Dia do Amigo: Conheça as amizades mais famosas da MPB!

Existem algumas datas diferentes em que se comemora o Dia do Amigo ou o Dia da Amizade ao redor do mundo, afinal, a amizade é algo que deve ser celebrado todos os dias, certo? 

E o dia de hoje, 20 de julho, é uma dessas datas! Pensando nisso, nós preparamos uma matéria especial para celebrar a amizade e a música, claro!

Existem muitas canções belíssimas da nossa música popular brasileira que falam sobre a amizade. E gente já fez até uma playlist lindona com elas!

E, dessa playlist, nós trouxemos algumas frases icônicas sobre a amizade, eternizadas por clássicos da MPB, que você pode mandar para os seus amigos e suas amigas para celebrar o encontro de vocês:

1 – A amizade, nem mesmo a força do tempo irá destruir!

Quero chorar o seu choro

Quero sorrir seu sorriso 

Valeu por você existir, amigo 🎵

A Amizade – Fundo de Quintal (Djalma Falcão, Bicudo e Cléber Augusto) (1991)

2 – Quem tem um amigo tem tudo 

Se o poço devorar, ele busca no fundo 

É tão dez que junto todo stress é miúdo 

É um ponto pra escorar quando foi absurdo 🎵

Quem Tem um Amigo Tem Tudo – Emicida e Wilson das Neves (2019)

3 – Amigo é coisa pra se guardar 

No lado esquerdo do peito 

Mesmo que o tempo e a distância digam: Não 🎵

Canção da América – Milton Nascimento e Fernando Brant (1979)

4 – Você meu amigo de fé, meu irmão camarada 

Sorriso e abraço festivo da minha chegada 

Você que me diz as verdades com frases abertas 

Amigo você é o mais certo das horas incertas 🎵

Amigo – Roberto Carlos e Erasmo Carlos (1977)

Além disso, neste Dia do Amigo, nós resolvemos fazer outra lista especial: de grandes amizades da nossa MPB que renderam inesquecíveis parcerias musicais.

Afinal de contas, no fim, quem também sai ganhando com essas belas amizades somos nós, que acabamos presenteados com clássicos que – assim como essas amizades na vida de cada um dos artistas – transformaram as nossas vidas para sempre!

Vamos lembrar de algumas delas?

1 – Caetano Veloso e Gilberto Gil

Os baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil se conheceram lá na década de 60, quando Gil já começava a se apresentar em alguns programas de TV da época e Caetano se encantou por aquele artista.

Logo, estavam em seu primeiro trabalho juntos: o espetáculo Nós, Por Exemplo, que inaugurou o Teatro Vila Velha, em Salvador, em 1964, e unia Gil, Caetano, Gal, Bethânia e Tom Zé. 

Em seguida, vieram outros espetáculos juntos, e logo os dois fundaram – ao lado de outros artistas – a Tropicália, um movimento de contracultura que transformou para sempre os rumos da nossa MPB, ao unir elementos tradicionais da música brasileira, com inovações estéticas internacionais, como o rock’n roll. 

Os Festivais de Música Brasileira de 1967 e de 1968, em que apresentaram as canções Domingo no Parque e Questão de Ordem (Gil) e Alegria, Alegria e É Proibido Proibir (Caetano), foi um marco na vida dos amigos e na transformação do que viria a ser a MPB a partir de então.

Depois disso, Caetano e Gil foram presos e exilados juntos em Londres, por conta da forte repressão do regime militar brasileiro. Quando voltaram, tornaram-se ainda mais fortes na defesa da nossa música e da liberdade artística como um todo. Ambos seguiram carreiras maravilhosas na música, independentes um do outro, mas sempre muito ligados.

Em 2015, realizaram juntos a turnê Dois Amigos, Um Século de História, em que comemoraram os 50 anos de carreira de cada um e, no último ano, os dois completam 80 anos de idade!

Entre as principais parcerias dos amigos, estão as obras primas: Divino Maravilhoso, Haiti, Batmacumba, São João Xangô Menino e Panis Et Circenses.

2 – Toquinho e Vinicius de Moraes

Toquinho era grande fã de Vinicius de Moraes e o poeta influenciava grande parte do seu trabalho. Foi quando o cantor, compositor e violonista – estando em Roma para visitar e fazer uma turnê ao lado do amigo Chico Buarque, exilado na Itália por conta da ditadura militar – foi convidado para gravar os violões de um disco de homenagem à obra de Vinicius.

O disco chamava-se – como que numa profecia ao que viria a acontecer – A Vida, Amigo, É A Arte do Encontro.

Vinicius ficou tão impressionado com o trabalho do jovem Toquinho, que o convidou para acompanhá-lo em uma turnê pela Argentina logo em seguida. Desse encontro da vida, surgiu uma das maiores amizades e parcerias da MPB. 

Na ocasião, Toquinho tinha 23 anos e Vinicius, 55. A grande amizade e parceria durou até o último dia da vida do poeta, com 66 anos, em 1980. Toquinho estava hospedado na casa de Vinicius e foi uma das primeiras pessoas a encontrá-lo já sem vida. 

A parceria foi a maior da vida de Toquinho e uma das maiores da vida de Vinicius, rendendo à dupla mais de 20 LP’s, 100 canções e 1000 shows juntos. 

Entre as principais composições dos dois estão as clássicas: Tarde em Itapoã, A Tonga da Mironga do Kabuletê, Samba da Rosa, Sei Lá, A Vida Tem Sempre Razão, Regra Três, e Aquarela.

3 – Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes 

Cantores, instrumentistas e compositores da mesma geração, Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes já eram amigos e parceiros de longa data, quando resolveram formar os Tribalistas, em 2002.

Marisa já havia gravado várias canções de Arnaldo, como Alta Noite, e composto com ele os sucessos Beija Eu, De Mais Ninguém, Bem Leve e Não Vá Embora.

De Brown, a cantora já havia gravado sucessos como Segue o Seco, Maria de Verdade, Magamalabares e Arrepio, e composto com ele as clássicas Na Estrada, ECT e Tema de Amor. Marisa também já tinha produzido um disco do baiano em 1998.

Além disso, os três amigos já haviam escrito juntos as canções Seo Zé e Paradeiro, e Marisa e Brown eram autores do hit Amor I Love You, em que Arnaldo faz uma participação declamando um trecho de Eça de Queirós.

Mas, foi em 2002 – quando Marisa foi gravar uma participação em um disco de Arnaldo, produzido por Brown – que o trio começou a compor despretensiosamente várias canções juntos, que depois decidiram transformar em um disco.

Com o nome de Tribalistas, a banda formada pelos três amigos estourou, o disco foi um sucesso absoluto de público e crítica – nacional e internacional – e ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Pop Contemporâneo Brasileiro. Entre as canções, os super sucessos: Tribalistas (em que se apresentam ao público como Arnaldo, Carlinhos e , apelido de Marisa entre os amigos), Já Sei Namorar, Carnavália, Velha Infância (do trio com Pedro Baby e Davi Moraes) e Passe em Casa (do trio com Margareth Menezes).

Depois, os três voltaram para as suas carreiras solo e continuaram a compor em parceria, como é o caso das canções Infinito Particular (de Marisa e Arnaldo); Vilarejo (de Marisa, Arnaldo, Brown e Pedro Baby), Até Parece (dos três, com Dadi); Universo ao Meu Redor Bonde do Dom, Depois e Verdade, Uma Ilusão (todas do trio).

Em 2017, 15 anos depois do primeiro encontro, os Tribalistas juntaram-se novamente para lançar o segundo álbum, com dez canções inéditas. Entre os novos sucessos, e os hits: Diáspora (composição dos três), Aliança e Fora da Memória (do trio, em parceria com Pedro Baby e Pretinho da Serrinha) e Um Só (do trio, com Brás Antunes).

O mais recente álbum de Marisa, Portas, lançado em julho de 2021, também conta com composições junto com o velho amigo Arnaldo Antunes, além de várias canções em parceria com o filho de Carlinhos, Chico Brown.

Outro que faz parte deste forte círculo de amizade, mesmo não sendo dos Tribalistas, é Nando Reis, que compõe com os três artistas desde o início das suas carreiras até os dias de hoje.

4 – Cássia Eller e Nando Reis

Falando em Nando Reis, uma de suas maiores amizades e parcerias dentro e fora da música foi com a cantora Cássia Eller. Mesmo não tendo composto nenhuma canção juntos, todas as composições de Nando que Cássia cantava viravam uma obra prima. 

Parecia que Nando Reis tinha feito todas aquelas músicas exatamente para se encaixarem na voz de Cássia Eller. E algumas foram mesmo, como é o caso de All Star, que Nando escreveu especialmente para Cássia, como forma de homenagear a grande amizade dos dois: “O tom que eu canto as minhas músicas, na sua voz, parece exato.”.

A amizade entre os artistas começou em 1999, quando Nando foi produzir um disco inteiro de Cássia, chamado Com Você… Meu Mundo Ficaria Completo, com canção homônima escrita por ele, além de outros sucessos de autoria dele e que viraram grandes clássicos na voz de Cássia: O Segundo Sol e As Coisas Tão Mais Lindas.

A partir dali, aconteceu uma conexão de almas e uma amizade profunda – além de uma uma parceria musical muito produtiva – que durou até os últimos dias de vida da cantora.

Entre as canções, também estão as clássicas: Luz dos Olhos, ECT (parceria de Nando com Marisa Monte e Carlinhos Brown) e Relicário, todas parte do disco de maior sucesso de Cássia, o Acústico MTV, que teve direção musical de Nando Reis e Luiz Brasil e no qual o “ruivão” também participa, dividindo com Cássia os vocais de Relicário, numa interpretação inesquecível.​

As canções All Star e No Recreio (também de Nando), estão no álbum póstumo de Cássia, Dez de Dezembro, lançado em 2002, um ano após a partida da cantora e todo produzido pelo amigo, a partir de registros do tipo voz e violão. O disco apresenta faixas em sua maioria inéditas e o título se refere ao dia do aniversário da cantora, que completaria 40 anos em 2002.

5 – Roberto Carlos e Erasmo Carlos

Erasmo foi apresentado a Roberto Carlos, lá nos anos 60, por Arlênio Lívio, integrante da banda The Sputniks, que tinha Roberto e Tim Maia em sua formação. Roberto precisava da letra da canção Hound Dog, sucesso na voz de Elvis Presley, e Arlênio disse que Erasmo seria a pessoa certa para ajudá-lo, pois era um grande fã de Elvis. A partir daí, construíram uma das maiores e mais produtivas amizades da música brasileira, compondo centenas de canções em parceria. 

Splish Splash foi a primeira parceria dos dois: Erasmo fez uma versão da música norte-americana para o álbum do amigo, em 1963.

Quando lançou-se em carreira solo, o Tremendão – nascido Erasmo Esteves – resolveu adotar o “Carlos” no nome artístico, em homenagem a Roberto Carlos e ao produtor Carlos Imperial.

Logo em seguida, Roberto e Erasmo fundaram, junto com Wanderléa, um dos maiores movimentos musicais e culturais de massa do país, que revolucionou o comportamento jovem e a música brasileira: a Jovem Guarda, tendo como principal influência o rock’n roll do final da década de 50, principalmente Elvis, The Beatles e o soul da Motown.

Os três apresentaram um programa com esse mesmo nome, aos domingos, entre os anos de 1965 e 1968, que virou um fenômeno de audiência e mídia. Eles lançaram não só músicas, mas moda, gírias e filmes juntos.

Depois do fim da Jovem Guarda, Roberto e Erasmo seguiram muito amigos e parceiros musicais até os últimos dias da vida de Erasmo, em novembro de 2022. Uma das canções da dupla, inclusive – Amigo –  fala sobre a amizade dos dois e tem letra de Roberto escrita especialmente para Erasmo e em cima de música composta pelo Tremendão“Você meu amigo de fé, meu irmão camarada…”

Outras das principais canções compostas pela dupla são: Festa de Arromba, Minha Fama de Mau, Gatinha Manhosa, É Proibido Fumar, Detalhes, Se Você Pensa, Além do Horizonte, Que Tudo Mais Vá Pro Inferno, Sentado à Beira do Caminho, Eu Sou Terrível, Emoções, As canções que você fez pra mim, As curvas da estrada de Santos, É Preciso Saber Viver, Coqueiro Verde, Olha e tantas outras.

6 – Cazuza e Frejat

Cazuza e Frejat se conheceram quando Cazuza foi fazer um teste para ser vocalista da banda de rock na qual Frejat era guitarrista, o Barão Vermelho, indicado por Leo Jaime.

A voz e interpretação viscerais de Cazuza conquistaram a banda toda e – claro! – ele passou no teste. A partir daí surgiu uma das grandes amizades da música popular brasileira, forte e intensa, com direito a brigas e reconciliações, além de uma parceria musical que fez do Barão Vermelho uma das principais bandas da nossa história e depois também ajudou a consolidar a carreira solo de Cazuza.

Mesmo depois da saída de Cazuza da banda, em 1985, quando Frejat assumiu os vocais, os dois continuaram parceiros e muito amigos até os últimos dias da vida de Cazuza. Frejat fez uma visita ao amigo poucos dias antes dele morrer – com apenas 32 anos, vítima de complicações causadas pelo HIV, em 1990 – e sentiu demais a partida do amigo.

Algumas das icônicas canções da dupla são: Bete Balanço, Ideologia, Maior Abandonado, Pro Dia Nascer Feliz, Malandragem e Todo Amor Que Houver Nessa Vida.

7 – Ângela Maria e Cauby Peixoto

Ambos já partiram e nos deixaram cheios de saudade, mas vocês sabiam que esses dois ícones da música popular brasileira – Ângela Maria e Cauby Peixoto – eram grandessíssimos amigos? Tão amigos que estão enterrados lado a lado?

Quando Cauby faleceu, em 2016, aos 85 anos, Ângela – que o considerava como um irmão, que esteve ao seu lado nos bons e maus momentos – cedeu um espaço no jazigo de sua família para que ele fosse enterrado. Dois anos depois, em 2018, Ângela também nos deixava, aos 89 anos, sendo enterrada ao lado do amigo-irmão.

Os dois começaram as carreiras na época de ouro do rádio, na década de 1950. A primeira vez que cantaram juntos, já nos anos 60, foi a música Samba em Prelúdio, de Vinicius de Moraes e Baden Powell. 

Cauby era dono de uma boate chamada Drink, no Rio de Janeiro, e convidou Ângela – a quem já admirava muito como cantora – para se apresentar por lá. Cauby estava na plateia do show e subiu ao palco para cantar em dueto com ela. 

Ali começava, além de uma belíssima parceria musical (entre duas das maiores vozes da MPB), uma forte amizade, que durou quase 70 anos. Ângela e Cauby gravaram diversos discos e fizeram inúmeras apresentações juntos, em que interpretaram várias canções de sucesso das suas brilhantes carreiras. 

Entre os grandes sucessos cantados pelos dois em parceria, estão boleros, músicas românticas e sambas-canções, como: Alguém Como Tu (de José Maria de Abreu e Jair Amorim), Se Não For Amor (de Benito Di Paula), Apelo (de Baden Powell e Vinicius de Moraes),Começaria Tudo Outra Vez (de Gonzaguinha), Ave Maria No Morro (Herivelto Martins), Tu Me Acostumaste (versão de Carlos Brandão para a canção Tu Me Acostumbraste, de Frank Domínguez), e Contigo Aprendi (de Armando Manzanero, versão de Nazareno de Brito).

Quando Cauby faleceu, em 2016, os dois amigos estavam na turnê 120 Anos de Música, que comemorava os 60 anos de carreira de cada um deles.

E a última lista desta matéria especial sobre o Dia do Amigo, é de Músicas da MPB que foram escritas de amigos para amigo!

Já contamos aqui a história da canção  Amigo – de Roberto Carlos e Erasmo Carlos – e trouxemos mais nove histórias incríveis de canções que foram escritas por grandes nomes da MPB em homenagem a outros grandes nomes da MPB.

01 – Cajuína – Caetano Veloso para Torquato Neto

A canção Cajuína foi composta por Caetano Veloso em homenagem ao poeta e letrista Torquato Neto, que foi seu companheiro e amigo dos tempos de Tropicália

Torquato se suicidou em 1972, muito jovem, apenas um dia depois de completar 28 anos. E Caetano ficou muito impactado e sofreu muito com essa perda, mas conta que não conseguiu chorar na época. 

Anos depois, ao fazer um show em Teresina, cidade onde Torquato nasceu, Caetano resolveu fazer uma visita para os pais do letrista, que era filho único. Na casa dos pais de Torquato tinham várias fotos do amigo na parede e Caetano ficou muito triste e finalmente chorou muito, em silêncio, junto com o pai de Torquato, sentado na sala. 

Então, Caetano Veloso conta que o pai de Torquato Neto foi na cozinha, pegou uma Cajuína gelada (bebida típica e patrimônio cultural do estado do Piauí) e os dois continuaram ali, em silêncio, chorando, até que o pai do poeta foi até o jardim, colheu uma rosa menina, e entregou para Caetano

O baiano saiu de lá comovido e compôs Cajuína, em homenagem a Torquato Neto e ao momento que viveu ao lado do pai do amigo. A música foi lançada em 1979, no disco Cinema Transcendental, de Caetano Veloso. 

“Existirmos a que será que se destina 

Pois quando tu me deste a rosa pequenina 

Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina 

De um menino infeliz não se nos ilumina”

02 – 01º de Julho – Renato Russo para Cássia Eller

Renato Russo compôs a canção 1º de Julho especialmente para a amiga Cássia Eller, grávida de seu primeiro e único filho, Francisco Ribeiro Eller.

Chicão é fruto de um relacionamento casual de Cássia com o amigo e baixista de sua banda, Tavinho Fialho. Tavinho sofreu um acidente de carro e faleceu antes do filho nascer. Nessa época, Cássia já vivia um relacionamento estável com a sua companheira de uma vida, Maria Eugênia, que assumiu a maternidade de Chicão ao lado de Cássia.

A cantora gravou a canção em seu terceiro disco, Cássia Eller, de 1994.

Em um trecho da letra, Renato descreve: 

“O que fazes por sonhar 

É o mundo que virá pra ti e para mim 

Vamos descobrir o mundo juntos baby 

Quero aprender com o teu pequeno grande coração 

Meu amor, meu Chicão”

Depois da morte de Cássia, Maria Eugênia lutou na justiça – contra o pai da cantora – pela guarda do filho e ganhou a causa, tornando-se o primeiro caso do tipo na justiça brasileira e abraçando uma causa importantíssima. Chicão, que acompanhou a mãe em muitos shows e palcos quando criança, hoje tornou-se um cantor, músico e compositor brilhante: o Chico Chico.

03 – O Poeta Está Vivo – Dulce Quental e Frejat para Cazuza

Cazuza, um dos maiores poetas da música popular brasileira, nos deixou no ano de 1990, com apenas 32 anos, vítima de complicações causadas pela AIDS. Foi a primeira personalidade brasileira a declarar publicamente que havia sido infectado com HIV, quando o assunto ainda era um tabu enorme. Esse ato de transparência ajudou muitas vítimas a lidarem melhor com a doença. 

Em 1987, ele foi com os pais para Boston, nos Estados Unidos, para tentar a droga AZT, único tratamento disponível na época. 

Seu maior parceiro de composições, amigo e também companheiro dos tempos de Barão Vermelho, Roberto Frejat, musicou – no ano seguinte, logo que o cantor voltou dos EUA – a letra de O Poeta Está Vivo, escrita pela cantora e compositora Dulce Quental, que também era muito amiga de Cazuza, com uma dose de esperança em sua recuperação.

“O poeta está vivo 

Com seus moinhos de vento 

A impulsionar 

A grande roda da história

(…)

O poeta não morreu, foi ao inferno e voltou

Conheceu os jardins do Éden 

E nos contou”

A canção acabou sendo lançada apenas no fim de 1990, no disco Na Calada da Noite, do Barão Vermelho, tornando-se uma homenagem póstuma.

04 – Samba de Orly – De Chico Buarque para Toquinho 

Em 1968, Toquinho foi pela primeira vez para a Europa, fazer os arranjos de um disco do amigo Chico Buarque e apaixonou-se por Roma, cidade em que Chico havia se exilado, por conta dos tempos duros de perseguição aos artistas e às liberdades, em plena ditadura militar. 

Em 1969, Toquinho voltou à cidade para fazer uma temporada de shows ao lado do amigo – somente os dois e seus violões – ficando lá por seis meses.

Antes de voltar para o Brasil, Toquinho deixou um tema de despedida pelo tempo que passaram juntos, para que Chico colocasse a letra. Assim, da despedida de Chico do amigo, nasceu a canção Samba de Orly

“Vai, meu irmão

Pega esse avião, você tem razão

De correr assim desse frio

Mas beija o meu Rio de Janeiro

Antes que um aventureiro lance mão”

Mais tarde, outro grande amigo dos dois, Vinicius de Moraes, também entraria como parceiro na composição, ao alterar um verso da canção. O poeta sugeriu que substituíssem a frase “Peço perdão pela duração desta temporada”, que achou muito leve para retratar o que Chico tinha passado no exílio, por “Peço perdão pela omissão um tanto forçada”. A frase não passou pela censura, mas Vinicius continuou assinando a composição.

A música foi gravada pela primeira vez em 1971, no álbum Construção, de Chico Buarque.

05 – All Star – de Nando Reis para Cássia Eller

Lançada em 2000, no segundo disco solo de Nando Reis Para Quando o Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro – a canção All Star foi escrita pelo ex-Titãs em homenagem a sua grande amiga Cássia Eller e conta a história da bonita relação entre os dois.

Cássia passou a cantar a música em seus shows e All Star foi incluída no primeiro álbum póstumo da artista, Dez de Dezembro, lançado em 2002, no ano seguinte de sua morte.

“Estranho, mas já me sinto como um velho amigo seu 

Seu All Star azul combina com o meu, preto, de cano alto 

Se o homem já pisou na Lua 

Como eu ainda não tenho seu endereço?

O tom que eu canto as minhas músicas 

Na sua voz, parece exato”

06 – Feedback Song For a Dying Friend – Renato Russo para Cazuza

A música Feedback Song For a Dying Friend foi escrita por Renato Russo em homenagem ao amigo Cazuza, que tinha anunciado ser portador do vírus HIV. Renato viria a saber, meses depois, que também tinha a doença. Ele escreveu a canção em inglês e pediu que o escritor Millôr Fernandes traduzisse para o português, para o encarte do disco da Legião Urbana, As Quatro Estações, lançado em 1989. 

Cazuza morreu em 1990. Renato descobriu ser portador do vírus HIV em 1989, vindo a falecer em 1996.

Da tradução de Millor:

“Outra vez

Os dois juntos junto de nossos próprios corações

Calei e escrevi 

Isto em reverência 

Pela coincidência”

07 – A Paz – Gilberto Gil para João Donato

A Paz é uma canção dos mestres Gilberto Gil e João Donato, composta em 1986 – e gravada em primeira mão por Zizi Possi, no álbum Amor & Música, no ano seguinte – tornando-se um dos maiores sucessos de sua carreira. Depois, Gil a gravou em seu disco Acústico.

João Donato chegou na casa de Gil com uma melodia que fazia parte de uma série de canções que ele compôs para um afeto seu, chamado Leila. Antes de receber a letra de Gil, a música chamava-se Leila 4, pois eram 15 melodias feitas por Donato, todas para a Leila

Enquanto Gil escrevia a letra da canção, Donato adormeceu no sofá, e o baiano conta que a paz que sentiu ao ver o amigo cochilar tão serenamente em pleno caos e luz do dia, o levou à letra da música, que fala sobre as contradições entre guerra e paz.

“Eu pensei em mim 

Eu pensei em ti 

Eu chorei por nós 

Que contradição 

Só a guerra faz 

Nosso amor em paz”

08 – Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos – Roberto e Erasmo Carlos para Caetano Veloso

Em tempos duros de repressão – no auge da Ditadura Militar e diante da recente instauração do Ato Institucional nº 5 – Caetano Veloso e Gilberto Gil foram presos em dezembro de 1968 e, depois, obrigados a se exilar em Londres.

Antes de partir pro exílio, Caetano lançou um álbum homônimo que – pela primeira vez em toda a sua discografia até então – não traz uma foto sua na capa. Na prisão, o artista fora obrigado a raspar os seus icônicos cabelos encaracolados e não quis aparecer sem sua identidade em uma foto que ficaria para sempre na capa de um disco.

Em 1969, enquanto Caetano estava no exílio, triste por ser obrigado a ficar longe de seu país, Roberto e Erasmo Carlos, escreveram uma canção especialmente para o amigo baiano: Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos, lançada em 1971, no álbum Roberto Carlos. 

Depois, Caetano lançou a música no disco Circuladô Vivo, em 1992. Somente neste ano é que a verdadeira história da música foi revelada, quando já haviam se passado sete anos do fim da ditadura militar. Antes disso, para driblar a censura, Roberto e Erasmo diziam que aquela era uma música de amor, escrita para uma mulher de cabelos encaracolados.

“Debaixo dos caracóis dos seus cabelos 

Uma história pra contar 

De um mundo tão distante 

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos 

Um soluço e a vontade 

De ficar mais um instante”

09 – Para Raul –  Zé Ramalho para Raul Seixas

O encontro entre Zé Ramalho e Raul Seixas aconteceu no Rio de Janeiro, no ano de 1984. Ali, selaram uma sincera amizade, que fez com que – fã de Raul – sempre quisesse gravar um disco com o amigo, coisa que não se concretizou.

O paraibano só pôde retomar este encontro no ano de 2001, 12 anos após a morte de Raul, quando lançou o disco Zé Ramalho Canta Raul Seixas, em que interpreta clássicos do eterno Maluco Beleza e traz uma faixa inédita, composta em homenagem ao amigo: Para Raul.

“Depois que você se foi 

A música não mais tocou 

Aquele sentimento claro 

Tão místico e simples 

Que você passou 

Pra mim, pra nós”

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