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Axé Music: como a Bahia criou um dos maiores ritmos do país

Poucos movimentos musicais representam tão bem o que é o Brasil como o Axé Music. Nascido na efervescência cultural de Salvador, na Bahia, no início dos anos 1980, o axé se firmou como um dos mais importantes e populares gêneros musicais do Brasil, transcendendo as barreiras regionais e ganhando projeção internacional.

Muito mais do que um estilo sonoro, o Axé expressa a energia contagiante do povo baiano, seu sincretismo religioso e sua capacidade de celebrar a vida.

O nascimento do axé está diretamente ligado ao Carnaval de Salvador, um dos maiores espetáculos de rua do mundo.

No início dos anos 1980, artistas e músicos baianos começaram a experimentar novas sonoridades ao misturar ritmos afro-brasileiros como ijexá, samba-reggae, frevo, forró, além de elementos do pop e do reggae jamaicano. Esse caldeirão rítmico deu origem a uma batida vibrante e dançante, que rapidamente conquistou os trios elétricos e as multidões.

O nome “Axé” — que em iorubá significa “energia vital” ou “força sagrada” — foi adotado para nomear o movimento, evidenciando o elo espiritual com as religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, tão presentes na cultura baiana.

Luiz Caldas, considerado o “Pai do Axé Music” | Imagem: Divulgação

As Origens do Axé Music

Embora muitos artistas tenham contribuído para a construção do axé, é impossível falar sobre o gênero sem citar Luiz Caldas, considerado o “pai do axé music”

Em meados dos anos 70, Luiz Caldas criou um ritmo que misturava o pop com o reggae, toques caribenhos, ijexá, frevo e samba, e que ganhou o apelido de “Deboche” (ou também chamado Fricote, por conta do nome de uma música de muito sucesso que lançaria nos próximos anos). 

Esse ritmo foi evoluindo para outros tantos ritmos lançados no carnaval baiano e somando-se também com o samba-reggae, o merengue, o forró, o pagode baiano, o samba duro, os ritmos do candomblé, o pop rock e com outros ritmos afro-brasileiros e afro-latinos, consolidando-se no popular estilo ou gênero musical que atualmente é denominado como Axé Music e influenciando uma geração de artistas baianos, mudando para sempre a história do carnaval de Salvador.

Antes disso, para chegarmos no carnaval de Salvador como conhecemos hoje, precisamos voltar às suas origens, lá na década de 1950, mais precisamente em 1951, quando a dupla Dodô e Osmar começou a tocar o frevo pernambucano em guitarras elétricas de produção própria — as quais batizaram de “Guitarras Baianas” — em cima de uma Fobica (um Ford do ano de 1929). Ali, nascia o Trio Elétrico.

Mais tarde, em 1975, Moraes Moreira, recém saído dos Novos Baianos, teve a ideia de subir no trio – que antes era apenas instrumental – para cantar, tornando-se o primeiro cantor ou puxador de trio elétrico do país.

A partir da década de 1960, paralelamente ao movimento dos trios, aconteceu também a proliferação dos blocos afro na Bahia: Filhos de Gandhi (do qual Gilberto Gil faz parte), Badauê, Ilê Aiyê, Muzenza, Araketu e Olodum. Eles tocam ritmos afro como o ijexá e o samba, utilizando alguns instrumentos musicais de percussão.

O Axé Music de Luiz Caldas chegou somente em 1980, quando uma turma de músicos baianos foi contratada pelo estúdio WR (do empresário e produtor musical Wesley Rangel), que tornou-se muito famoso por produzir os artistas de Axé Music e de Trio Elétrico em Salvador. 

Luiz Caldas passou a fazer parte da banda Acordes Verdes, formada neste estúdio e que já contava com o arranjador Alfredo Moura, um dos principais arranjadores do gênero, e o baterista Cesinha. Mais tarde, Carlinhos Brown também entrou para a banda, que deu início ao chamado movimento do Axé Music.

 Carlinhos Brown | Foto: Lucas Leawry / Divulgação

Em 1985, Luiz Caldas lançou o seu primeiro disco solo autoral, “Magia”, que conta com o primeiro grande sucesso nacional daquela cena musical de Salvador: a canção “Fricote”, composta em parceria com Paulinho Camafeu

O ritmo naquela época era chamado de Deboche, e havia sido criado por Alfredo Moura e Carlinhos Brown. O arranjo inovador e de alta qualidade técnica foi marcante para que a canção (de apenas dois acordes) se tornasse um dos maiores sucessos brasileiros, um verdadeiro hit,  espalhando-se por todo o país, estourando nas rádios brasileiras e virando um marco para o Axé Music, quedeixava de ser apenas um fenômeno local para se transformar em um dos maiores ritmos populares brasileiros.

A partir daí, nomes como Banda Mel, Sarajane e Margareth Menezes solidificaram o gênero, adicionando camadas de percussão, dança e presença cênica ao movimento.

Margareth Menezes | Imagem: Valter Pontes/SECOM

Anos 90: o axé como fenômeno de massas

Na década de 1990, o axé alcançou seu apogeu, com artistas como Daniela Mercury, É o Tchan!, Cheiro de Amor, Asa de Águia, Chiclete com Banana eIvete Sangalo (ainda à frente da Banda Eva), levando o ritmo aos principais palcos do Brasil e do mundo. 

Daniela Mercury, com o sucesso “O Canto da Cidade” (1992), foi fundamental para consolidar o axé como um gênero de massa, ao mostrar a força da música baiana com uma estética moderna, pop e coreografada.

Daniela Mercury é considerada a Rainha do Axé | Foto: Celia Santos

Os trios elétricos, as micaretas e os blocos de carnaval se multiplicaram por todo o país, transformando o axé em uma indústria cultural poderosa, que movimentava não apenas a música, mas também o turismo, a moda e o audiovisual.

Com o sucesso estrondoso no Brasil, o axé atravessou fronteiras. Artistas como Ivete Sangalo, Carlinhos Brown (e a Timbalada!) e Margareth Menezes passaram a se apresentar na Europa, nos Estados Unidos e na África, levando a musicalidade baiana a novos públicos. A participação de músicos baianos em festivais internacionais e parcerias com artistas estrangeiros consolidou o Axé como uma das expressões mais autênticas e vibrantes da música popular brasileira.

Ivete Sangalo na época da Banda Eva — Foto: Acervo/CEDOC
Timbalada no Carnaval da Bahia | Imagem: Reprodução

Hoje, o Axé se reinventa em novas gerações de artistas e continua presente nas festas populares, carnavais e playlists de milhões de brasileiros. Seu legado vai além da música: é uma afirmação cultural da Bahia, da força da diáspora africana e da capacidade de transformar alegria em resistência.

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