Para casais que enfrentam a infertilidade ou que não podem gerar filhos por conta própria, a chamada barriga solidária tem se mostrado uma alternativa possível — e profundamente emocionante — para a realização do sonho da parentalidade. Conhecida tecnicamente como gestação por substituição, essa prática vem ganhando visibilidade no Brasil e ajudando a quebrar tabus sobre o que é, afinal, formar uma família.
Quando o útero de outra mulher torna-se ponte para a vida
A barriga solidária ocorre quando uma mulher aceita, de forma voluntária, gerar um bebê para outra pessoa ou casal. A motivação costuma estar ancorada em laços afetivos e no desejo de ajudar alguém próximo a realizar um projeto de vida. No Brasil, a prática é regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e só pode ser feita entre parentes de até quarto grau — como mãe, irmã, tia ou prima. Exceções exigem autorização especial do Conselho Regional de Medicina.
“A legislação brasileira é clara ao proibir qualquer tipo de remuneração. A gestante pode receber apenas os custos relacionados à gravidez, como exames, consultas e cuidados médicos”, explica a médica Maria Cecília Erthal, especialista em Reprodução Assistida e membro da Brazil Health.
Confiança, acolhimento e equilíbrio emocional
Escolher quem será a barriga solidária é uma das decisões mais delicadas da jornada. Para além da saúde física, é essencial que a mulher esteja emocionalmente preparada e tenha vivenciado pelo menos uma gestação anterior com parto bem-sucedido. “Esse processo é construído sobre uma base de confiança mútua. Por isso, todas as partes passam por avaliação médica e psicológica”, reforça a especialista.
Questões como convivência durante a gestação, participação dos futuros pais nas consultas e decisões sobre o parto devem ser discutidas com antecedência. O acompanhamento psicológico é altamente recomendado para todos os envolvidos, já que a gestação costuma despertar emoções intensas — ansiedade, inseguranças e dúvidas sobre os próximos passos.

Diálogo e planejamento são fundamentais
Para evitar conflitos, especialistas recomendam três pilares principais:
• manter um diálogo constante e transparente
• garantir acompanhamento profissional multidisciplinar
• registrar por escrito todas as decisões importantes antes do início da gestação
“Quanto mais transparente for o processo desde o início, menores as chances de mal-entendidos. Não deixem os sentimentos se acumularem. Lembrem-se sempre do motivo que uniu todos naquele projeto de vida: o desejo de trazer um bebê ao mundo com amor e segurança”, aconselha Maria Cecília.
Muito além da medicina
Ao final dos nove meses, o que permanece é uma história comovente, tecida por generosidade, entrega e laços de afeto. A barriga solidária representa mais do que um procedimento médico: é um ato de amor que atravessa o corpo e alcança o coração — uma ponte viva entre o desejo e a realização da parentalidade.



