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Dia do Poeta – 7 poemas icônicos da nossa história

Dia 20 de outubro é o Dia do Poeta no Brasil. 

O principal propósito desta data é incentivar a leitura, a escrita e a publicação de obras literárias e poéticas nacionais. O dia foi escolhido porque – em 20 de outubro de 1976, em São Paulo – surgia o Movimento Poético Nacional, na casa do jornalista, romancista, advogado e pintor brasileiro Paulo Menotti Del Picchia.

E o que não faltam no nosso país são grandes poetas para nos ajudarem a celebrar a data no maior estilo. Hoje, trouxemos uma lista com 7 poemas icônicos da nossa história. 

E não deixe de conferir uma matéria especial que já publicamos, celebrando 12 canções da MPB que foram inspiradas em obras da literatura nacional.

1 –  No Meio do Caminho – Carlos Drummond de Andrade (1928)

Poema de Carlos Drummond de Andrade publicado na “Revista de Antropofagia”, em 1928 – fala sobre os obstáculos que encontramos durante as nossas vidas e de como escolhemos lidar com esses obstáculos. 

“No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.”

Em 2010, o Instituto Moreira Salles (IMS) lançou uma nova edição do livro “Uma Pedra no Meio do Caminho: Biografia de um Poema” feita pelo próprio Drummond e ampliada pelo também poeta Eucanaã Ferraz. Como parte do lançamento, foi produzido um vídeo com a leitura de “No meio do caminho” em vários idiomas.

2 – Vou-me embora pra Pasárgada – Manuel Bandeira (1930) 

O poema de Manuel Bandeira – publicado no livro “Libertinagem“, em 1930 – fala sobre a nossa vontade de escapar para um lugar distante e idealizado, buscando descanso ou liberdades, quando a realidade presente nos sufoca.

A cidade Pasárgada realmente existiu e foi a capital do Primeiro Império Persa. 

“Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe – d’água.
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
– Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.”

Em 1987, a cantora e compositora carioca Olívia Hime idealizou e lançou o álbum “Estrela da Vida Inteira”, para  celebrar o centenário de nascimento de Manuel Bandeira. “Vou me Embora Pra Pasárgada” foi musicada por Gilberto Gil

3 – Ou Isto ou Aquilo – Cecília Meireles (1964)

O poema “Ou Isto ou Aquilo” dá nome ao livro que reúne 57 poemas da escritora brasileira Cecília Meireles. Lançado em 1964, a obra é um clássico – principalmente do universo infantil – que atravessa  gerações.

Trata-se de uma espécie de divisor de águas entre dois períodos da produção poética para crianças no Brasil – e também uma linguagem muito próxima delas – inaugurando um novo modo de criação que privilegia o olhar e os sentimentos da criança, ao deixar para trás a forma didática e doutrinária predominante até então.

Nos versos de “Ou Isto ou Aquilo” encontramos a dúvida, a incerteza e a indecisão infantil. O poema ensina sobre a escolha: escolher é sempre perder, ter algo significa necessariamente abrir mão de outra coisa. Com exemplos cotidianos e ilustrativos, Cecília Meirelles ensina uma lição essencial para o resto da vida.

“Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.”

5 – Soneto de Fidelidade –  Vinicius de Moraes (1946)

Um dos mais famosos poemas de amor da história da literatura brasileira, “Soneto de Fidelidade” foi escrito por Vinicius de Moraes e publicado no livro “Poemas, Sonetos e Baladas”, de 1946.

É também uma das mais belas e sensatas declarações de amor existentes, porque Vinicius promete um amor pleno e com todas as suas forças, enquanto o afeto durar, o que nos faz compreender que a grandeza de um amor não necessariamente está relacionada com que ele seja eterno.

Ao comparar o amor com o fogo, o poeta reconhece que é um sentimento que pode acabar com o tempo e que isso – de maneira alguma – tira a beleza de amar com profundidade e de ser amado por alguém.

“De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.”

Os versos do soneto também ficaram muito conhecidos porque passaram a ser declamados junto com a música “Eu Sei Que Vou te Amar”, composta por Vinicius de Moraes – que tem também uma importância ímpar para a música popular brasileira – em parceria com Tom Jobim.

O poeta percebeu como a música – lançada em 1958 – e a poesia tinham letras que se relacionavam e complementavam. A primeira gravação que contém a junção da música e da poesia é de 1970, quando Vinicius, Toquinho e a cantora Maria Creuza gravaram um disco de seu show em conjunto em Buenos Aires.

4 – Com Licença Poética – Adélia Prado (1976)

Poema mais famoso da escritora mineiraAdélia Prado, “Com Licença Poética” foi incluído no seu livro de estreia, “Bagagem“, de 1976.

O poema faz – ao mesmo tempo – uma breve apresentação da autora e sobre a condição da mulher na sociedade brasileira. Sendo Adélia uma das poucas escritoras mulheres a ganharem espaço entre tantos homens que dominavam os holofotes poéticos, já apenas isso já retrata a sociedade patriarcal em que vivíamos e ainda vivemos.

Com Licença Poética” faz também referência a Carlos Drummond de Andrade –  amigo, incentivador e ídolo literário de Adélia Prado – ao usar uma estrutura semelhante ao seu consagrado “Poema das Sete Faces”, de 1930.

“Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.

Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.”

5 – Morte e Vida Severina – João Cabral de Melo Neto (1955)

Uma das obras-primas da literatura brasileira, a obra“Morte e vida Severina” é a mais famosa do escritor pernambucano João Cabral de Melo Neto. Ao longo de muitos versos, o poeta nos narra a história do retirante Severino, um brasileiro como tantos outros que foge da fome em busca de um lugar melhor.

Severino é um símbolo dos migrantes nordestinos que precisaram sair do seu lugar de origem, o sertão, para procurarem uma oportunidade de trabalho na capital, no litoral. O poema, trágico, é conhecido pela sua forte carga social, um clássico regionalista e modernista brasileiro, e trata do drama da seca.

Aqui está um breve trecho:

“— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.”

Em 1965, Roberto Freire, diretor do teatro TUCA da PUC de São Paulo, pediu ao então muito jovem compositorChico Buarque que musicasse a obra, encenada no palco com trinta estudantes. A peça foi um sucesso absoluto e – desde então – sua presença no teatro brasileiro tem sido constante.

6 – O Tempo – Mario Quintana (1980)

Conhecido popularmente como “O Tempo”, o poema de Mario Quintanatem como título original “Seiscentos e Sessenta e Seis”. Foi publicado pela primeira vez na obra “Esconderijos do Tempo”, em 1980. 

O livro, escrito quando o autor estava com 64 anos, exprime a sua visão madura e sábia sobre a vida. Reflete sobre temas como a passagem do tempo, a memória, a existência, a velhice e a morte.

Como não podemos voltar no tempo e refazer a nossa história, o poeta sugere a necessidade de se aproveitar a vida em seu momento presente. 

Mario Quintana está entre os poetas mais populares da literatura brasileira e seu sucesso se deve justamente à simplicidade dos seus versos e capacidade de identificação com o leitor.

“A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente…

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.”

7 – Poemas aos Homens do Nosso Tempo –  Hilda Hilst (1974)

“Poemas aos Homens do Nosso Tempo” foi publicado em “Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão”, de 1974, o livro mais estudado da escritora paulista Hilda Hilst e aclamado pelo público e crítica. 

Corajosamente publicado em meio a ditadura militar, o poema mostra a clara oposição colocada entre o ofício do poeta e o dos outros homens. Hilda distingue poetas das outras criaturas, por vezes fazendo crer que a vida do poeta é mais dura. No entanto, ao final do poema, vemos que a conclusão é justamente a oposta: enquanto a poesia transcende a morte, todos os outros são digeridos pelo tempo.

“Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.

Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.

O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:

‘Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas’.
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:

MORRE O AMOR DE UM POETA.

E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.”

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