Desigualdade de gênero em cargos de liderança política

Na história do país, tivemos somente uma presidente, Dilma Rousseff. Entre 11 candidatos, quatro mulheres tentaram a presidência do país em 2022.

Em entrevista à reportagem Soraya Thronicke, atual senadora pelo Mato Grosso do Sul, relatou como foi difícil a corrida pela presidência: “Eu e a então candidata a senadora Simone Tebet, fomos as mais atacadas nas redes sociais, com toda a espécie de xingamento que você possa imaginar. Foi uma avalanche surreal”, disse.

Mesmo sendo uma das candidatas com maior evidência, o partido decidiu cortar a verba de sua campanha: Foi muito sofrido porque eu, naquele momento, era membro do maior partido do Brasil, o que tinha o maior fundo eleitoral. Quando eu pontuei, começaram a cortar o recurso. Terminei a minha campanha, devendo, eu precisava implorar para que o partido pagasse. Nós chegamos a cogitar abandonar a campanha no meio dela. Aquilo foi um ato de violência política de gênero, não de todos do partido”, contou a senadora.

No cenário regional, mulheres são 13% dos prefeitos eleitos em 2024, sendo apenas duas em capitais. Apesar de desigual, foi o maior número de eleitas da história. No último pleito, a primeira prefeita de Serra Talhada, Márcia Conrado, foi reeleita no município do sertão de Pernambuco: Uma terra de Lampião que eu digo que eu tenho o desafio de transformar na terra de Maria Bonita, contou Marcia Conrado.

Com uma câmara composta por 88% de homens, ela já entrou na política ciente dos desafios: “Sabia que o machismo cultural enraizado aqui na nossa terra seria um desafio gigante para superá-lo. Eu tenho dito que para as mulheres, vencer esse tipo de preconceito é o maior desafio para que a gente possa ocupar lugares de poder. É importante que a gente ocupe os lugares de poder para que a gente possa realmente viver uma democracia”, relatou.

Para a prefeita, quando há uma mulher no cargo de liderança a inclusão se torna uma das prioridades: “Fiz uma escolha de não colocar só na Secretaria de Saúde ou de Assistência Social, não. Hoje a Guarda Municipal, ela é comandada por uma mulher, a Secretaria de Finanças é comandada por uma mulher, a de planejamento é comandada por uma mulher”, celebrou á reportagem.

Atualmente, de 27 governadores, apenas duas são mulheres. O resultado é o segundo maior número da presença feminina no comando de governos estaduais. O pico foi em 2006, com três. 

Desde a redemocratização, 10 mulheres chegaram a frente dos estados. UmA delas é Yeda Crusius, ex-governadora do rio grande do sul, em 2006, e ex-ministra do governo Itamar Franco: “Sempre fui a única ou das muito poucas, né? Sempre os preconceitos estavam ali exatamente por sermos poucas, contou a ex-govenadora.

Ao vivenciar a força da bolha masculina precisou de estratégias para que o estado escutasse a potência de sua voz: “Eu disse: ‘Se há alguma coisa que ainda causa reações negativas, isto é a voz da mulher na política’. Eu olhei para um companheiro meu que tinha vindo de Brasília e disse: ‘Olha, se aceita ser meu porta-voz’. Porque há momentos em que a voz da mulher, ela gera uma reação que prejudica aquilo que a gente tá buscando. E então eu escolhi um porta-voz masculino, revelou.

Enquanto as coisas não mudam, no poder executivo os números traduzem a realidade, como avalia a doutora em ciências políticas Hannah Maruci: “Entende muito mais como lugar do homem esse lugar de liderança. Quando a gente vai ver quais são as características que são atribuídas ao homem, está muito mais ligado à decisão, à assertividade. Quando uma mulher performa, ela é entendida como algo ruim, analisou Hannah Maruci.

A deputada federal pelo Rio de Janeiro, Talíria Petrone , é exceção na câmara dos deputados: “A gente está em 2025, eu sou a única mulher líder dentro dos colégios de líderes da Câmara Federal. Muito atrás do que a democracia exige”, contou a deputada.

As amarras do patriarcado estão sendo soltas, ainda que lentamente. E as que furam a bolha servem de exemplo para outras, como é o caso de ex-senadora Ana Amélia: “Muitas diziam: vou me filiar por sua causa, você me inspirou. Você mostra que mulheres podem ser candidatas e fazer um bom trabalho”, disse à reportagem sobre a força da influência feminina na política.

Confira a reportagem completa em áudio: https://www.youtube.com/watch?v=esJnpR24svI

Confira a série completa em formato de podcast: https://open.spotify.com/show/1d0nS6FI7Q3tbbiVgR2ULI?si=4bdaf902448541b0

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