinha”, é genial!

O namoro entre Caetano Veloso e Regina Casé durou pouco tempo, mas rendeu, além dessas duas preciosidades da música popular brasileira, uma linda, forte e longa amizade, que dura até os dias atuais.

Caetano Veloso e Regina Casé são muito amigos até os dias atuais | Imagem: Reprodução

Regina conta que Caetano e sua irmã Maria Bethânia são seus faróis, seus guias artísticos, estéticos, ideológicos e espirituais. 

E Caetano, em 2014, fez uma postagem homenageando a grande amiga e musa inspiradora:

“Quando conheci Regina, ela estava no palco. Eu, na plateia. Fiquei imediatamente apaixonado por sua personalidade e assombrado com seu talento. O Asdrúbal Trouxe o Trombone era um grupo de jovens fazendo o teatro viver. Dos trabalhos que ela fez ali à série de programas na TV, passando por atuações em filmes, peças e novelas, há uma linha coerente. Ela é uma das criadoras mais fortes que o Brasil produziu. O modo de tratar uma personagem em “Trate-me, Leão” já continha os gestos de Central da Periferia ou Esquenta! [programas de Regina apresentou]. Não é por acaso que ela incomoda os eternos reaças colonizados. Filha de Geraldo e neta de Ademar, Regina é um farol na cultura popular brasileira. Celebro seu aniversário como um marco na minha vida pessoal e na história do Brasil” .

Lindo, né?

Sobre Caetano Veloso, aniversariante do dia

Caetano Veloso nasceu em Santo Amaro da Purificação, pequena cidade do Recôncavo Baiano, filho de Dona Canô e Seu Zezinho.

Já apaixonado pela bossa nova de João Gilberto e pelo Cinema Novo de Glauber Rocha, Caetano saiu da Bahia pela primeira vez para acompanhar a irmã mais nova, Maria Bethânia – ao lado de quem já havia estrelado alguns espetáculos na Bahia, junto também com Gilberto Gil, Gal Costa e Tom Zé.

Bethânia substituiria Nara Leão no antológico espetáculo de protesto Opinião, em 1965. No mesmo ano, ela gravou a primeira composição de Caetano em disco, a canção “De Manhã”.

Caetano Veloso | Foto: Fernando Young
Caetano Veloso | Foto: Fernando Young

Em 1967, Caetano Veloso lançou seu LP de estreia, “Domingo”, ao lado de Gal Costa. No mesmo ano, ao conquistar o 4º lugar no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record com sua canção “Alegria, Alegria” – acompanhado pelas guitarras elétricas do grupo argentino Beat Boys – o baiano rompeu com a tradição apresentada até aquele momento da música popular brasileira, junto com Gilberto Gil, que apresentou “Domingo no Parque”.

Depois, Caetano foi responsável – ao lado de Gil, e também de Gal, Tom Zé, Os Mutantes, e outros artistas – pelo movimento de contracultura que transcendeu tudo o que já havia em termos de produção artística no Brasil e transformou a música brasileira para sempre: a Tropicália.

Em 1968, em tempos duros de repressão e ditadura militar e com o cerceamento das liberdades democráticas, Caetano Veloso e Gilberto Gil, líderes do Movimento Tropicalista, foram presos e obrigados a se exilar em Londres, em 1969.

Caetano morou na cidade inglesa até 1972, e lá gravou um dos discos mais importantes da música popular brasileira de todos os tempos: “Transa”, álbum cujo lançamento marcou o seu retorno para o Brasil.

Desde então, Caetano Veloso já lançou mais de 40 álbuns e segue sendo um dos artistas mais respeitados do Brasil.

Multifacetado, o baiano já escreveu quatro livros e também já compôs trilhas para teatro, novela e cinema. Vencedor de mais de dez Grammys Latinos e um Grammy Award, suas músicas foram gravadas por quase todos os maiores nomes da MPB, sendo considerado uma grande referência pára artistas de todas as gerações e estando em plena atividade até os dias de hoje.

Para saber tudo sobre a vida e a obra do aniversariante de hoje, escute o Acervo MPB Caetano Veloso, áudio-biografia exclusiva Novabrasil.

No Spotify da Novabrasil, também temos uma Playlist Especial com os principais sucessos do artista listados em ordem cronológica de quando foram lançados, interpretados por ele ou por outros grandes nomes da música brasileira. Então, se você seguir a playlist na sequência, fará uma viagem pela vida e pela obra do aniversariante do dia:

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