As histórias de “Eu Só Quero Um Xodó”, de Anastácia

No dia de hoje, a cantora e compositora Anastácia completa 83 anos. E, para homenagear a aniversariante do dia e seguir homenageando grandes compositores da nossa MPB – que são tão importantes e têm uma contribuição tão significativa quanto cantores, intérpretes e músicos – damos continuidade ao Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contamos a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas.

Anastácia é considerada a Rainha do Forró | Foto: Reprodução/Perfil no Facebook de Anastácia

Mulheres Compositoras

É importante começar dizendo que – por conta de um machismo estrutural predominante em nossa sociedade – conhecemos (ou reconhecemos!) muito mais compositores homens do que compositoras mulheres e que esta é a primeira mulher que participa desta série. 

Já falamos muito sobre essa questão no Acervo MPB que produzimos sobre Chiquinha Gonzaga – a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, em 1888 – e também a primeira compositora popular brasileira e a primeira pianista de choro do país, que abriu portas para muitas mulheres profissionais da música depois dela.

Falamos sobre a questão da música ser estruturalmente dominada por homens – principalmente quando falamos de compositores e instrumentistas – no episódio do Acervo MPB sobre Dona Ivone Lara, em que contamos que a sambista foi a primeira mulher a fazer parte da Ala de Compositores de uma Escola de Samba, na Império Serrano, em 1965, aos 44 anos de idade. Mas, antes disso, ela – que já compunha sambas-enredo há 20 anos e tinha que fingir que os sambas eram compostos por seu primo, para que fossem aceitos.

E também falamos sobre o assunto no Acervo MPB Rita Lee, quando contamos o quanto nossa amada e já saudosa Mãe do Rock’n Roll brasileiro – a partir de meados dos anos 60 – abriu as portas para que mulheres instrumentistas e compositoras estivessem à frente de bandas de rock, cantando suas próprias canções e quebrando uma série de tabus sobre o que mulheres podiam ou não podiam cantar, fazer, dizer, vestir e sentir. 

Anastácia, a Rainha do Forró

Se Rita Lee é a Rainha do Rock – embora ela achasse esse título cafona e preferisse ser chamada de Mãe do Rock (como nós fizemos acima!) – nós temos também uma Rainha do Forró! Sim, é ela, nossa aniversariante e homenageada do dia: Anastácia!

Nascida em Recife, em 1940, Anastácia fez história como uma das maiores e mais produtivas compositoras do gênero. Começou a se interessar por música aos sete anos de idade, aos 13 já cantava profissionalmente e aos 14 foi contratada pela principal rádio da cidade.

Anastácia tem mais de 30 discos lançados e já compôs mais de mil canções, sendo que aproximadamente 250 delas foram em parceria com Dominguinhos, com quem foi casada de 1966 a 1978. Eles começaram o relacionamento quando ambos acompanhavam Luiz Gonzaga em uma turnê.

Anastácia já teve suas músicas gravadas por artistas como:

  • Gal Costa;
  • Gilberto Gil;
  • Jair Rodrigues;
  • Ângela Maria;
  • e Luiz Gonzaga,

E foi ainda indicada ao Grammy Latino, na categoria Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa, no ano de 2018, pelo disco Daquele Jeito, em que traz duetos especiais com artistas como:

  • Raimundo Fagner;
  • Fafá de Belém;
  • Alcione;
  • e Zeca Baleiro.

Saudando Grandes Compositores Brasileiros

Hoje, entre os vários sucessos da compositora, escolhemos contar as histórias de dois de seus clássicos: Eu Só Quero Um Xodó e Tenho Sede.

A história da música “Eu Só Quero Um Xodó”, de Anastácia e Dominguinhos

Anastácia conta que a letra de Eu Só Quero Um Xodó, nasceu na boca do fogão, enquanto preparava o almoço.

No Nordeste, o São João é igual acontece com as Escolas de Samba no Carnaval: quando passa a festa de São João de um ano, já começam a pensar na do ano seguinte.

Anastácia conta que passava o São João e os produtores já ligavam pedindo que ela e Dominguinhos, casados na época e produzindo muito em parceria, uma canção para o próximo ano. 

Anastácia e Dominguinhos foram parceiros na música e na vida | Foto: Divulgação.

Depois de uma dessas ligações, Dominguinhos estava sentado, tocando sua sanfona, no pequeno apartamento em que moravam no centro de São Paulo, e Anastácia estava fritando um peixe para o almoço.

“Aí de repente, ele tocando e veio a letra de Xodó na minha cabeça. Eu larguei o peixe lá, fechei o fogão, fiz as duas estrofes”.

Ela conta que pediu para Dominguinhos voltar a tocar, ela cantou e encaixou a letra com a melodia.

“Mandamos para o produtor e avisei a ele para olhar com carinho para a marchinha”. 

A cantora Marinês gravou a canção, em 1971 e, em 1972, Dominguinhos estava fazendo turnê tocando com Gilberto Gil e Gal Costa, e – como estava com frio – ele tocou um xote para esquentar os dedos.

“Aí o Gil pegou o violão e ele observou que todo mundo ficou ligado. Gil perguntou de quem era a música, e Dominguinhos explicou ‘é minha e de Anastácia, Marinês gravou’. E Gil decidiu, ‘rapaz, vou gravar essa música!’ e foi uma benção. Foi uma música que era para o nordeste, era arrasta-pé que virou xote e o Gil gravou como reggae. Até hoje ela me ajuda a pagar os carnezinhos atrasados.”, contou Anastácia em uma entrevista recente. 

Gilberto Gil gravou Eu Só Quero Um Xodó em 1973, transformando a música em um de seus maiores sucessos e uma das mais importantes canções da música popular brasileira, tendo sido regravada mais de 400 vezes, no Brasil e no exterior.

A história da música “Tenho Sede”, de Anastácia e Dominguinhos

Tenho Sede também foi gravada por Gilberto Gil, só que dois anos depois, em 1975, no seu antológico álbum Refazenda.

Também em parceria com Dominguinhos, que gravou a canção no mesmo ano, Anastácia conta que quis fazer uma música que falasse sobre natureza, com palavras que – na sua cabeça – falassem do universo e não de coisas materiais. 

Traga-me um copo d’água, tenho sede

E essa sede pode me matar

Minha garganta pede um pouco d’água

E os meus olhos pedem teu olhar

A planta pede chuva quando quer brotar

O céu logo escurece quando vai chover

Meu coração só pede o teu amor

Se não me deres, posso até morrer

Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos a aniversariante Anastácia.

E que cada vez mais a gente traga compositoras mulheres para esta série especial!

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