Don L: 43 Anos de Impacto e Inovação no Hip-Hop Brasileiro

Hoje, 18 de janeiro, é aniversário de um dos precursores do movimento que começou a trazer mais visibilidade para o hip-hop do Norte e Nordeste, o  rapper e compositor Don L completa 43 anos! 

 Considerado um dos nomes mais influentes do rap nacional na atualidade, em 2021, Don L foi escolhido como Artista do Ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte – a APCA – com seu disco mais recente, Roteiro pra Aïnouz, Vol. 2 

 De família nordestina, o artista nasceu em Brasília e foi para Fortaleza, Ceará, quando tinha dois anos de idade. Foi observando o estilo dos rappers internacionais, com swingue, novos flows, que o artista percebeu que poderia experimentar mais no estilo. 

Reprodução: Larissa Zaidan

 

Em entrevista para Lívia Nolla, apresentadora do Vitrine Novabrasil, em abril de 2023, o artista relembrou detalhes do seu primeiro contato com o hip-hop, com 16 para 17 anos, e o cenário do gênero no Norte e Nordeste: 

 “Sempre teve um preconceito muito grande com o rap do que vinha do Nordeste porque a galera sempre caricaturou muito o Nordeste.” 

 Confira o programa na íntegra, em que o artista contou detalhes sobre sua obra, sua carreira e sobre a concepção de seus discos: 

 “Tanto em termos individuais como coletivos, para você pensar no futuro você tem que saber de onde você vem.”, Don L, em entrevista para Lívia Nolla, no programa Vitrine Novabrasil. 

 

O início com Costa a Costa 

 Antes de iniciar uma carreira solo e lançar três álbuns de sucesso, Don L foi – juntamente com Nego Gallo, um dos criadores do grupo de rap e hip hop, Costa a Costa, que despontou no cenário do rap nacional, em 2006. 

 Em 2007, lançou a mixtape Dinheiro, Sexo, Drogas e Violência de Costa a Costa, pelo selo independente DuNego, criado pelos integrantes. O primeiro e único trabalho do grupo vendeu milhares de cópias caseiras, recebeu reconhecimento da mídia e da crítica e influenciou uma nova geração de rappers no país.

 

 Suas produções tratavam de problemas e soluções para a vida no gueto e, além do rap e do R&B, traziam sonoridades como funk, samba, carimbó e outros gêneros musicais afro-latinos, como mambo e reggaeton.  

 Com 23 faixas, ela teve oito mil cópias distribuídas em todo o Brasil e cerca de 25 mil downloads. Por este feito, a banda venceu a principal premiação do hip hop brasileiro, o Prêmio Hutúz daquele ano, na categoria Norte-Nordeste e, depois – em 2009 – como Melhor Grupo Norte/Nordeste da década.  

 A mixtape foi imediatamente comentada por Hermano Vianna. Para o antropólogo e intelectual do mundo da música popular brasileira, Dinheiro, Sexo, Drogas e Violência de Costa a Costa trata-se de “uma das mais criativas da atual safra musical brasileira, em qualquer estilo. E é também uma injeção de energia/ousadia na sonoridade do hip hop nacional. A mixtape não segue nenhuma regra, não copia ninguém. Fazia falta ouvir algo assim – tão surpreendente – por aqui. Não somente aqui: lá também”.  

 Em sua resenha, Vianna também refere-se à mixtape como um contundente documento sobre a realidade brasileira contemporânea: “Um Sobrevivendo no Inferno (dos Racionais MC’s) traduzido para o Século XXI”.  

 A música do Costa a Costa também foi uma resposta a uma espécie injeção de ânimo contra o derrotismo que os rappers do grupo sentiam que tomava o rap nacional naquele momento. Por meio da mixtape, eles propuseram uma reação que incluía desde mixar ritmos dançantes até quebrar um certo tabu na cena sobre artistas poderem ser financeiramente bem sucedidos, como pode ser observado nas rimas da faixa Intro – No Melhor Lugar 

 

Carreira solo  

 Após o Costa a Costa encerrar atividades, Don L seguiu em carreira solo e radicou-se em São Paulo em 2013, onde lançou a sua primeira mixtape solo, Caro Vapor/Vida e Veneno de Don L, de forma independente. A mixtape conta com 17 faixas, e participações de rappers como Flora Matos e Nego Gallo, além da produção de Papatinho. 

 Em 2017, Don L lançou Roteiro pra Aïnouz – Volume 3, a primeira parte de uma trilogia autobiográfica reversa – feita de trás para frente – cravando de vez seu nome como um dos principais do rap no país. 

 Ele afirma que a trilogia é reversa porque: “Pra pensar no nosso futuro a gente tem que ressignificar o passado todo tempo. O passado nunca está definido, a gente ressignifica e entende para onde quer caminhar.”. 

 O álbum que conta com nove faixas, participações de rappers como Diomédes Chinaski e Nego Gallo, e seu nome álbum faz referência ao diretor de cinema, roteirista, e artista visual  cearense,  Karim Aïnouz, conhecido pelos filmes Madame Satã, O Céu de Suely, Praia do Futuro e A Vida Invisível.  

 Aïnouz fala – entre suas principais temáticas – sobre estrada, sobre um êxodo não só físico, mas um êxodo de nós mesmos no mundo, sobre buscarmos nosso lugar, não nos encontrarmos. 

 

Roteiro para  Aïnouz – Vol, 2 

 O segundo álbum da trilogia reversa – Volume 2 – que levou Don L a ser premiado pela APCA, veio em 2021.  

É um disco político, que dança sob inúmeros gêneros e referências – rap, trap, drill, funk, soul e MPB. É um manifesto por um projeto de sociedade pautada pelo coletivo, e não pelo indivíduo. “Pensando no atual momento, queria que fosse um disco bastante político. Tinham muitas coisas que precisavam ser ditas”, conta Don L. 

O resgate e a valorização da memória aparecem como fio condutor do disco. O legado de luta deixado por líderes revolucionários aparece em cada linha: Marielle Franco e Marighella são homenageados no disco, assim como Mano Brown e Sabotage 

“Como já estava fazendo um disco cheio de referências a lideranças e lutadores pela liberdade, guerrilheiros e revolucionários, queria colocar referências musicais e fazer reverência a alguns artistas também.”, declara. 

O Vol 2. da trilogia traz participações de Djonga, Tasha & Tracie, Rael, Daniel Ganjaman, Mahmundi, entre outros, que somam forças com Don L na construção de uma utopia. Entre rimas e melodias, ele mostra a urgência de pensar um novo mundo, a partir da coletividade. 

Uma utopia de guerrilha, de levante revolucionário que viesse de um passado. “O drama e todas as nossas questões coletivas brasileiras que vêm desse passado colonial não foram interrompidos em nenhum momento”, analisa o artista. 

Reprodução: Victor Cazuza

No álbum, Don L retrata um passado praticamente colonial que precisa ser combatido e um futuro possível, que precisa ser conquistado de maneira coletiva e afirma que isso é uma luta revolucionária. 

A temática do álbum versa sobre uma hipotética revolução socialista brasileira, sendo isso, facilmente, perceptível pelas menções a movimentos revolucionários e de resistência ao redor do mundo e no Brasil, como Canudos, e, também, nas menções a históricos revolucionários comunistas, como Assata Shakur, Thomas Sankara, Vladimir Lenin, Carlos Marighella, Mao Tsé-Tung, entre outros, passando pelo vocabulário utilizado no álbum e pelas imagens nos visualizers das músicas no YouTube. 

“Cultura e educação são nossas principais armas para combater desigualdades, preconceitos, abusos, lutar por mudanças sociais”, declara o rapper. 

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