Claudette Soares completa 90 anos neste 31 de outubro. Nove décadas de vida, dentre as quais, oito delas – sim, 80 anos! – foram dedicadas à música!
Pioneira e dona de uma voz marcante, Claudette Soares é uma das artistas que mais ajudaram a moldar a sonoridade da música brasileira. Uma carreira que começou ainda menina, na era de ouro do rádio, e atravessou gerações com frescor e autenticidade.
Da “Princesinha do Baião” à Bossa Nova
Nascida no Rio de Janeiro, em 1935, a cantora começou a carreira ainda criança – aos 10 anos – cantando no rádio, quando foi revelada no programa “A Raia Miúda”, de Renato Murce, na Rádio Nacional, apresentado diretamente do Teatro João Caetano.
Apresentou-se também no programa “Clube do Guri”, da Rádio Mauá, e no programa “Papel Carbono”, também do radialista Renato Murce. Na Rádio Tupi, Claudette participou do programa “Salve o Baião!”, quando conheceuLuiz Gonzaga, o Rei do Baião, que a apelidou de “Princesinha do Baião”.
Ainda na década de 1950, na Rádio Tamoio, ela apresentou – ao lado da cantora potiguar Ademilde Fonseca – o programa “No Mundo do Baião”, de Zé Gonzaga, irmão de Gonzagão.
No final dos anos 1950, um convite da amiga Sylvinha Telles para substituí-la como cantora do Plaza (RJ) mudou o rumo de sua carreira. Dividindo o palco com nomes como Luís Eça, João Donato, Baden Powell e Milton Banana, Claudette começou a se firmar como uma das grandes vozes da nascente Bossa Nova.
Os anos 60 e a consagração como Dona da Bossa
Em 1960,convidada por Ronaldo Bôscoli, Claudette apresentou-se no show “A noite do amor, do sorriso e da flor”, na antiga Faculdade de Arquitetura do Rio de Janeiro e participou também do programa de TV “Brasil 60”, da apresentadora e atriz Bibi Ferreira, na TV Excelsior.
Ainda em 1960, a cantora participou do disco “Nova geração em ritmo de samba” e começou a divulgar as canções da Bossa Nova em São Paulo, nas casas noturnas Baiúca, Cambridge, João Sebastião Bar e Ela, Cravo e Canela.
Em 1964, gravou seu primeiro LP solo “Claudette é Dona da Bossa”, em que se destacam músicas como “Garota de Ipanema” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), e “Tristeza de Nós Dois” (Durval Ferreira, Bebeto e Maurício Einhorn). No ano seguinte, gravou “Claudette Soares”, LP que incluiu, entre outras, a canção “Primavera” (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes).
A consagração veio em 1966, com o espetáculo “Primeiro tempo 5×0”, ao lado de Taiguara e do Jongo Trio, e o Troféu Euterpe de Melhor Cantora do Ano.
Festivais, Jovem Guarda e paradas de sucesso
Contratada pela Rede Record, Claudette brilhou no programa “Jovem Guarda”, interpretando “Como é grande o meu amor por você”, de Roberto Carlos. Pouco depois, gravou um álbum com músicas de Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso, reafirmando sua conexão com os grandes compositores da MPB.
Nos anos seguintes, emplacou o sucesso “De Tanto Amor”, de Roberto e Erasmo Carlos, que permaneceu 56 semanas consecutivas nas paradas.
Nos anos 70, Claudette fixou-se em São Paulo, onde recebeu o título de Cidadã Paulistana. Idealizou uma série de discos com Dick Farney, dos quais apenas dois foram gravados antes do falecimento do cantor.
Em 1970, participou do V Festival Internacional da Canção, interpretando a canção “Mundo Novo, Vida Nova”, de Gonzaguinha.
Após um breve afastamento, retornou aos palcos nos anos 1990, com shows marcantes como “Nova Leitura”, “Não há Mulheres Iguais” e “Claudette Soares interpreta Vinicius”.
Celebrando a Bossa e o tempo
Entre os anos 2000 e 2010, a artista revisitou grandes momentos da sua trajetória com projetos que misturaram memória e renovação. Lançou o álbum “Claudette Soares ao vivo” (2000), participou de espetáculos como “Pano de Fundo” e lançou a coletânea “A Bossa Sexy de Claudette Soares”.
Nos anos seguintes, retomou sua relação com a Bossa Nova em álbuns e shows dedicados a Taiguara, Vinicius de Moraes, Ivan Lins, Gonzaguinha e tantos outros parceiros de jornada. Em 2012, lançou o CD “A Dona da Bossa”, reafirmando o título que se tornou sua marca.
Novas e antigas parcerias e a celebração de uma vida musical
A vitalidade artística de Claudette segue impressionante. Em 2018, aos 80 anos, dividiu o palco com o jovem cantor pernambucano Ayrton Montarroyos em um show dedicado à MPB. No ano seguinte, lançou o álbum “Se eu pudesse te dizer tudo o que eu sinto”, com repertório de Silvio César.
Ainda em 2018, a cantora lançou o álbum “60 anos de Bossa Nova”, ao lado da amiga de longa data, Alaíde Costa, que também celebrará 90 anos agora em 2025. As duas – inclusive – apresentaram um show juntas no festival The Town 2025.
Em 2020, Claudette Soares a cantora participou do disco “As Divas do Sambalanço”, dedicado exclusivamente ao gênero, em que divide as interpretações com as cantoras Eliana Pittman e Doris Monteiro.
Mais recentemente, em 2023, gravou ao lado de Chico Buarque a canção “Cadê você (Leila XIV)”, música de Chico Buarque e João Donato, produzida por Renato Vieira e Thiago Marques Luiz. O single é um tributo aos 55 anos do histórico álbum “Gil-Chico-Veloso por Claudette Soares”, de 1968.
Em 2024, lançou o seu mais recente álbum “Claudette canta Chico”, com direção de Thiago Marques Luiz, e o single “O prazer de viver para mim é você”, composto por Guilherme Arantes – prova de que sua sensibilidade continua tão viva quanto no início da carreira.
Aos 90 anos, Claudette Soares é mais que uma cantora: é um elo entre o passado e o presente da música brasileira. Um viva a esta potência da nossa música!



