Dia dos Avós: 12 canções da MPB sobre avós

Você sabia que em 26 de julho é celebrado o Dia Mundial dos Avós?

Dia Mundial dos Avós

A data foi escolhida em referência à comemoração do Dia de Santa Ana e São Joaquim, que – segundo a tradição católica – seriam pais de Maria e, portanto, avós de Jesus Cristo.

Em 2021, o Papa Francisco instituiu oficialmente na Igreja Católica o Dia Mundial dos Avós e Idosos. Agora, a data deverá ser comemorada todos os anos e, a cada ano, receberá um tema diferente.

Para o este terceiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, foi escolhido o tema “A sua misericórdia se estende de geração em geração”, celebrado em missa, no último dia 23 de julho.

Em 2020, Gilberto Gil comemorou o Dia dos Avós com um registro nas redes sociais acompanhado de dez de seus netos e sua bisneta | Foto: Reprodução/Instagram

Músicas para os avós

Bom, que a música popular brasileira é recheada de avós talentosíssimos, isso a gente sabe! Mas, você sabia que existem algumas canções da nossa MPB feitas especialmente para os avós?

Vamos conhecer cada uma delas?

Segue pra playlist! E viva os avôs e avós de todo o planeta!

1 – Sereno – Gilberto Gil (Gilberto Gil e Bem Gil) – 2018

O vovô Gilberto Gil, lançou – em 2018, no seu disco OK OK OK – a canção Sereno, composta em parceria com seu filho Bem Gil. Sereno é o nome do décimo neto de Gil, filho de Bem com a cantora e compositora Ana Cláudia Lomelino, a Mãeana.

Sereno nasceu em 2017 e na letra da canção, Gil conta:

“Vovô gostou do nome Sereno 

Vovó gostou do nome Sereno 

Vem mais dois aqui 

Tem mais dois aqui 

Tem mais dois irmãos pra te curtir””

Os “dois” a que se refere são os dois irmãos de Sereno, Dom e Bento. E Gil continua:

“Sereno quer dizer que você será

 Será suave, ameno e tranquilo será 

Quando for mamar na mamãe, será? 

Não vai querer morder seu mamilo, será?”

2 – Coisa da Antiga – Clara Nunes (Wilson Moreira e Nei Lopes) – 1977

Imortalizada na voz de Clara Nunes, no álbum As Forças da Natureza, de 1977, Coisa da Antiga, foi composta por Wilson Moreira e Nei Lopes e conta a história dos avós, pela ótica da mãe contando para o filho/neto (a):

“Hoje mamãe me falou de vovó, só de vovó 

Disse que no tempo dela era bem melhor 

Mesmo agachada na tina e soprando no ferro de carvão 

Tinha-se mais amizade e mais consideração 

Disse que naquele tempo a palavra de um mero cidadão 

Valia mais que hoje em dia uma nota de milhão 

Disse afinal que o que é de verdade ninguém mais hoje liga 

Isso é coisa da antiga, oi, na tina” 

E mamãe continua contando com saudade e adoração sobre aquele tempo antigo e trazendo à tona toda a ancestralidade da criança:

“Hoje o olhar de mamãe marejou, só marejou 

Quando se lembrou do velho, o meu bisavô 

Disse que ele foi escravo, mas não se entregou à escravidão 

Sempre vivia fugindo e arrumando confusão 

Disse pra mim que essa história do meu bisavô, negro fujão 

Devia servir de exemplo a esses nego pai João 

Disse afinal que o que é de verdade ninguém mais hoje liga 

Isso é coisa da antiga, oi, na tina” 

3 – Avô – Djavan (Djavan e Flávia Regina) – 1994

Avô é uma composição de Djavan em parceria com sua filha, a também cantora e compositora Flávia Regina, lançada no álbum Novena, do alagoano, em 1994.

Na belíssima canção, Djavan e Flávia falam sobre as camadas de amadurecimento de um homem e de como deve ser a maturidade (ou a juventude!) que ele pode atingir quando se torna avô:

“E no balaio da construção de um homem 

Revejo os moldes e as massas que eu já usei 

Pois viver é reviver, hoje eu sei 

Quem eu for, já encontrei 

E de quebra a experiência me ensinou 

É preciso juventude para que eu me torne avô 

É preciso juventude 

Quem me dera tê-la intacta a cada era

Como uma flor” 

4 – Avohai – Zé Ramalho – 1977

Talvez uma das canções mais emblemáticas da música popular brasileira no que diz respeito à relação de avô e neto. Depois de muitos anos, durante um show gravado ao vivo, Zé Ramalho conta – ele mesmo – a história dessa música, lançada em seu primeiro álbum, em 1977.

“Essa música que nós vamos tocar é muito especial para mim. Permita-me abusar disso, mas é que há três dias atrás faleceu meu avô, talvez a única criatura honesta que eu tenha conhecido no mundo.

Foi ele que me criou, saindo do sertão, do brejo. Eu nunca tive pai, então vovô fez o papel de avô, de pai. E antes de morrer ele fez papel de filho também pra mim.

Avôhai é uma palavra mágica: Avôhai significa avô e pai. Avôhai, vovô! Esteja em paz, como eu penso que você está aqui. Eu tenho certeza que você está me olhando aqui. Talvez aqui no meio de todos. Avôhai”.

Zé Ramalho é filho de Estelita Torres Ramalho, uma professora de escola primária do Brejo do Cruz, e de Antônio de Pádua Pordeus Ramalho, um seresteiro. Seus pais se separaram logo após o nascimento da irmã Goretti, um ano mais nova que o primogênito

Quando Zé Ramalho tinha apenas três anos de idade, em fevereiro de 1953, seu pai – com apenas 26 anos – faleceu vítima de afogamento em um açude na cidade de Teixeira. Após esse infortúnio, os avós paternos o criaram, enquanto que a irmã permaneceu com a mãe em Recife.

“Um velho cruza a soleira 

De botas longas, de barbas longas 

De ouro o brilho do seu colar 

Na laje fria onde coarava 

Sua camisa e seu alforje

De caçador 

O meu velho e invisível 

Avôhai”

5 – Vovó Ondina é Gente Fina – Os Paralamas do Sucesso (Herbert Vianna) – 1983

No início da carreira, muito antes de ficarem famosos, Os Paralamas do Sucesso – Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone, ensaiavam no apartamento da avó de Bi, a Dona Ondina, em Copacabana.

Vovó Ondina era tão gente fina, que enfrentava os vizinhos e até a polícia para ajudar o neto e seus amigos com seu rock’n roll. Vovó Ondina foi homenageada no primeiro disco dos Paralamas, Cinema Mudo, de 1983.

“Silêncio, meninos, toquem mais baixo 

Que o velhinho aqui de baixo está doente de dar dó 

E o rock rolava na casa da vovó 

Chamaram a polícia, mas que barra! 

Desliga essa guitarra 

Que a coisa está indo de mal a pior 

São trinta soldados contra uma vovó 

É gente fina, vovó Ondina”

6 – Candeeiro da Vovó – Dona Ivone Lara (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho) – 1996 

Lançada no disco O Samba é Meu Dom, da banda Toque de Prima, em 1996, a música de Dona Ivone Lara e seu constante parceiro Délcio Carvalho fala sobre ancestralidade, sobre raízes, sobre saudade e sobre envelhecer:

“Ih, virgem, minha Nossa Senhora 

Cadê o candeeiro de vovó? 

Seu troféu lá de Angola 

Cadê o candeeiro de vovó? 

Era lindo e iluminava 

Os caminhos de vovó 

E sua luz sempre firmava 

Os pontos de vovó” 

7 – Orgulho do Vovô – Zeca Pagodinho (Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz) – 2010

Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz compuseram juntos Orgulho do Vovô, em homenagem ao primeiro neto de Zeca, Noah. A canção entrou para o disco Vida da Minha Vida, de 2010, e fala sobre o desejo de ser um bom avô para a criança:

“Senhora de aparecida

Mãe de deus, o criador

Sou bom filho, sou bom pai

Quero ser um bom avô”

E também sobre o desejo de que o neto herde de Zeca o amor pelo samba:

“Está em festa o meu barraco

Todo dia é carnaval

Criado ao som de um cavaco

Ninado no meu quintal

E que os grandes partideiros

Tragam a corda e a caçamba

Que o meu neto seja herdeiro

Do meu amor pelo samba

E os grandes batuqueiros

Na magia do tambor

Façam brilhar no terreiro

O orgulho do vovô”

8 – Dona Cila – Maria Gadú

Lançada no primeiro álbum de Maria Gadú, em 2009, Dona Cila, é uma canção emocionante, que a cantora e compositora escreveu para a sua avó, por quem foi criada junto com a mãe. De maneira sensível e poética, ela relata o amor que sente e os últimos momentos de Dona Cila, acometida pelo câncer, e de como lidou com isso:

“De todo o amor que eu tenho

Metade foi tu que me deu

Salvando minh’alma da vida

Sorrindo e fazendo o meu eu

Se queres partir, ir embora

Me olha da onde estiver

Que eu vou te mostrar que eu tô pronta

Me colha madura do pé

Salve, salve essa nega

Que axé ela tem

Te carrego no colo e te dou minha mão

Minha vida depende só do teu encanto

Cila, pode ir tranquila

Teu rebanho tá pronto”

Gadú conta que a canção – que também fala sobre fé, memória e ancestralidade – foi uma maneira de dizer que, apesar de tudo, aceitava que era hora de sua avó partir. Dois dias depois de ter a letra escrita, ela faleceu.

Com menções à sua relação com ela e à própria morte, a música continua sendo trilha sonora para aqueles que querem homenagear os avós que já se foram e que, ainda assim, o amor continua:

“Ó meu pai do céu, limpe tudo aí

Vai chegar a rainha

Precisando dormir

Quando ela chegar

Tu me faça um favor

Dê um banto a ela, que ela me benze aonde eu for”

9 – Maracatu do Meu Avô – Alcione (Nei Lopes e Leonardo Bruno) – 1983

Composta por Nei Lopes e Leonardo Bruno e lançada por Alcione no disco Almas & Corações, de 1983, a canção Maracatu do Meu Avô também fala sobre honrar as raízes, sobre fé, religiosidade de matriz africana e ancestralidade africana:

Meu avô nasceu onde o sol morre

E se afoga em fogo em pleno mar

Onde o vento Harmattan que vem do norte

Cospe rubras fagulhas pelo ar

Meu avô tinha o ofício de ferreiro

E que mexe na forja é Ogum

E nascendo ferreiro foi guerreiro

Meu avô não foi qualquer um” 

A canção enfatiza a admiração pela importância e grandeza do avô, um escravizado de origem africana, que serviu apresentou elementos da cultura afro-brasileira aos colonizadores portugueses, mas que também serviu de moeda de troca aos exploradores. Mas que foi tudo, menos qualquer um:

Mas um dia esse avô foi barganhado

Por um bacamarte de metal

Três alfanjes, um chapéu rendado

Uma duas fiadas de coral

Mais um rolo de folhas de tabaco

Seis retalhos e três galões de rum

Isso e mais vinte e três lenços de linho

Meu avô não foi qualquer um

Não foi qualquer um”

10 – Quem foi que roubou a sopeira de porcelana chinesa que a vovó ganhou da baronesa? – Jorge Ben Jor – 1969

“Essa música é em homenagem a você e a todas as vovós do mundo, viu vovó?” 

É assim que Jorge Ben Jor termina a canção  Quem foi que roubou a sopeira de porcelana chinesa que a vovó ganhou da baronesa?, lançada no disco que leva seu nome, de 1969.

Como já diz o título, a música conta sobre o que aconteceu quando a avó do artista perdeu a porcelana que ganhou de uma baronesa.

Mostrando a força da relação entre avó e neto e o amor imenso entre eles, Jorge Ben Jor assume a responsabilidade de encontrar a peça só para não deixar a avó triste e a fazer reviver “o mundo maravilhoso” que ela mesma ensinou ao cantor, entre tantas outras coisas:

Por favor vovó, aonde estão aqueles lindos dias vovó

Vire-se e me olhe vovó pois o mundo que eu conheci 

É diferente do mundo maravilhoso que você me ensinou

Não chore não viu vovó, não fique triste não viu vovó 

Pois eu vou sair pelo mundo afora 

Pensando sempre em você a qualquer hora

Perguntando a um por um viu vovó até encontrar viu vovó

Até encontrar”

11 – Chinelo do Meu Avô – Moraes Moreira (Moraes Moreira e Luiz Galvão)

Chinelo do Meu Avô – composta junto com seu constante parceiro, o poeta Luiz Galvão – é uma homenagem de Moraes Moreira aos ensinamentos e as heranças genéticas que recebeu de legado de seu avô.

“E outra coisa que eu tenho e gosto é o meu cabelo

Que é puro e belo como o meu amor

E singelo, e singelo como o chinelo, o chinelo

Do meu avô, do meu avô, do meu avô” 

12 – Poema – Ney Matogrosso (Cazuza e Frejat) (1999)

Cazuza costumava escrever poesia desde criança, e a avó materna, Alice, era a única pessoa para quem ele mostrava suas criações. Quando ela faleceu, Cazuza tinha apenas 17 anos e escreveu um poema belíssimo, que a mãe do artista – Lucinha Araújo, filha da Vó Lice – mandou fazer em bronze e colocar junto ao túmulo de sua mãe.

Nesta ocasião, a avó paterna de Cazuza, Maria José, falou para o neto que ele não esperasse ela morrer para fazer também um poema para ela. E assim aconteceu: no mesmo ano, 1975, Cazuza escreveu um poema para avó Maria José, que o guardou com muito amor – e a sete chaves – não mostrando para ninguém.

O poeta faleceu em 1990, com apenas 32 anos, vítima de complicações por conta do vírus HIV e a avó paterna só morreu muito tempo depois, já com 100 anos de idade. Em 1998, com o falecimento da sogra, Lucinha Araújo pediu para ficar com algumas fotografias e discos com dedicatórias que dona Maria José tinha de Cazuza.

Junto com essas coisas, Lucinha encontrou o tal do poema, guardado há 23 anos. Ele pediu que Roberto Frejat – grande amigo e parceiro de composição de Cazuza – musicasse o poema.

Quem gravou e lançou a canção – que levou o nome de Poema – foi outro grande amigo e companheiro de vida de Cazuza: Ney Matogrosso, em seu disco Olhos de Farol, abrilhantando ainda mais a obra-prima de Cazuza e Frejat, tornando-se a canção mais executada da carreira de Ney.

Ele fala da saudade de um tempo em que Cazuza era criança e o abraço da avó o consolava e confortava.

“Eu hoje tive um pesadelo 

E levantei atento, a tempo 

Eu acordei com medo 

E procurei no escuro 

Alguém com o seu carinho 

E lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança 

Do tempo que eu era criança 

E o medo era motivo de choro 

Desculpa pra um abraço ou um consolo”

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