A dor nas costas é uma das principais causas de afastamento do trabalho no Brasil e atinge até 80% da população em algum momento da vida. Embora frequentemente associada à coluna vertebral, a origem da dor costuma ser muscular, e nem sempre está ligada a alterações estruturais. Ainda assim, com o avanço da idade, os exames costumam mostrar desgastes que podem confundir pacientes e até alguns profissionais. E aí surge a grande dúvida: quando a cirurgia realmente é indicada?
“Cirurgia nunca é o primeiro passo, mas em alguns casos é a única solução segura e eficaz para evitar complicações graves”, afirma o neurocirurgião Dr. Cesar Cimonari de Almeida, membro da Brazil Health. Ele explica que situações de emergência, como fraturas após trauma ou compressões neurológicas severas, exigem intervenção imediata para prevenir sequelas como paraplegia ou perda do controle urinário.
Um exemplo é a síndrome da cauda equina, em que uma hérnia de disco causa compressão grave dos nervos lombares. “Quando há dormência genital, perda de força nas pernas e incontinência, a janela cirúrgica ideal é de até 48 horas”, alerta o médico.
Tratamento conservador é a regra
Fora desses casos urgentes, o protocolo é claro: primeiro tenta-se o tratamento conservador, com medicamentos, fisioterapia e técnicas complementares como pilates, terapia manual e acupuntura. Segundo o neurocirurgião, muitas pessoas afirmam já ter tentado de tudo, mas, na prática, o uso inadequado de medicamentos e a baixa frequência nas terapias impedem um resultado real.
Se após seis semanas de tratamento intensivo os sintomas persistirem ou piorarem, a cirurgia passa a ser considerada. “Algumas condições, como a claudicação neurogênica — aquela dor que piora ao andar e melhora ao sentar — podem até ser operadas antes disso, se o impacto na vida do paciente for alto”, afirma o especialista.

Cirurgias modernas e menos invasivas
Hoje, a neurocirurgia dispõe de técnicas minimamente invasivas, como a microdiscectomia endoscópica, que remove hérnias com alta no mesmo dia. Em casos mais complexos, pode ser necessário o uso de parafusos e próteses, com auxílio de navegação 3D e robótica para maior precisão.
A recuperação também evoluiu: pacientes são incentivados a caminhar no mesmo dia da cirurgia, com alta em até 48 horas. E a idade já não é mais um impeditivo. “Realizamos procedimentos seguros até em pacientes com mais de 90 anos, desde que as condições clínicas permitam”, diz Dr. Cimonari.
Mitos e verdades
O neurocirurgião também desmistifica algumas ideias que assustam pacientes:
• “Cirurgia de coluna sempre deixa sequelas” — falso: as complicações hoje são raras (menos de 5%).
• “Nunca mais poderei me exercitar” — falso: com liberação médica, atividades físicas são recomendadas.
• “A cirurgia resolve o problema para sempre” — parcialmente verdadeiro: alguns casos exigem cuidados contínuos.
A recomendação final do especialista é clara: “A decisão sobre operar deve ser individualizada, com avaliação criteriosa por um neurocirurgião especializado, após esgotamento de outras alternativas. A boa notícia é que as cirurgias de coluna evoluíram muito — estão mais seguras, menos invasivas e com retorno precoce à vida ativa.”



