Bossa Nova: 8 curiosidades para entender um dos movimentos mais importantes da MPB

A Bossa Nova foi um dos mais importantes movimentos da MPB e influenciou uma geração de artistas, tendo reverberações em nossa cultura até os dias atuais. Nesta matéria, confira curiosidades para entender sobre esse capítulo da música brasileira, além de uma lista com 20 músicas importantes do movimento.

Astrud Gilberto em performance de “The Girl from Ipanema” | Foto: Reprodução/ TV Globo

A Grande Noite – Bossa Nova (The Greatest Night)

Neste ano de 2023, a Bossa Nova ganha um capítulo novo e muito especial: depois de 60 anos, a mesma sala de espetáculos Carnegie Hall, de Nova York, reviverá – no dia 8 de outubro – a grande noite de 21 de novembro de 1962, que apresentou de vez a Bossa Nova para o mundo inteiro. 

O evento reuniu em seu palco nomes como João Gilberto, Tom Jobim, Sérgio Mendes e Carlos Lyra, apresentando de vez a Bossa Nova para o mundo inteiro.

O Stern Auditorium, no Carnegie Hall, receberá – mais uma vez – um espetáculo inesquecível, após 60 anos da primeira apresentação histórica que definiu os rumos da Bossa Nova e da música popular brasileira.

A “Grande Noite – Bossa Nova (The Greatest Night)“, idealizado pelo cantor e compositor Max Viana – filho de Djavan e também diretor artístico do evento, acontece no dia 8 de outubro e conta com a presença de importantes artistas da nossa música.

O cantor, compositor, ator, e multi-instrumentista Seu Jorge, acompanhado pelo piano de Daniel Jobim e banda, interpretará clássicos como: “Chega de Saudade” e “Garota de Ipanema”.

8 curiosidades para entender a Bossa Nova

1 – A contribuição de João Gilberto

Entre os anos de 1955 e 1956, durante seus intensos estudos de violão, o cantor, compositor e violonista baiano João Gilberto percebeu que, se cantasse mais baixo e sem vibrato – diferente dos famosos cantores do rádio e de samba-canção que faziam sucesso na época – poderia adiantar ou atrasar o canto em relação ao ritmo, desde que a batida do violão fosse constante, criando assim seu próprio tempo.

Foi assim que ele compôs a canção Bim Bom, confiante de que havia encontrado a batida que queria. Em 1957, com 26 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, para mostrar sua nova técnica aos músicos de lá e, quem sabe, conseguir gravá-la.

Com uma batida que alternava as harmonias com a introdução de acordes dissonantes, não convencionais, e uma inovadora sincopação do samba – a partir de uma divisão única, inspirada no jazz norte-americano – João Gilberto estava prestes a revolucionar e alterar, de forma irreversível, o DNA da música popular brasileira para sempre, dando os primeiros passos no movimento que chamamos de Bossa Nova.

2 – Dos apartamentos da Zona Sul do Rio de Janeiro para o Brasil inteiro

Em 1957, o baiano João Gilberto apresentou a sua música Bim Bom – composta um pouco antes – ao compositor, músico, arranjador, diretor e produtor musical Roberto Menescal, que o levou para participar dos encontros que ele e alguns outros jovens músicos de classe média do Rio de Janeiro – como Ronaldo Bôscoli, Nara Leão, Sérgio Ricardo e Carlos Lyra – faziam em apartamentos da zona sul carioca, entre eles, o apartamento de Nara, em Copacabana. 

Todos esses músicos e uma geração de artistas, arranjadores e instrumentistas acabaram influenciadíssimos pela técnica de cantar e tocar violão criada por João Gilberto e iniciaram o movimento da Bossa Nova que, depois, expandiu-se para as universidades e para os bares cariocas, conquistando o Brasil inteiro e o mundo. 

3 – A música “Rapaz de Bem”, de Johnny Alf, foi a canção precursora da Bossa Nova

Lá no final dos anos 50, o compositor e pianista carioca Johnny Alf se apresentava em diversas boates do Rio de Janeiro – como o famoso Beco das Garrafas e o Little Club – ousando misturar em seu processo criativo referências da música clássica e popular, estrangeira e nacional. 

A fonte de sua inspiração se encontrava na música de Chopin, Debussy, Nat King Cole, Stan Kenton, e nos notáveis brasileiros Custódio Mesquita e Francisco Alves. Sua música atraiu os ouvidos ditos mais intelectualizados para os piano bars do bairro de Copacabana.

Entre esses fiéis frequentadores, estavam João Gilberto, e o então jovem pianista, compositor, arranjador e cantor carioca Antônio Carlos Jobim.

Os dois ficaram surpresos com músicas como Rapaz de Bem, uma das primeiras composições profissionais de Alf, que – com a melodia linear, o jeito suave de cantar, uma série de escalas pouco convencionais e uma dissociação rítmica de bateria e baixo – foi, com certeza, a canção precursora da Bossa Nova, inspirando aqueles dois jovens músicos, que seriam os futuros representantes do movimento.

4 – O marco inicial da Bossa Nova foi quando João Gilberto lançou “Chega de Saudade” em seu primeiro disco

Quando João Gilberto se aproximou de Tom Jobim e do seu parceiro, o poeta carioca Vinicius de Moraes, os dois apresentaram para o baiano uma de suas canções em parceria: Chega de Saudade, guardada já há um ano. 

A canção, inicialmente, era um chorinho e João Gilberto a transformou em um samba enxuto, com o violão deixando de ser mero acompanhamento e dividindo o primeiro plano com a voz, trazendo fluidez rítmica e melódica à música. 

O marco inicial da Bossa Nova foi quando João Gilberto – primeiro gravou o violão de Chega de Saudade para o álbum Canção do Amor Demais, de Elizeth Cardoso, em 1958 – e, no ano seguinte, lançou o seu primeiro disco, contendo a canção e intitulado Chega de Saudade

João inovou também na gravação do LP, ao pedir aos técnicos dois microfones: um para a voz e outro para o violão. Desse modo, a harmonia passou a ser mais claramente ouvida. Até então, gravava-se apenas com um microfone, com destaque para a voz em detrimento do violão.   

5 – A Bossa Nova ficou conhecida mundialmente a partir do segundo LP de João Gilberto

Em 1960, João Gilberto gravou o seu segundo LP, O Amor, o Sorriso e a Flor, que – em 1962 – chegou aos EUA e iniciou a exportação da música brasileira. Esse álbum conta com a canção que é a síntese dos fundamentos da Bossa Nova: Samba de Uma Nota Só, de Tom Jobim e Newton Mendonça

A partir daí, a Bossa Nova passou a ser conhecida mundialmente: os artistas do jazz norte-americano ficaram impactados com a forma de João Gilberto fazer música, considerando-o um fenômeno. João começa então a fazer apresentações no exterior, sendo muito aclamado pelo público, pela crítica e pelos músicos internacionais. 

Com o lançamento do seu terceiro álbum – chamado João Gilberto – em 1962, o artista eternizou-se de vez na música popular brasileira, tendo – em tão pouco tempo – influenciando tanto. O disco conta com músicas clássicas do gênero como:

  • O Samba da Minha Terra e Saudade da Bahia (ambas de Dorival Caymmi);
  • O Barquinho (de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli);
  • Este Teu Olhar (de Tom Jobim);
  • e Insensatez (de Tom e Vinicius).

6 – A única apresentação de João Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes juntos

Em agosto de 1962, João Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes – acompanhados de Os Cariocas, Milton Banana e Otávio Bailly –  fizeram o histórico show O Encontro – no restaurante Au Bon Gourmet, em Copacabana – única vez em que se apresentaram no mesmo palco, trazendo a público clássicos da Bossa Nova ainda inéditos, como:

  • Só Danço Samba e Garota de Ipanema, (ambas de Tom e Vinicius);
  • Samba da Bênção e O Astronauta (de Vinicius e Baden Powell);
  • e Samba do Avião (só de Tom Jobim).

Em 21 de novembro de 1962, com a Bossa Nova fazendo cada vez mais sucesso no exterior, a Audio Fidelity Records e o Itamaraty realizam um concerto no Carnegie Hall –   famosa sala de espectáculos em Midtown Manhattan, na cidade de Nova York – com o objetivo de promover a Bossa Nova nos Estados Unidos. 

Três mil pessoas lotaram o Stern Auditorium, e participaram do concerto – além de João Gilberto e Tom Jobim – outros nomes importantíssimos do movimento, como:

  • Luiz Bonfá;
  • o conjunto de Oscar Castro Neves;
  • Roberto Menescal;
  • Agostinho dos Santos;
  • Carlos Lyra;
  • e Sérgio Mendes.

7 – “Garota de Ipanema” tornou-se a música brasileira mais conhecida e regravada no mundo

Depois de um histórico show no Carnegie Hall, em Nova York, o baiano João Gilberto – considerado o pai da Bossa Nova – passou a residir no exterior e começou a difundir a moderna música brasileira pelo mundo. Em 1964, lançou – nos Estados Unidos – o disco Getz/Gilberto, junto com o saxofonista de jazz norte-americano Stan Getz.

O álbum foi um sucesso estrondoso e ganhou quatro Grammy Awards, entre eles:

  • Álbum do Ano;
  • e Gravação do Ano (por Astrud Gilberto – esposa de João na época – e Stan Getz, em The Girl From Ipanema, versão em inglês da música composta por Tom Jobim e Vinicius de Moraes). 

Tom Jobim – que também passou a residir no país, lançou álbuns e fez diversas apresentações por lá – também participou da gravação do aclamado disco. Garota de Ipanema tornou-se a música brasileira mais conhecida e regravada no mundo.

8 – A cisão ideológica no movimento da Bossa Nova

A partir de 1965, depois de quase 10 anos, aconteceu uma cisão ideológica no movimento da Bossa Nova: de um lado, um grupo manteve-se fiel à estética leve, caracterizada por letras de temas amenos e descompromissados com a realidade brasileira ou qualquer espécie de participação social, pelo tom suave e intimista e a forte influência do jazz. 

De outro lado, outro grupo – formado por artistas como Baden Powell, Carlos Lyra, Marcos Valle, Dori Caymmi, Edu Lobo, Francis Hime, Vinicius de Moraes e Nara Leão – se associou ao movimento geral da cultura brasileira, no sentido de buscar uma base popular, temáticas de realismo e participação social nas letras, propondo uma reaproximação com compositores de samba do morro, como:

  • Zé Kéti;
  • Cartola;
  • Nelson Cavaquinho;
  • e João do Vale. 

Um dos marcos dessa fase é a canção Arrastão (de Vinicius de Moraes e Edu Lobo), defendida por Elis Regina no I Festival de Música Popular Brasileira.

Mas, o fim cronológico da Bossa Nova não significou a extinção estética do estilo e o movimento é uma grande referência até os dias de hoje.

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