A enxaqueca, um distúrbio neurológico que afeta milhões de brasileiros, deixou de ser um sofrimento inevitável. Graças aos avanços da medicina, pacientes que antes conviviam com dores incapacitantes, náuseas e hipersensibilidade à luz e ao som agora encontram tratamentos mais eficazes e personalizados.
“O cérebro do paciente com enxaqueca é mais sensível. Ele responde de forma exagerada a estímulos que não causariam dor em outras pessoas”, explica a neurologista Aline Turbino, especialista em cefaleias. “Há um componente genético que torna esse sistema mais reativo a fatores como luz, barulho, cheiros, alterações hormonais, alimentação e até ao sono.”
Fatores hormonais e emocionais agravam as crises
Estudos mostram que cerca de 80% das mulheres com enxaqueca relatam piora durante o período menstrual ou no climatério. Além disso, quadros de ansiedade e depressão são comuns em pacientes com enxaqueca crônica — aqueles que sentem dor por mais de 15 dias ao mês. “A relação é bidirecional: quem tem distúrbios psiquiátricos sofre mais com a enxaqueca, e quem tem enxaqueca tende a desenvolver esses transtornos. Felizmente, quando tratamos um, o outro também melhora”, observa a médica.
Outro gatilho frequente é o sono irregular. Dormir pouco, dormir demais ou manter horários desorganizados impacta negativamente o funcionamento cerebral e pode desencadear crises. “Cada pessoa tem uma necessidade diferente, mas o ideal é manter uma rotina de sono estável, com cerca de 8 horas por noite.”
Alimentação e desidratação estão no radar
Segundo a Dra. Aline, jejuns prolongados e variações glicêmicas abruptas devem ser evitados. Comer a cada 4 horas e manter o índice glicêmico estável pode prevenir o surgimento de crises. Entre os vilões mais conhecidos estão o café, refrigerantes com cafeína, álcool, queijos envelhecidos e alimentos ultraprocessados com glutamato monossódico e nitratos.
“A desidratação também é um grande gatilho, especialmente nos dias atuais, em que as pessoas esquecem de beber água ao longo do dia”, alerta.

Do Botox aos anticorpos monoclonais: o arsenal moderno contra a dor
Nos últimos anos, o tratamento da enxaqueca evoluiu significativamente. Além dos medicamentos orais tradicionais, pacientes com enxaqueca crônica têm respondido bem à aplicação de toxina botulínica tipo A, realizada a cada três meses, e aos anticorpos monoclonais, administrados por via subcutânea com frequência mensal ou trimestral.
“Essas terapias são bem toleradas e têm apresentado ótimos resultados clínicos, com redução tanto da frequência quanto da intensidade das crises”, afirma a neurologista.
Uma nova classe de medicamentos, os Gepants, já aprovada nos Estados Unidos, deve chegar ao Brasil no segundo semestre como mais uma esperança para quem convive com a dor.
Terapias alternativas complementam o tratamento
Além das abordagens farmacológicas, outras terapias têm se mostrado eficazes, como a terapia cognitivo-comportamental, fisioterapia especializada, uso de nutracêuticos, acupuntura (especialmente indicada para gestantes) e estimulação magnética transcraniana.
“Também é essencial o paciente assumir um papel ativo na prevenção. Atividade física regular, alimentação saudável, controle do estresse, yoga e meditação fazem parte do tratamento. A enxaqueca não pode ser tratada de forma isolada, mas sim como parte de um estilo de vida que favoreça o equilíbrio do organismo”, conclui Dra. Aline Turbino.



