A música popular brasileira, em suas diferentes gerações, sempre deu voz s diversas formas de sentir o amor. Pode ser livre, visceral e dramático, poético e místico, cotidiano e delicado, ou até rebelde e cru.
As intérpretes femininas ajudaram a colocar em melodias a forma como o brasileiro entende os relacionamentos. Suas canções criaram uma memória afetiva coletiva, quem nunca viveu um romance embalado por versos de Marisa Monte, Gal Costa ou Marília Mendonça?
As divas da música brasileira e os tipos de amor
1. Gal Costa – O amor livre e tropical
Gal Costa – O amor livre e tropical
“Baby, baby, I love you.” Em Baby, Caetano Veloso transformou uma lista de objetos triviais — sorvete, margarina, gasolina — em poesia, e Gal Costa deu a esses versos um tom de declaração íntima. As referências cotidianas, aparentemente banais, viram metáforas de cumplicidade: um amor que se constrói nos detalhes simples, sem precisar de grandes gestos. Na interpretação de Gal, o amor não é preso a convenções, mas livre, curioso, aberto ao mundo.
Gal foi assim dentro e fora do palco: ousada ao cantar de costas em festivais, irreverente ao desafiar censuras, e livre ao admitir que se apaixonava por pessoas, não por gêneros. De Meu Nome é Gal à leveza de Chuva de Prata, seu repertório reafirma que o amor pode ser vivido sem fronteiras.
Se você ama com liberdade, curiosidade e coragem de inventar seus próprios caminhos, sua diva é Gal.
2. Elis Regina – O amor visceral e dramático
“Quando olhaste bem nos olhos meus e o teu olhar era de adeus, juro que não acreditei.” Em Atrás da Porta, de Chico Buarque e Francis Hime, Elis Regina entregou talvez uma de suas interpretações mais intensas: a dor de um amor que termina de forma brusca, vivida com desespero e paixão ao mesmo tempo.
Sua voz dramatiza cada gesto descrito na letra, arranhar, se arrastar, reclamar baixinho, e transforma o sofrimento íntimo em uma cena quase teatral.
Conhecida como a “Pimentinha”, Elis era assim também fora do palco: visceral, sem meio-termo, exigente consigo e com os outros. O amor, na sua voz, era sempre total, capaz de humilhar e exaltar, de destruir e de reafirmar.
Se você ama como quem enfrenta tempestades, entre o arrebatamento e o abismo, sua diva é Elis.
3. Maria Bethânia – O amor místico e poético
“Quando você me quiser rever / já vai me encontrar refeita, pode crer.” Em Olhos nos Olhos, de Chico Buarque, Maria Bethânia canta a força da mulher que renasce depois da perda. A canção, que poderia ser lamento, em sua voz se transforma em rito de recomposição, ela olha nos olhos do antigo amor não para pedir, mas para afirmar que seguiu em frente, rejuvenescida, amada e inteira.
Nos palcos, Bethânia acende velas, declama Vinicius de Moraes e Fernando Pessoa, mistura oração e poesia, como se cada apresentação fosse um ritual. Amar, para ela, pode ser transcendência, envolve dor, sim, mas sobretudo renascimento.
Se você ama buscando profundidade, poesia e transformação, sua diva é Maria Bethânia.
4. Marisa Monte – O amor delicado e cotidiano
“Ainda bem que agora encontrei você.” Em Ainda Bem, Marisa Monte canta o amor com simplicidade e verdade, um encontro que traz alívio, segurança e parceria. Sua forma de interpretar revela um afeto que não precisa de exageros, porque está presente nos gestos diários, no cuidado, no olhar, na partilha da rotina.
Já em Velha Infância, com os Tribalistas, transformou essa intimidade em canto coletivo, uma declaração tão sincera que virou trilha de casamentos e histórias de amor reais. Marisa une lirismo e sutileza, mostra que amar também é construir no silêncio, no cotidiano, nos detalhes que se repetem.
Se você acredita que o amor se fortalece na delicadeza do dia a dia, sua diva é Marisa.
5. Cássia Eller – O amor rebelde e cru
“Quem sabe ainda sou uma garotinha.” Em Malandragem, de Cazuza e Frejat, Cássia Eller cantou as contradições do amor com a mesma intensidade que vivia, vulnerável e forte, frágil e potente.
Sua voz rasgada e sua presença de palco, muitas vezes de chinelo, camiseta e uma energia elétrica incontrolável, mostravam que a autenticidade sempre vinha antes de qualquer aparência.
Para Cássia, amar era viver sem máscaras, podia ser doce, mas também era dor, desejo e excesso. Canções como E.C.T. e Segundo Sol ampliaram essa entrega crua, transformaram sua trajetória em um retrato da paixão vivida até o limite.
Se você ama sem filtros, com verdade absoluta e coragem de se expor, sua diva é Cássia.
6. Rita Lee – O amor irreverente e divertido
“Nada melhor do que não fazer nada / só pra deitar e rolar com você.” Em Mania de Você, parceria com Roberto de Carvalho, Rita Lee transformou o amor em jogo de sedução, parceria e prazer. Com ironia e sensualidade, fala de um relacionamento em que a rotina se quebra pelo riso, pela fantasia e pela intimidade sem pudor.
Ícone do rock brasileiro, Rita sempre tratou o amor como liberdade: sem regras fixas, cheio de invenção e humor. Em seu repertório, paixão e amizade se confundem, mostrando que amar também é se divertir a dois.
Se você ama com irreverência, riso e prazer em cada detalhe, sua diva é Rita Lee.
7. Alcione – O amor que é paixão e intensidade
“Você me vira a cabeça, me tira do sério, destrói os planos que um dia eu fiz pra mim.” Em um dos maiores sucessos de sua carreira, Alcione dá corpo ao amor arrebatador, que domina sem pedir licença. Conhecida como a “Marrom”, ela fez do samba-canção e do bolero uma arte de cantar paixões avassaladoras, sempre com uma interpretação visceral.
Músicas como Estranha Loucura, Meu Ébano e Você Me Vira a Cabeça transformaram seus shows em verdadeiras explosões emocionais, em que o público se reconhece na intensidade dos versos. O amor, para Alcione, é febre e rendição, impossível de controlar, mas irresistível de viver.
Se você ama de forma intensa, mesmo sabendo dos riscos, sua diva é Alcione.
8. Elza Soares – O amor que enfrenta e deseja
“Se acaso você chegasse no meu choro e encontrasse aquela mulher que você gosta, será que tinha coragem de trocar nossa amizade por ela?” Foi com Se Acaso Você Chegasse, clássico de Lupicínio Rodrigues que Elza gravou no início da carreira, que o Brasil descobriu sua voz única. A canção fala de ciúme e insegurança, mas na interpretação de Elza se transforma em espetáculo de desejo e intensidade.
Sua rouquidão inconfundível deu novo peso ao samba e mostrou que o amor também pode ser possessivo, arrebatador e corajoso. Ao longo da carreira, em músicas como Lama, ela continuou a explorar as dores e paixões de quem ama sem meias medidas.
Se você ama de forma intensa, entre o medo da perda e a chama da paixão, sua diva é Elza.
9. Vanessa da Mata – O amor solar e otimista
“Acabou, boa sorte.” Assim começa a canção que Vanessa da Mata gravou em parceria com Ben Harper e que se tornou um marco em sua carreira. Longe de ser um fim amargo, a música traz uma despedida que acolhe: em vez de mágoa, há desejo de cura, de que o outro siga em frente.
O amor, na voz de Vanessa, é firme o suficiente para reconhecer o que não dá mais certo, mas também generoso a ponto de desejar o bem depois do fim. Sua forma de cantar o amor é solar, mesmo nos términos, há esperança e recomeço.
Se você ama acreditando que todo fim também é um começo, sua diva é Vanessa.
10. Ivete Sangalo – O amor festa e expansivo
“Se eu não te amasse tanto assim.” Com essa balada romântica, Ivete Sangalo mostrou que também sabe ser intimista, mas sua marca registrada é transformar sentimentos em festa. No trio elétrico ou em grandes estádios, canta o amor como quem puxa um bloco, rindo, chorando e dançando junto com a multidão.
Em Flor do Reggae, mistura paixão e sensualidade com a cadência do axé e em Quando a Chuva Passar, revela a força da esperança no recomeço. Mais do que cantar para alguém, Ivete canta para todos, tornando cada declaração de amor coletiva, compartilhada.
Se você ama como quem transforma a vida em carnaval, sua diva é Ivete.
11. Beth Carvalho – O amor que é samba e devoção
“Vim, tanta areia andei / Da Lua cheia, eu sei / Uma saudade imensa.” Em Andança, Beth Carvalho transformou caminhada e saudade em poesia de amor. A canção, lançada no Festival Internacional da Canção em 1968, revelou sua voz ao grande público e marcou uma geração.
Na interpretação de Beth, o amor é estrada, é busca, é promessa de reencontro: “Por onde for, quero ser seu par.” Ao longo da carreira, ela se tornou a “Madrinha do Samba”, revelou novos compositores e levou o gênero a multidões, mas nunca deixou de cantar a paixão como parte da vida.
Se você ama como quem caminha junto, transforma saudade em música e celebração, sua diva é Beth.
12. Iza – O amor empoderado e cotidiano
“Você me traz sorte / É o meu talismã / Sonho com você / Quero ter você todas as manhãs.” Em Meu Talismã, Iza mostra um lado íntimo e afetuoso, em que o amor é porto seguro e também parceria no dia a dia. Entre versos de leveza e humor, como quando canta sobre “boletos” ou ouvir pagodinho para esquecer as dores, ela transforma as dificuldades da vida em cumplicidade amorosa.
Essa mistura de romance, realidade e sensualidade marca a força de sua obra. No palco, Iza é potência e representatividade, mas também traduz a simplicidade de amar alguém que divide sonhos, risadas e até as contas do mês.
Se você ama com entrega, equilíbrio entre ternura e força, transformando rotina em poesia, sua diva é Iza.
13. Roberta Sá – O amor lírico e moderno
“Quando a gente gosta, o amor é um caso sério / e tem lá seus mistérios pra contar.” Em Um Sonho a Dois, Roberta Sá traduz o amor como um encantamento cotidiano, feito de olhares, sorrisos e cumplicidade. Sua voz cristalina, capaz de equilibrar leveza e intensidade, transforma versos simples em poesia.
Ao lado de nomes como Pedro Mariano e Os Cariocas, deu nova vida a essa canção romântica, lembrando que o amor pode ser sério sem deixar de ser doce. Ao longo da carreira, Roberta sempre transitou entre o samba, a MPB e a modernidade, mas em todas as fases mostrou que cantar o afeto é sua especialidade.
Se você ama com delicadeza, acreditando na força dos gestos sutis e dos mistérios compartilhados, sua diva é Roberta Sá.
14. Céu – O amor alternativo e urbano
“Me deixa entrar, me deixa ficar aqui.” Em Malemolência, Céu canta o amor com suavidade sedutora, como quem pede espaço para existir dentro da vida do outro. A paulista conquistou reconhecimento internacional com seu primeiro álbum, indicado ao Grammy, e desde então é vista como uma das vozes mais inventivas da cena contemporânea. No seu universo, o amor é íntimo, mas também cosmopolita: cabe tanto no silêncio de um quarto quanto no ritmo frenético da cidade.
Se você ama de forma livre, criativa e sem fórmulas prontas, sua diva é Céu.
15. Duda Beat – O amor da sofrência pop
“Eu fui pro baile, Tava carente, precisando de um amor, Chegando lá, Eu vi você e foi me dando um calor”. Em Meu Jeito de Amar, Duda Beat transforma o desejo e a carência em batida dançante, assume um jeito despudorado e divertido de falar sobre paixão.
Recifense, ela cresceu com o brega no ouvido e levou essa influência para um pop eletrônico que conquistou as pistas. Sua marca é unir vulnerabilidade e pista de dança: sofre, mas sem abrir mão da catarse. O público a coroou “rainha da sofrência pop” porque em suas músicas dá para chorar, rir e dançar ao mesmo tempo.
Se você ama intensamente, sofre mas encontra na música o jeito de se libertar, sua diva é Duda Beat.
16. Marília Mendonça – O amor da sofrência sertaneja
“Infiel, eu quero ver você morar num motel.” Com esse verso cortante, Marília Mendonça transformou a dor da traição em hino coletivo. Trouxe para o sertanejo uma perspectiva feminina inédita, nas suas músicas, as mulheres não eram apenas personagens secundárias, mas protagonistas que sofriam, se vingavam, recomeçavam.
Expôs vulnerabilidades que qualquer pessoa poderia reconhecer, enquanto em Infiel fez multidões cantarem em coro a raiva e a coragem de enfrentar um amor quebrado. Sua força estava em mostrar que sofrer de amor também pode ser partilhar e se reconhecer no outro.
Se você ama intensamente, se decepciona, mas encontra força na própria voz para recomeçar, sua diva é Marília.
17. Liniker – O amor visceral e corajoso
“Zero / Me diz o que é que eu tenho pra fazer pra você me notar.” No primeiro grande sucesso da carreira, Liniker expôs a vulnerabilidade do amor não correspondido com uma força rara na música contemporânea. Sua voz grave e potente transforma confissão em arrebatamento, como se cada verso fosse vivido no corpo.
“Quando eu alçar o voo mais bonito da minha vida / quem me chamará de amor, de gostosa, de querida?”, Já em Caju, Liniker expõe o amor como vulnerabilidade e esperança, o medo de não ser acompanhada na caminhada, mas também o desejo de encontrar quem acolha suas fragilidades. A canção, lançada em 2023, é um retrato da maturidade da artista.
Sua voz grave, potente e emotiva transforma confissões íntimas em declarações universais, fazendo com que cada verso seja vivido no corpo de quem ouve. Amar, para Liniker, é ato de coragem e testemunho: é pedir para não correr sozinha, é transformar medo em poesia, é assumir que a vida ganha sentido na partilha.
Se você ama com verdade absoluta, coragem e intensidade sem reservas, sua diva é Liniker.
18. Dona Ivone Lara – O amor que é esperança e eternidade
“Acreditar, eu não / Recomeçar, jamais.” Em Acreditar, composta por Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho em 1976, o amor aparece como ruptura definitiva. A canção fala de quem foi deixado para trás e, quando reencontra o antigo parceiro, já não se dispõe a voltar. Ela seguiu em frente, “mora nos braços da paz” e não aceita mais o passado.
A força dessa música está no contraste entre a doçura da melodia e a firmeza da letra, é a recusa do recomeço, o gesto de dignidade diante da dor. Interpretada por Dona Ivone, pioneira no samba, esses versos ganharam ainda mais peso, na voz de uma mulher que enfrentou preconceitos, conquistou respeito em um espaço dominado por homens e transformou desilusões em arte.
Se você ama com coragem de encerrar ciclos e seguir adiante, sua diva é Dona Ivone Lara.
Qual diva canta o seu jeito de amar?
Não existe uma única forma de viver o amor. Ele pode ser livre, visceral, espiritual, festivo, sofrido ou cheio de descobertas. Com essas divas, aprendemos diferentes formas de expressar sentimentos no Brasil. Relembre as histórias que deram certo, as que acabaram, as que são impossíveis de esquecer e quais eram as trilhas que te acompanharam. Seja qual for o seu jeito de amar, sempre haverá uma voz para traduzi-lo em melodia.



