Você já deve ter visto notícias de pessoas que sofreram morte súbita durante provas de corrida — muitas vezes, jovens, aparentemente saudáveis e praticantes regulares de atividade física. Esses casos geram grande comoção, especialmente por ocorrerem em momentos que representam saúde, superação e bem-estar.
Mas o que está por trás desses episódios?
E, mais importante: como podemos preveni-los?
Um dos maiores estudos sobre o tema foi publicado em 2025 no Jornal da Associação Médica Americana (JAMA). Intitulado “Cardiac Arrest During Long-Distance Running Races”, o trabalho liderado pelo Dr. Jonathan Kim analisou dados de mais de 29 milhões de corredores em maratonas e meias-maratonas realizadas nos Estados Unidos entre 2000 e 2022.
A boa notícia é que a ocorrência de parada cardíaca durante corridas é rara — cerca de 0,6 casos para cada 100 mil corredores. Porém, quando acontece, os dados apontam algumas características de risco:
• A maioria dos casos ocorre em homens
• O risco é maior em maratonas completas do que em meias-maratonas
• A parada costuma acontecer nos últimos 3 quilômetros da prova
• A doença arterial coronariana foi a causa mais frequente, muitas vezes sem sintomas prévios
⚠️ E é aí que entra o alerta: muitas doenças cardíacas são silenciosas. Por isso, é essencial que atletas amadores ou profissionais façam uma avaliação cardiológica completa antes de provas longas ou de alta intensidade.
Essa avaliação deve incluir:
- Histórico familiar e clínico
- Exame físico
- Eletrocardiograma
- E, se necessário, testes como o teste ergométrico ou ecocardiograma
Mesmo com exames normais, a estrutura do evento e a preparação para emergências fazem toda a diferença. O estudo também revelou uma queda importante na mortalidade: de 43% para 24% em duas décadas. Isso se deve, principalmente, à presença de desfibriladores automáticos (DEA) nas provas, ao treinamento de voluntários e à rápida resposta nos casos de colapso.
⏱ Vale lembrar: nem toda parada cardíaca leva à morte — desde que o atendimento seja imediato. A cada 1 minuto sem desfibrilação, a chance de sobrevivência cai cerca de 10%. Após 10 minutos sem ação, a sobrevida é praticamente nula.
Por isso, saber fazer RCP (reanimação cardiopulmonar) e localizar rapidamente o DEA pode salvar vidas.
No Brasil, um marco importante foi a morte do jogador Serginho, do São Caetano, em 2004. O episódio gerou comoção nacional e impulsionou a criação de leis que tornam obrigatória a presença de desfibriladores em locais públicos com grande circulação.
Em São Paulo, por exemplo, a Lei Estadual nº 12.736/2007 exige o DEA em estádios, academias, shoppings, aeroportos e eventos.
Mas ainda enfrentamos um problema sério: a fiscalização é falha, e muitas pessoas não estão treinadas para usar o equipamento.
✅ A corrida continua sendo uma das melhores atividades físicas para o coração. Ela melhora o condicionamento cardiovascular, ajuda no controle do peso, reduz o estresse e melhora a qualidade de vida.
No entanto, como em qualquer prática esportiva de alto esforço, é fundamental respeitar os limites do corpo, se preparar com acompanhamento médico e garantir que o evento tenha suporte de emergência adequado.
Fica o alerta
Se você corre ou pretende participar de provas de rua, procure seu cardiologista, cuide do seu coração e lembre-se: saber agir pode salvar uma vida — até a sua.



