A compreensão sobre o papel do colesterol na saúde cardiovascular passou por uma verdadeira transformação nos últimos anos. Evidências científicas robustas mostram que reduzir de forma intensa o colesterol LDL – o chamado “colesterol ruim” – é não apenas seguro, como altamente eficaz para prevenir infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs). De acordo com o cardiologista André Zimerman, esse novo olhar da medicina levou à criação de uma categoria inédita: o “risco cardiovascular extremo”.
Os estudos que embasam essa mudança acompanharam centenas de milhares de pacientes ao redor do mundo e revelaram que níveis muito baixos de LDL não trazem prejuízos cognitivos nem efeitos colaterais relevantes. Pelo contrário: reduzem de maneira expressiva a ocorrência de eventos cardiovasculares e diminuem o risco de morte. Para pessoas que já sofreram múltiplos eventos – como infartos e derrames -, a recomendação atual é manter o LDL abaixo de 40 mg/dL, uma meta que até pouco tempo atrás parecia impossível.

O que muda na prática: quanto menor o LDL, menor o risco
A relação entre LDL e obstrução das artérias é direta: níveis mais baixos representam menor chance de formação de placas e, consequentemente, menor risco de eventos cardiovasculares. Mesmo indivíduos considerados de baixo risco devem se manter atentos – a meta nessa população é manter o LDL abaixo de 115 mg/dL. “Hoje não existe nível mínimo perigoso de LDL. O que existe é a necessidade de personalizar as metas de acordo com o risco do paciente”, reforça Zimerman.
Outro ponto que ganha destaque é a lipoproteína(a), molécula semelhante ao LDL e determinada geneticamente. Cerca de 20% da população apresenta níveis elevados, muitas vezes sem saber. Como essa condição aumenta significativamente o risco cardiovascular, a recomendação é realizar o exame pelo menos uma vez na vida. Por ser estável e definido pela genética, não precisa ser repetido – e seus resultados podem orientar o rastreamento familiar.
Avanços científicos, desafios brasileiros
Embora novas terapias ofereçam controle mais preciso para quem tem colesterol persistentemente elevado, a base da prevenção segue alicerçada em hábitos saudáveis. Alimentação equilibrada, atividade física regular e controle do peso continuam sendo pilares essenciais, reduzindo não apenas o colesterol, mas também o risco de hipertensão, diabetes e outras doenças crônicas.
O cenário nacional, no entanto, acende um alerta. O aumento do sedentarismo, da obesidade e de padrões alimentares inadequados contribui para índices preocupantes de doenças cardiovasculares. Zimerman destaca a importância de ampliar o olhar para além das decisões individuais: políticas públicas, educação em saúde e estímulo a comportamentos saudáveis desde a infância são fundamentais para frear o avanço dessas doenças.
Com exames simples, acompanhamento médico regular e tratamento personalizado, é possível identificar precocemente pessoas com maior risco e evitar grande parte dos danos causados pelas doenças cardíacas. “Controlar o colesterol é uma das estratégias mais poderosas que temos para prevenir infartos e AVCs”, afirma o especialista.


