Entre Holocausto e Candomblé: A Influência da História na Vida de Jorge Mautner

 

Nome importante da nossa música popular brasileira, o genial artista carioca Jorge Mautner completa 83 anos hoje! 

Nascido Henrique George Mautner, em 17 de janeiro de 1941 – pouco tempo depois de seus pais desembarcarem no Brasil – o cantor, compositor, violinista e escritor é filho de uma iugoslava católica com um judeu austríaco. Ele conta que nasceu um mês depois de seus pais chegarem ao país, fugindo do Holocausto. 

No Brasil, seu pai – embora simpatizante do governo de Getúlio Vargas – atuava na resistência judaica. A mãe passou a sofrer de paralisia em razão do trauma sofrido pela impossibilidade da irmã de Jorge, Susana, ter embarcado para o Brasil com a família. Assim, até os sete anos, Jorge Mautner ficou sob os cuidados de uma babá, cia, que era ialorixá e o apresentou ao candomblé 

Em 1948, os pais de Jorge se separaram e sua mãe se casou com o violinista Henri Müller, que tocava na Orquestra Sinfônica de São Paulo. A família se mudou para São Paulo e Henri ensinou Jorge a tocar violino.  

Reprodução: Coleção Nelson Motta, Acervo MIS.

Deus da Chuva e da Morte 

Apesar de ótimo aluno, Mautner foi expulso do colégio antes de concluir o Ensino Médio, por ter escrito um texto considerado indecente. Ele começou a escrever seu primeiro livro, Deus da Chuva e da Morte, aos 15 anos de idade.  

O livro – que recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura – deu origem ao verso: “Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva”, na música Sampa, de Caetano Veloso. Caetano conheceu Mautner quando chegou em São Paulo e neste trecho da música, que escreveu em homenagem à cidade, cita seus grandes artistas como Mautner e José Celso Martinez Corrêa, do Teatro Oficina, importante grupo teatral de São Paulo. 

Deus da Chuva e da Morte, foi publicado em 1962 e compõe, com Kaos (1964) e Narciso em Tarde Cinza (1966), a trilogia nomeada como Mitologia do Kaos, em uma compilação publicada em 2002, que recebeu montagem para o teatro.  

Em 1987, Jorge Mautner lançou – com Gilberto Gil – o movimento Figa Brasil, no show O Poeta e o Esfomeado, ligado ao movimento Kaos, voltado à discussão da cultura brasileira. Em 17 de janeiro de 2016, coincidindo com seu aniversário de 75 anos, Mautner publicou seu décimo-primeiro livro, Kaos Total. 

Reprodução: Agnews

 

Uma vida dedicada à cultura brasileira 

Em 1962, Jorge Mautner aderiu ao Partido Comunista Brasileiro, convidado pelo professor rio Schenberg para participar, com o artista multimídia José Roberto Aguilar, de uma célula cultural no Comitê Central. Após o Golpe Militar de 1964, foi preso e liberado sob a condição de se expressar mais “cuidadosamente”.  

Em 1966, mudou-se para os Estados Unidos, onde trabalhou na UNESCO e na tradução de livros brasileiros. Também deu palestras sobre esses livros para a Sociedade Interamericana de Literatura. A partir de 1967, passou a trabalhar como secretário do poeta norte-americano, Robert Lowell, considerado o fundador da poesia confessional. Lá, também conheceu Paul Goodman, sociólogo, poeta e militante pacifista anarquista da nova esquerda, de quem recebeu significativa influência. Em 1970, Mautner também se exilou em Londres, onde se aproximou de Caetano Veloso e Gilberto Gil. 

De volta ao Brasil, começou a escrever no jornal O Pasquim e, nesta época, conheceu Nelson Jacobina, que tornou-se seu parceiro musical nas décadas seguintes. Jorge Mautner lançou seu primeiro disco – Pra Iluminar a Cidade – em 1972, gravado ao vivo no Teatro Opinião, no Rio de Janeiro.  

Ele lançou 14 discos ao longo da carreira, sendo o mais recente em 2019: Não Há Abismo Em Que o Brasil Caiba, eleito um dos 25 melhores álbuns brasileiros do primeiro semestre do ano, pela Associação Paulista de Críticos de Arte. 

Em 10 de dezembro de 1973, no período mais duro da ditadura militar, Jorge Mautner participou do Banquete dos Mendigos, show-manifesto idealizado e dirigido por Jards Macalé, em comemoração dos 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos 

“O Banquete dos Mendigos”, LP censurado em 1974.

Do espetáculo, participaram também Chico Buarque, Dominguinhos, Edu Lobo, Gal Costa, Gonzaguinha, Johnny Alf, Luiz Melodia, Milton Nascimento, MPB4, Nélson Jacobina, Paulinho da Viola, Raul Seixas, entre outros artistas. Com apoio da ONU, o show aconteceu no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, transformado em “território livre”, e resultou em álbum duplo gravado ao vivo. O disco foi proibido durante seis anos pelo regime militar e liberado somente em 1979.

Jorge Mautner é autor de clássicos da nossa MPB, como: grimas Negras e Maracatu Atômico (ambas em parceria com Nelson Jacobina); Todo Errado; Aeroplanos (parceria com Rodolph Grani Júnior); Pelas Capitais (com Moraes Moreira); e O Rouxinol (com Gilberto Gil).  

O artista também já foi gravado por outros grandes nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Wanderléa, Lulu Santos, Chico Science e Nação Zumbi. 

Reprodução: El Cabong

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTICIAS RELACIONADAS