Conheça Nora Ney, uma das mais importantes cantoras do rádio

20 de março seria aniversário de Nora Ney, umas das mais importantes cantoras do rádio no Brasil. Hoje, vamos saber mais sobre a vida e a obra da artista.

Quem foi Nora Ney?

Nascida Iracema de Sousa Ferreira, no bairro de Olaria, no Rio de Janeiro, em 20 de março de 1922 em Olaria, Rio de Janeiro, Nora Ney passou a usar esse nome artístico quando ganhou notoriedade como cantora, compositora e instrumentista. Antes disso, usou também o nome Nora May.

Fascinada com o mundo da música, frequentava assiduamente programas de rádio e de auditório durante sua juventude. Nora Ney teve sua carreira incentivada por seu pai, que lhe presentou com um violão, que ela aprendeu a tocar sozinha.

Quando morou na Urca, Nora Ney conheceu o cantor, compositor e pianista Dick Farney e sua esposa Cibele, e passou a se apresentar com eles em pequenos eventos. Foi quando conheceu o cantor Lúcio Alves, que participava de reuniões do fã-clube Sinatra-Farney, na casa do casal.

Mais tarde, esse foi oficializado nos livros de história como o primeiro fã-clube da história do Brasil, que também contava com nomes como Johnny Alf, João Donato e Carlos Manga. Todos esses contatos fizeram Nora Ney conhecer o diretor da Rádio Tupi, que a contratou para cantar no programa noturno “Fantasias Musicais”.

Com sua fama crescendo cada vez mais, foi convidada por Almirante – importante nome do rádio – para trabalhar no quadro “Viva o Samba” no programa “G-3”, como substituta da cantora Aracy de Almeida durante suas férias.

Foi então que o Almirante e o também compositor Haroldo Barbosa começaram a pedir para que Nora adicionasse canções brasileiras ao seu repertório (antes ela só cantava em inglês e francês) e a cantora passou a interpretar também canções de Noel Rosa, Dorival Caymmi, Ary Barroso e outros compositores brasileiros, aumentando ainda mais seu sucesso.

Nora Ney passou a cantar como crooner no Copacabana Palace e, com o sucesso, conseguiu um contrato na Rádio Nacional, onde firmou picos de audiência no programa “Quando Canta o Brasil” às 21hrs. Mais tarde, devido a grande demanda, Ney também começou a aparecer em outros programas de rádios, como “Trio do Osso”, da Mayrink Veiga.

Os primeiro discos 

Cada vez mais popular, a voz de Nora Ney rapidamente chamou atenção de produtores musicais. Em 1952, pela gravadora Continental, a cantora gravou dois discos de 78 rotações. 

Seu segundo disco de 78 rotações, que continha as faixas “Ninguém Me Ama” (de Fernando Lobo e Antônio Maria) e “Amor Meu Grande Amor” (de H. Crolla), lançado em 1952, firmou Nora Ney como a primeira cantora brasileira na história a conseguir um disco com com certificado de ouro, quando o mesmo atingiu a marca de 300 mil cópias.

O grande sucesso de “Ninguém Me Ama” foi mais tarde regravado pelo cantor estadunidense Nat King Cole, quando o mesmo esteve em turnê no Brasil e apaixonou-se pela canção.

Uma mulher à frente do seu tempo, em 1953, Nora Ney lançou a canção “Preconceito”,  bolero composto por Antônio Maria e Fernando Lobo, que tornou-se um hino entre o público LGBT da época.

Seu primeiro LP foi lançado em 1954 com o nome de “Canta Nora Ney”.

Outras canções de sucesso em sua voz, que renderam à Nora Ney o apelido honorário de “Rainha da Rádio”, em 1963, são:

  • De Cigarro Em Cigarro (Luiz Bonfá)
  • Índia (de José Asunción Flores e Manuel Ortiz Guerrero)
  • É Tão Gostoso, Seu Moço (de Chocolate e Mário Lago)
  • Se Eu Morresse Amanhã (de Antônio Maria)
  • Menino Grande (de Antônio Maria)
  • Felicidade (de Antônio Almeida e João de Barro)
  • Duas Lacraias (de João de Barro)

Muitos pesquisadores também a colocam como a primeira intérprete brasileira a gravar uma canção de rock’n roll, ao interpretar “Ronda Das Horas”, versão do clássico “Rock Around the Clock”, sucessodo estadunidense Bill Haley, em outubro de 1955, na trilha sonora da versão brasileira do filme “Sementes da Violência”. 

Nora, até então intérprete de boleros e samba-canção, foi escolhida por ter a pronúncia perfeita do inglês e sua versão da música foi um imenso sucesso e atingiu o topo das paradas de sucesso do país em uma semana.

Entretanto, apesar do grande sucesso, Nora não se familiarizou com o estilo e dois anos mais tarde, gravou uma faixa intitulada “Cansei de Rock“, de Armando Cavalcanti e Moacir Falcão.

Nora Ney também cantou canções para os filmes brasileiros “Carnaval Atlântida” e “Carnaval em Caxias”.

Sucesso internacional e perseguição pela ditadura

Ao lado de Jorge Goulart (seu marido e companheiro musical até o fim da vida, com quem passou a viver depois de ter um primeiro casamento conturbado, em que foi vítima de violência doméstica e no qual teve dois filhos), Nora Ney saiu em turnê internacional por países da América do Norte e do América do Sul, na Europa, na África e no Oriente Médio, tornando-se também uma das primeiras cantoras brasileiras a apresentar nos chamados “países da cortina de ferro” no leste europeu, o bloco socialista, durante a Guerra Fria.

Em 1958, a convite do Presidente do Brasil Juscelino Kubitschek, acompanhada de outros artistas, a cantora ingressou em uma caravana artística com a finalidade de preparar a reaproximação com a União Soviética e a China. A turnê fez muito sucesso e resultou em seguidas viagens de Nora Ney para esses locais nos anos seguintes, incluindo um show para um público de 45 mil pessoas na China.

A cantora Nora Ney | Imagem: Reprodução

Nora Ney foi uma das primeiras artistas e uma das poucas mulheres assumidamente de esquerda de sua época, sendo oposicionista ao regime militar no Brasil, tendo que exilar-se na Rússia devido à perseguição que sofreu.

Apenas em 1968 ela retornou ao território nacional, onde continuou sua carreira de sucesso e ganhando o apelido de “Deusa”. Ao retornar para o Brasil, lançou “Mudando de Conversa” seu primeiro disco em oito anos.

Em 1972, assinou com a Som Livre, onde lançou o álbum “Tire seu Sorriso do Caminho, que Eu Quero Passar com a Minha Dor”, contando com antigos sucesso e novas canções, como “Conselho” (de Denis Brean e Osvaldo Guilherme) e “A Flor e o Espinho” (de Nelson Cavaquinho, Alcides Caminha e Guilherme de Brito).

Em 1973 e em 1975, sua interpretação das canções “Quem És? (Chi Sei?)” (versão de Toquinho e Vinicius de Moraes para música de Sergio Endrigo e Sergio Bardotti) e “Bar da Noite” (de Bidú Reis e Haroldo Barbosa) fizeram parte das trilhas sonoras das telenovelas brasileiras da TV Globo, “O Bem-Amado” e “Gabriela”, respectivamente. 

Últimos anos de Nora Ney

Nora Ney seguiu fazendo projetos musicais de muito sucesso, como um espetáculo em comemoração aos seus 30 anos de união com Jorge Goulart e outro chamado “As Eternas Cantoras do Rádio”, em 1989 e que virou disco em 1992, ao lado de Carmélia Alves, Zezé Gonzaga, Ellen de Lima, Rosita Gonzales e Violeta Cavalcanti.

Em 1979, Nora passou por sérios problemas de saúde por conta de um câncer na bexiga, do qual se recuperou. Até que em 1992, durante um show no clube carioca Fluminense, Nora sofreu um acidente vascular cerebral e as sequelas do acidente fizeram com que ela tivesse que se afastar dos palcos, consequentemente, aposentando-se. 

Em 2000, foi homenageada por Elymar Santos em um de seus shows no Canecão, onde em cadeira de rodas, cantou seu maior sucesso, “Ninguém Me Ama”. A cantora faleceu aos 81 anos, em outubro de 2003, por falência de múltiplos órgãos.

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