Hoje, dia 11 de outubro, seria aniversário daquele que é considerado por muitos o maior sambista de todos os tempos: Cartola, autor de grandes músicas da MPB: “As Rosas não Falam” e “O Mundo É um Moinho”.
E, para homenagear o aniversariante do dia e seguir homenageando grandes compositores da nossa música popular brasileira – que são tão importantes e têm uma contribuição tão significativa quanto cantores, intérpretes e músicos – nós damos continuidade à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contamos a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas.
Cartola
Angenor de Oliveira, nosso eterno Cartola, nasceu há exatos 115 anos, em 11 de outubro de 1908, no bairro do Catete, no Rio de Janeiro.
Passou a infância no bairro de Laranjeiras, quando tomou gosto pela música e pelo samba. Ainda menino, aprendeu com o pai a tocar violão. Entrou em contato com os ranchos carnavalescos União da Aliança e Arrepiados, no qual tocava cavaquinho (instrumento musical que lhe tinha sido dado pelo pai quando tinha somente 8 ou 9 anos de idade), o que também fazia nos desfiles do Dia de Reis, em que suas irmãs saíam em grupos de pastorinhas.
As dificuldades financeiras obrigaram a família numerosa (Angenor era o mais velho de sete irmãos) a se mudar para o Morro da Mangueira. Lá, Angenor conheceu e fez amizade com Carlos Cachaça – amigo por toda a vida e seu futuro parceiro mais constante em dezenas de sambas – além de outros sambistas.
Na adolescência, Angenor passou a trabalhar para ajudar em casa, ao mesmo tempo em que se inclinava para a vida boêmia. Quando sua mãe faleceu, o rapaz arranjou um emprego de servente de obra e passou a usar um chapéu-coco para se proteger do cimento que caía de cima. Por usar esse chapéu, ganhou dos colegas de trabalho o apelido de Cartola.
Cartola é um dos sete fundadores da Estação Primeira de Mangueira
Junto com um grupo de amigos sambistas do morro, Cartola criou o Bloco dos Arengueiros, cujo núcleo – em 1928 – fundou a Estação Primeira de Mangueira. Um dos seus sete fundadores, Cartola também assumiu a função de diretor de harmonia da escola, em que permaneceu até fins da década de 1930.
Cartola compôs Chega de Demanda, o primeiro samba escolhido para o desfile e que só seria gravado pelo compositor em 1974, para o disco História das Escolas de Samba: Mangueira.
Os sambas de Cartola começaram a sair do morro e se popularizaram na década de 1930, em vozes ilustres como Aracy de Almeida, Carmen Miranda, Francisco Alves, Mário Reis e Sílvio Caldas.
Depois, no fim da década de 40, o sambista caiu no ostracismo e passou por bastante dificuldades por algum tempo, até que em 1974, aos 65 anos, Cartola gravou o primeiro de seus quatro discos solo e sua carreira tomou impulso de novo.
Foram mais três álbuns de estúdio:
- Cartola II (1976);
- Verde Que Te Quero Rosa (1977);
- e Cartola 70 anos (1979).
O cantor, compositor, poeta e violonista nos deixou há 43 anos, no dia 30 de novembro de 1980, aos 72 anos, mudando para sempre a história do nosso país.
Saudando Grandes Compositores da MPB
E, para celebrar a sua existência, hoje nós contaremos a história de dois dos maiores clássicos de Cartola: As Rosas não Falam e O Mundo É um Moinho.
A história da música “As Rosas não Falam”
Diz-se que um dia Cartola levou algumas mudas de rosas para Dona Zica, sua segunda esposa e, depois, dona do famoso bar e restaurante Zicartola, ao lado do marido – local que foi ponto de encontro de muitos sambistas.
Dona Zica plantou as mudinhas no jardim e, dias depois, ao abrir a porta pela manhã, percebeu que muitos botões haviam desabrochado, ficando deslumbrada com a beleza e a quantidade de rosas. Chamou o amado e disse:
“Cartola, venha aqui! Venha ver o jardim! Por que é que nasceu tanta rosa?”.
Foi quando o poeta respondeu:
“Não sei, Zica. As rosas não falam!”.
No auge dos seus 60 e poucos anos, isso inspirou Cartola a compor a canção quase que imediatamente.
A cantora Beth Carvalho incluiu As Rosas Não Falam no seu álbum Mundo Melhor, de 1976, sendo esta a primeira gravação do clássico, que depois foi regravado por inúmeros nomes da MPB, como:
- o próprio Cartola (em seu segundo disco, de 1976);
- Fagner;
- Emílio Santiago;
- Elizeth Cardoso;
- Gal Costa;
- Paulinho da Viola;
- e tantos outros.
Em 2021, As Rosas Não Falam era a 11ª canção brasileira mais regravada de todos os tempos, de acordo com o ECAD, Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, que é o órgão responsável por captar e distribuir valores pagos pela execução de canções em eventos e nos mais diversos tipos de mídia.
A história de “O Mundo É um Moinho” (1976)
Lançada pelo próprio Cartola, em seu segundo disco – Cartola II, de 1976 – O Mundo É um Moinho foi regravada também por grandes nomes da MPB como:
- Cazuza;
- Ney Matogrosso;
- Nelson Gonçalves;
- e Beth Carvalho.
A música foi composta em 1943, para a filha adotiva de Cartola, Creusa, que era afilhada de sua primeira esposa, Deolinda, e que foi morar com o casal aos cinco anos, depois da morte dos pais.
Uma das canções mais belas da MPB, trata-se de um ensinamento sobre as durezas da vida e o cuidado que é preciso sobre decisões a tomar quando se torna adulto.
“Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar”
Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos o aniversariante Cartola.
Por: Lívia Nolla