O diagnóstico de câncer ainda provoca uma avalanche de medos, dúvidas e decisões difíceis — especialmente para mulheres em idade produtiva. No Brasil, cerca de 70% dos casos de câncer de mama atingem mulheres com até 69 anos, muitas delas em plena atividade profissional. Diante disso, surge um dilema comum: devo me afastar imediatamente ou posso seguir trabalhando?
Trabalho durante o tratamento: é viável?
Sim, desde que o ritmo da paciente seja respeitado. Com o avanço dos tratamentos e a maior humanização dos ambientes corporativos, muitas mulheres conseguem manter alguma atividade profissional, mesmo durante a quimioterapia ou a radioterapia.
“Com ajustes na jornada, possibilidade de trabalho remoto e apoio psicológico, é possível preservar o vínculo com o trabalho, que em muitos casos ajuda na autoestima e no bem-estar da paciente”, afirma o oncologista Dr. Gustavo de Oliveira Bretas. Estudos mostram que políticas de acolhimento nas empresas podem aumentar em até 37 vezes a chance de retorno ao trabalho após o tratamento.
Quando contar à empresa sobre o diagnóstico
Especialistas recomendam escolher com cuidado o momento de comunicar a chefia, priorizando um ambiente de confiança e transparência. Explicar os possíveis efeitos do tratamento na rotina profissional e propor soluções ajuda a construir empatia e a combater o estigma que ainda cerca o câncer nos espaços de trabalho.
“Não existe regra. Cada mulher deve tomar essa decisão com apoio médico e emocional. Em muitos casos, o diagnóstico bem conduzido pode se transformar em um marco de inclusão e fortalecimento no ambiente profissional”, explica o médico.

Direitos garantidos por lei
Nem todas conseguem seguir trabalhando. Quando há necessidade de afastamento, a legislação garante acesso ao auxílio-doença, mediante laudo médico. Em casos de incapacidade permanente, é possível solicitar aposentadoria por invalidez.
No entanto, mesmo com garantias legais, uma pesquisa publicada em 2018 pela médica Luciana Landeiro mostrou que apenas 30% das mulheres com câncer de mama retornaram ao trabalho no prazo de 12 meses após o diagnóstico. Após dois anos, esse índice chega a 60%.
Ambiente de trabalho deve ser parte da cura
Conciliar saúde e carreira é possível, mas exige sensibilidade das empresas. A criação de políticas de acolhimento, canais abertos de escuta e flexibilidade são passos fundamentais para tornar o ambiente de trabalho mais humano e inclusivo.
A mensagem é clara: saúde e trabalho não devem ser vistos como lados opostos. Quando há respeito, empatia e informação, é possível enfrentar o câncer sem abrir mão da vida profissional — e, muitas vezes, fortalecendo-se ainda mais durante o processo.



