Sabe aqueles encontros que são tão incríveis que mudam os rumos da história para sempre? Pois é, a música brasileira tem disso! Listamos 10 parcerias históricas da MPB. Talentos únicos que, somados, ganharam ainda mais força e produziram uma obra antológica.
Aproveite para fazer um mergulho em cada uma dessas obras produzidas por gente que construiu – e ainda constrói – a música e a cultura do nosso país e a nossa identidade enquanto brasileiros.
12 parcerias musicais históricas da MPB
1 – Caetano Veloso e Gilberto Gil

A amizade e parceria entre Caetano Veloso e Gilberto Gil é um dos pilares da música brasileira. Surgida na efervescência cultural da Bahia, nos anos 1960, ganhou força quando tornaram-se líderes do Movimento Tropicalista, que sacudiu o cenário cultural e a estética musical do país ao misturar ritmos brasileiros, guitarras elétricas e referências pop internacionais.
Juntos, Caetano e Gil sofreram perseguição e enfrentaram a censura, foram presos e obrigados a se exilar em Londres durante a ditadura militar. Voltaram de lá com novas influências e ainda mais fortes e produtivos.
Criaram em parceria canções que são verdadeiros hinos da MPB, como, entre outras:
- “Bat Macumba” e “Panis Et Circenses” (que entraram para o antológico álbum “Tropicália ou Panis Et Circencis”, de 1968);
- “Divino Maravilhoso” (eternizada na voz de Gal Costa, no IV Festival da Música Popular Brasileira, também em 68)
- “Haiti”, do álbum que gravaram em parceria em 1993, “Tropicália 2”
- São João Xangô Menino (que entrou para outro antológico álbum conjunto, “Os Doces Bárbaros”, de Caetano, Gil com duas de suas maiores intérpretes: Gal Costa e Maria Bethânia, em 1976)
Gilberto Gil e Caetano Veloso seguem parceiros na música e na vida, numa amizade que já dura mais de 60 anos. Em 2015, inclusive, fizeram juntos a turnê que virou álbum “Dois Amigos, Um Século de Música”.
2 – Cazuza e Frejat

A parceria entre Cazuza e Roberto Frejat marcou o rock brasileiro nos anos 1980 e segue viva e eternizada em clássicos até os dias atuais, mesmo com a partida de Cazuza. Parceiros desde o quando integravam juntos a banda Barão Vermelho (de 1981 a 1985, quando Cazuza saiu em carreira solo e Frejat assumiu os vocais), compuseram sucessos da banda, da carreira solo de Cazuza, além de músicas que tornaram-se hits nas vozes de outros artistas.
Unindo a poesia ácida, romântica e genial de Cazuza com a guitarra certeira e o talento melódico de Frejat, compuseram hinos como:
- “Todo Amor Que Houver Nessa Vida” e “Bilhetinho Azul” (lançadas no primeiro álbum do Barão Vermelho, em 1982)
- “Pro Dia Nascer Feliz” (sucesso que entrou para o segundo álbum do Barão, em 1983, e que projetou a banda para o país inteiro no mesmo ano, quando gravada por Ney Matogrosso), conheça a história da música aqui
- “Bete Balanço” e “Maior Abandonado” (lançadas no álbum “Maior Abandonado”, do Barão, em 1984)
- “Ideologia” (conheça a história aqui) e “Blues da Piedade” (lançadas no terceiro álbum solo de Cazuza, “Ideologia”, de 1988)
- “Malandragem”, hit na voz de Cássia Eller, lançado no seu disco Ao Vivo de 1996 – conheça a história aqui.
- “Poema” (escrita por Cazuza em homenagem a sua avó e encontrada por sua mãe depois do poeta morrer, que a entregou para Frejat musicar e que tornou-se um imenso sucesso na voz magistral de Ney Matogrosso)
A amizade manteve-se até o último dia de vida de Cazuza, em julho de 1990. Frejat mantém viva não somente a obra de Cazuza, mas o próprio poeta, com a canção que compôs com Dulce Quental, para homenagear o amigo enquanto ele ainda fazia o tratamento para a AIDS, “O Poeta Está Vivo”. Confira a história aqui.
3 – Vinicius de Moraes e Toquinho

Nos anos 1970, Vinicius de Moraes já era um nome consagrado da música e da literatura brasileira quando conheceu Toquinho, talentoso músico, jovem admirador de seu trabalho, e exímio violonista.
A parceria foi imediata: Vinicius encontrou em Toquinho um parceiro musical capaz de traduzir suas palavras em harmonias belíssimas e inesquecíveis.
Juntos, os dois formaram uma dupla querida pelo público, tendo gravado mais de 20 LP’s, 100 canções em parceria e realizado mais de 1000 shows juntos. Suas apresentações eram tão intimistas, que pareciam conversas entre amigos, regadas a música e histórias de vida.
A grande amizade e parceria durou até o último dia da vida do poeta, com 66 anos, em 1980. Toquinho estava hospedado na casa de Vinicius e foi uma das primeiras pessoas a encontrá-lo já sem vida. A parceria foi a maior da vida de Toquinho e uma das maiores da vida de Vinicius de Moraes, rendendo à dupla.
Entre as principais composições dos dois estão as clássicas:
- “Tarde em Itapoã”, “Samba da Rosa” e “A Tonga da Mironga do Kabuletê”, lançadas no álbum “Como Dizia o Poeta…..”, da dupla de compositores com Marília Medalha, em 1971
- “Regra Três”, lançada no álbum “São os Perigos Dessa Vida”, de 1972
- “Sei Lá (A Vida Tem Sempre Razão)”, lançada no álbum “Toquinho e Vinicius”, de 1971
4 – Rita Lee e Roberto de Carvalho

O encontro entre Rita Lee e Roberto de Carvalho, em meados dos anos 1970, transformou não só a vida pessoal como também a trajetória musical da “Mãe do Rock Brasileiro”. Roberto, guitarrista e compositor, ajudou a moldar o som pop de Rita, criando um repertório repleto de hits.
A química artística e pessoal fez com que trabalhassem juntos por décadas, consolidando um legado musical moderno e atemporal. Da parceria – que durou até o último dia de vida de Rita Lee, em maio de 2023 – nasceram filhos, netos e muitos sucessos por quase cinco décadas, atravessando diferentes fases da música brasileira.
Entre eles, clássicos inesquecíveis, como:
- “Mania de Você” (confira a história da música) e “Chega Mais”, lançada no álbum “Rita Lee”, de 1979
- “Lança Perfume”, “Caso Sério” e “Nem Luxo Nem Lixo”, lançadas no álbum “Rita Lee”, de 1980
- “Alô, Alô Marciano”, lançada com sucesso na voz de Elis Regina, no álbum “Saudade do Brasil”, de 1980
- “Banho de Espuma”, “Saúde” e “Mutante”, lançadas no álbum “Saúde – Rita Lee e Roberto de Carvalho”, de 1981
- “Flagra” – lançada no álbum “Rita Lee e Roberto de Carvalho”, de 1982
- “Desculpe o Auê” – lançada no álbum “Bombom – Rita Lee e Roberto de Carvalho”, de 1983
5 – Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown

Aqui é um trio e não uma dupla! E um trio de peso na música popular brasileira: Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes são parceiros e amigos de longa data.
Marisa e Arnaldo compunham juntos desde o segundo álbum da cantora, “Mais”, de 1991, que conta com a música “Beija Eu”, parceria dos dois com Arto Lindsay.
Já a primeira composição lançada por Marisa e Brown em parceria foi “Na Estrada”, que entrou para o terceiro álbum da cantora “Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão”, e que conta também com Nando Reis na composição.
E Brown e Arnaldo compuseram pela primeira vez juntos a canção “O Silêncio”, que deu nome ao terceiro álbum solo do ex-Titãs, de 1996.
No ano de 2001, Marisa Monte foi gravar uma participação no disco “Paradeiro”, de Arnaldo Antunes, produzido e arranjado por Carlinhos Brown. A faixa título foi a terceira composição dos três em parceria (antes haviam composto “Não é Fácil” e “Água Também é Mar”, para o álbum “Memórias, Crônicas e Declarações de Amor”, de Marisa, em 2000).
Foi quando os três amigos resolveram unir forças para formar os Tribalistas. Os músicos ficaram juntos por uma semana e desse encontro foram surgindo várias composições, que – inicialmente – não tinham a intenção de se tornarem um disco.
O primeiro álbum do trio, em 2002, foi um sucesso tremendo de crítica e público, alcançando a marca de mais de dois milhões de cópias no Brasil e mais de um milhão no resto do mundo, sendo um sucesso também internacional.
Em 2017, 15 anos depois do primeiro encontro, os Tribalistas juntaram-se novamente, para lançar o seu segundo álbum, com dez canções inéditas, e turnê nacional e internacional. Entre os sucessos, estão:
- “Velha Infância” (parceria do trio com Davi Moraes e Pedro Baby); “Já Sei Namorar” e “Carnavália”, lançadas no primeiro álbum
- “Aliança” e “Fora da Memória” (ambas parcerias do trio com Pedro Baby e Pretinho da Serrinha, lançadas no segundo álbum
6 – Erasmo Carlos e Roberto Carlos

Ícones de uma geração, Roberto Carlos e Erasmo Carlos escreveram juntos algumas das canções mais populares da história da música brasileira.
Primeiro, Erasmo fez uma versão da música norte-americana “Splish Splash” para o álbum do amigo, em 1963.
Logo em seguida, Roberto e Erasmo fundaram, junto com Wanderléa, um dos maiores movimentos musicais e culturais de massa do país, que revolucionou o comportamento jovem e a música brasileira: a Jovem Guarda, tendo como principal influência o rock’n roll do final da década de 50, principalmente Elvis, The Beatles e o soul da Motown.
Os três apresentaram um programa com esse mesmo nome, aos domingos, entre os anos de 1965 e 1968, que virou um fenômeno de audiência e mídia. Eles lançaram não só músicas, mas moda, gírias e filmes juntos.
A parceria entre Erasmo e Roberto Carlos atravessou décadas e a amizade durou até o último dia de vida de Erasmo, em novembro de 2022, sendo um dos exemplos mais longevos de colaboração na MPB, e também mais frutíferos – são centenas de composições juntos, entre elas:
- “Festa de Arromba” (lançada no álbum “A Pescaria com Erasmo Carlos”, do Tremendão, em 1965)
- “É Proibido Fumar” (lançada no álbum de mes nome, lançado por Roberto Carlos, em 1964)
- “É Preciso Saber Viver” (lançada pela banda Os Vips, em 1968)
- “As curvas da estrada de Santos” (lançada no álbum “Roberto Carlos”, de 1969)
- “Detalhes” (lançada no álbum “Roberto Carlos”, de 1971)
- “Se Você Pensa” e “As canções que você fez pra mim” (lançadas no álbum “O Inimitável”, de Roberto Carlos, em 1971
- “Além do Horizonte” (lançada no álbum “Roberto Carlos”, de 1971)
- “Olha” (lançada no álbum “Roberto Carlos”, de 1975)
- Amigo (de 1977, que fala sobre a amizade dos dois e tem letra de Roberto escrita especialmente para Erasmo e em cima de música composta pelo Tremendão)
- “Emoções” (lançada no álbum “Roberto Carlos”, de 1981)
7 – Milton Nascimento e Fernando Brant

O encontro de Milton Nascimento e Fernando Brant no fim dos anos 1960, dentro do movimento do Clube da Esquina – outro dos mais importantes movimentos da MPB, que uniu influências brasileiras e internacionais e ajudou a moldar a história da nossa música – resultou em uma parceria marcada por delicadeza e profundidade.
Brant, letrista de versos emocionantes, e Milton, com sua voz única e melodias inovadoras, compuseram juntos mais de 200 canções, ao longo de quatro décadas.
Criaram clássicos antológicos como:
- “Travessia” (que lançou Milton Nascimento para o mundo, quando defendida por ele no II Festival Internacional da Canção (FIC), dando nome a seu primeiro álbum, em 1967) (Confira aqui a história por trás da música)
- “Ponta de Areia” (lançada por Elis Regina, no álbum “Elis”, de 1974)
- “Maria, Maria” e “O Que Foi Feito Devera” (lançadas no álbum “Clube da Esquina 2”, de 1978) (Confira aqui a história por trás da música)
- “Canção da América” (lançada no álbum “14 Bis”, de 1979)
- “Nos Bailes da Vida” (lançada no álbum “Caçador de Mim“, de Milton, em 1981)
- “Bola de Meia, Bola de Gude” (lançada no álbum “14 Bis II”, de 1980)
8 – João Bosco e Aldir Blanc

João Bosco, compositor e violonista virtuoso, encontrou em Aldir Blanc um parceiro letrista de apuro técnico e narrativa precisa, e dupla construiu um repertório sofisticado, unindo a música rica em harmonias de Bosco às letras de Blanc, que retratam o Brasil de forma intensa.
Suas icônicas canções foram imortalizadas na voz de João Bosco ou de outros gigantes da nossa música, como Elis Regina e Milton Nascimento. São exemplos delas:
- “Bala com Bala” (projetando o nome dos compositores ao Brasil inteiro, quando gravada por Elis Regina no álbum “Elis”, de 1972)
- “De Frente pro Crime” (lançada por Simone no álbum “Quatro Paredes”, de 1974)
- “O Mestre-Sala dos Mares” e “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá” (lançadas no álbum “Elis”, de 1974 – conheça a história das músicas)
- “Kid Cavaquinho” (lançada por Maria Alcina no álbum, em 1974)
- “Incompatibilidade de Gênios”, (lançada por João Bosco no álbum “Galos de Briga”, de 1976)
- “O Bêbado e a Equilibrista”, que virou símbolo da anistia no Brasil, quando Elis Regina a lançou em seu álbum “Elis, Essa Mulher”, de 1979
- “Linha de Passe” lançada por João Bosco no álbum de mesmo nome, em 1976)
9 – Tom Jobim e Vinicius de Moraes

Em 1956, quando Vinicius de Moraes começou a selecionar a equipe que faria parte da sua peça “Orfeu da Conceição”, conheceu o então jovem pianista Antônio Carlos Jobim, que tornou-se não só o seu parceiro musical para aquela peça, mas seu parceiro por uma vida.
Em quinze dias, Tom e Vinicius fizeram praticamente toda a trilha do espetáculo, com canções como as clássicas “Lamento do Morro” e “Se Todos Fossem Iguais A Você”.
Pouco tempo depois, a dupla imprimiu o seu DNA musical na Bossa Nova, movimento que encabeçaram e que projetou a música brasileira no mundo inteiro. Juntos, fundiram a sofisticação harmônica de Tom com a poesia romântica de Vinicius, sendo uma das duplas de compositores mais gravadas da história e criando canções antológicas, como, entre tantas outras:
- “Chega de Saudade” (o marco inicial da Bossa Nova, lançada por Elizeth Cardoso com os violões de João Gilberto, no álbum “Canção do Amor Demais”, em 1958, e – depois – gravada pelo próprio João no seu disco de mesmo nome no ano seguinte) – Conheça a história da música.
- “Eu Sei Que Vou te Amar” e “A Felicidade”, de 1958
- “Água de Beber”, lançada por Vinicius, em 1961
- “Brigas Nunca Mais”, que também entrou para o álbum “Chega de Saudade”, de João Gilberto, em 1959
- “Insensatez”, lançada por João Gilberto em 1961
- “O Morro não Tem Vez”, eternizada nas vozes de Elis Regina e Jair Rodrigues, em 1965
- “Garota de Ipanema” (a música brasileira mais gravada no exterior e a segunda música mais gravada do mundo, lançada por Pery Ribeiro em 1963, e que ganhou Grammy Awards de “Gravação do Ano”, em 1965, com a interpretação de Astrud Gilberto no álbum “Getz/Gilberto”, de João Gilberto com o saxofonista estadunidense Stan Getz).
10 – Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira

Conhecidos como a dupla responsável por criar o baião, Luiz Gonzaga (o “Rei do Baião”) e Humberto Teixeira (o “Doutor do Baião”) ajudaram a popularizar a música nordestina em todo o Brasil a partir dos anos 1940.
Gonzaga, com sua sanfona e carisma, e Teixeira, com letras que exaltavam o sertão, criaram juntos sucessos que reforçaram a relevância imensa do Nordeste na cultura brasileira, influenciando gerações.
Entre seus clássicos, estão:
- “Qui Nem Jiló” (de 1941, um verdadeiro hino nordestino)
- “Baião” (lançada em 1946 e que conta a história do ritmo do gênero criado pela dupla)
- “No Meu Pé de Serra” (1947)
- “Asa Branca’’ (de 1947, considerada um hino informal do Nordeste, uma das música mais importantes da história do país)
- “Paraíba” (1949)
- “Assum Preto” (lançada por Luiz Gonzaga, em 1950)
- “Respeita Januário” (de 1950, em homenagem ao pai de Gonzagão)



