A preferência por alimentos mais torrados ou levemente queimados é comum na culinária brasileira. No entanto, esse hábito pode levantar um importante sinal de alerta. Estudos recentes investigam a relação entre o consumo frequente de alimentos carbonizados e o aumento do risco de câncer, especialmente quando associados a outros fatores de risco como tabagismo, sedentarismo e obesidade.
Segundo o oncologista Dr. Luis Eduardo Werneck, embora a ciência ainda esteja reunindo dados mais robustos sobre os efeitos isolados desses alimentos, algumas evidências apontam para a formação de substâncias potencialmente cancerígenas durante o preparo. “Carnes grelhadas ou fritas em altas temperaturas podem gerar compostos como aminas heterocíclicas e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, que são associados ao aumento do risco de câncer, principalmente quando consumidos com frequência”, afirma o especialista.
Compostos que surgem com o calor intenso
As aminas heterocíclicas se formam quando aminoácidos e creatina presentes nos músculos reagem sob temperaturas elevadas. Já os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos aparecem quando a gordura da carne escorre e entra em contato com a fonte de calor, formando uma fumaça que se deposita sobre o alimento. Essa combinação, especialmente em carnes muito tostadas, pode agredir as células e contribuir para alterações inflamatórias de longo prazo.
Além disso, alimentos processados e conservados com nitratos e nitritos — como embutidos — também vêm sendo estudados por seu potencial carcinogênico. Esses aditivos químicos aumentam a produção de radicais livres e favorecem a lesão celular.

Equilíbrio, não proibição: como preparar os alimentos com segurança
A boa notícia é que ainda é possível manter o sabor dos alimentos assados ou grelhados sem colocar a saúde em risco. Algumas estratégias simples podem ajudar a reduzir a formação dessas substâncias nocivas:
- • evitar que os alimentos queimem, mantendo temperaturas moderadas no preparo
- • utilizar métodos de cocção indireta, como assar antes no forno e apenas finalizar na grelha
- • virar as carnes com frequência para evitar contato prolongado com o calor direto
- • marinar os alimentos com limão, vinagre ou ervas antes de assar, o que pode reduzir compostos prejudiciais
- • optar por cortes magros, que soltam menos gordura e, por isso, produzem menos fumaça
- “A prevenção é construída diariamente, com escolhas conscientes à mesa. Alimentos carbonizados não devem ser consumidos rotineiramente, mas também não precisam ser banidos com rigor, desde que o preparo seja cuidadoso e equilibrado com outros hábitos saudáveis”, orienta Dr. Werneck.
Outro ponto essencial é a inclusão frequente de frutas e hortaliças na dieta. Ricas em vitaminas, minerais e fitoquímicos, essas opções são amplamente reconhecidas por seu papel na prevenção de diversos tipos de câncer. Análises epidemiológicas indicam que o aumento do consumo de vegetais pode reduzir em até 31% a incidência de neoplasias, ainda que os mecanismos exatos de proteção ainda estejam em estudo.
A alimentação equilibrada, aliada a práticas de cocção conscientes, é um caminho seguro para quem deseja preservar a saúde a longo prazo. Cozinhar com prazer, responsabilidade e informação é uma das formas mais poderosas de prevenção.