Um grande músico brasileiro se não tivesse nos deixado em julho de 2001, aos 39 anos – causando uma perda irreparável uma das maiores bandas brasileiras de todos os tempos, os Titãs, e para todo o Brasil – Marcelo Fromer completaria 64 anos nesta quarta-feira (03)
O guitarrista e compositor, integrante e fundador dos Titãs, sofreu um atropelamento fatal, deixando o Brasil inteiro órfão de seu talento inesperadamente. Ele é autor de diversos sucessos da banda, em parceria com alguns de seus companheiros. Hoje, vamos conhecer mais sobre a história de Marcelo Fromer e também algumas de suas composições.
Sobre Marcelo Fromer
Marcelo Fromer nasceu em São Paulo, em 1961, e começou a estudar violão na adolescência, com 15 anos. Logo, tornou-se guitarrista do Trio Mamão, formado no Colégio Equipe – onde estudava – junto com outros dois futuros Titãs: Branco Mello e Tony Bellotto.
Em 1982, os três juntaram-se a Arnaldo Antunes, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto, Ciro Pessoa e André Jung, e formaram a banda Titãs do Iê Iê, que, em 1984 – já sem Ciro Pessoa e com o nome apenas de Titãs – lançou o seu primeiro disco e torna-se um sucesso nacional.
O primeiro álbum já contou com uma composição de sucesso com a participação de Marcelo Fromer: “Sonífera Ilha” (primeiro grande hit radiofônico da banda, parceria de Fromer com Branco, Tony, Ciro e Carlos Barmak) e Toda Cor (parceria com Ciro e Barmak).
1 – Sonífera Ilha
O grupo explodiu em todo o Brasil, tomou conta das rádios e começou a participar dos programas de auditório de maior audiência na TV, como “Chacrinha”, “Raul Gil” e “Clube do Bolinha”, além de viajar pelo país inteiro apresentando o show do primeiro disco. No final deste mesmo ano, André Jung saiu da banda e foi substituído por Charles Gavin.
Com o grupo, Marcelo Fromer lançou mais de 10 discos e fez diversas turnês nacionais e internacionais até a sua morte, tornando-se um dos guitarristas mais respeitados do país.
Entre as composições mais famosas de Fromer com os “Titãs” tambémestão:
2 – Televisão
Lançada no segundo álbum da banda – que recebeu o mesmo nome da canção – em 1985, “Televisão” é uma parceria de Marcelo com Arnaldo Antunes e Tony Bellotto.
A música é uma visão crítica da telinha presente no nosso dia-a-dia de maneira às vezes sufocante, debatendo o papel da televisão no emburrecimento de uma pessoa, porém permitindo à própria pessoa perceber-se vítima deste processo.
O refrão faz referência a um homem chamado “Cride“, o Euclides Gomes dos Santos, amigo de infância do humorista Ronald Golias, inspiração para o bordão mais famoso do comediante.
3 – Homem Primata
Presente no terceiro disco da banda, “Cabeça Dinossauro”, de 1986, o refrão de “Homem Primata” foi originalmente escrito por Marcelo Fromer e Ciro Pessoa na época em que a banda ainda se chamava Titãs do Iê-Iê. Alguns anos depois, Marcelo chamou Sérgio Britto e Nando Reis para expandirem o esboço em uma faixa completa.
A canção foi originalmente escrita como um ska inspirado na canção “A Message To Rudy” da banda britânica de new wave e soul The Specials, e depois tornou-se uma faixa mais rock.
Na parte em inglês da canção, ela faz citação a duas canções de reggae jamaicano: “Monkey Man” (Toots & The Maytals) e “Concrete Jungle” (Bob Marley & The Wailers).
Como uma crítica ao capitalismo selvagem e ao comportamento humano na sociedade moderna, a letra compara o ser humano a um primata, sugerindo que – apesar dos avanços – os instintos primitivos como a luta pela sobrevivência ainda prevalecem, especialmente no contexto da luta por recursos e do consumo desenfreado.
4 – Comida
Lançada no quarto álbum de estúdio da banda, “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas”, de 1987, “Comida” é uma composição de Fromer em parceria com Arnaldo Antunes e Sérgio Britto.
A música é uma crítica social, que aborda temas como educação e cultura, além de questionar o ouvinte sobre os direitos essenciais de todo o ser humano para ter uma vida digna, que está além de necessidades básicas como comida e bebida.
“Comida” fomenta o debate sobre os desejos, necessidades e acessos do ser humano em um mundo capitalista.
5 – O Pulso
Lançada em 1989 no sexto álbum da banda, “Õ Blésq Blom”, “O Pulso” é uma parceria de Marcelo Fromer com Arnaldo Antunes e Tony Bellotto.
Os versos da canção trazem uma sequência de doenças das mais variadas – físicas e mentais ou psicológicas – e, ao mesmo tempo, reafirmam a força da vida: “o pulso ainda pulsa”.
Além desses 5 grandes hits, outros sucessos da banda compostos por Marcelo Fromer são: “Aa Uu” (1986), “Palavras” (1989) e “Nem 5 Minutos Guardados” (1997), as três com Sérgio Britto, e “32 Dentes” (com Branco Mello e Sérgio Britto, de 1997).
Mais curiosidades sobre Marcelo Fromer
O guitarrista também era um grande apaixonado por futebol e por gastronomia. Teve uma coluna semanal (junto com Nando Reis) no jornal Folha de São Paulo, onde falava sobre futebol, e outra no Estado de São Paulo, em que falava sobre gastronomia.
São Paulino fanático, Fromer também apresentou por mais de um ano o programa “89 Gol”, da 89 FM A Rádio Rock, junto com seu grande amigo Walter Casagrande, e participou da cobertura da Copa do Mundo FIFA de 1998, como comentarista do canal SporTV.
Marcelo ainda escreveu o livro “Você Tem Fome de Quê?”, lançado em 1999: um guia informal de gastronomia, em que apresenta 63 receitas, vindas de suas visitas por diversas regiões do país e do mundo por conta das turnês com a banda. As receitas vêm acompanhadas das letras dos maiores sucessos dos Titãs, para se escutar enquanto cozinha.

E o guitarrista também deixou inacabada uma biografia sobre Casagrande, que foi retomada a partir de 2008 pelo jornalista Gilvan Ribeiro e lançada em 2013.
Marcelo morreu vítima de um atropelamento por um motociclista, na Avenida Europa, em São Paulo, um dia antes de iniciar as gravações do disco de inéditas “A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana”. O álbum foi lançado pelos companheiros de Titãs após a sua partida e contou com quatro composições suas.
Uma outra movimentada avenida de São Paulo, a Juscelino Kubitschek, ganhou – no mesmo ano – uma passarela com o nome do músico, para auxiliar pedestres a fazerem a travessia sem risco de atropelamento.
Ironicamente, a canção “Epitáfio”, de Sérgio Britto (“Devia ter amado mais / Ter chorado mais / Ter visto o sol nascer (…) O acaso vai me proteger / Enquanto eu andar distraído / O acaso vai me proteger / Enquanto eu andar”) também faz parte desse último disco, mas foi composta antes de Marcelo Fromer falecer e, inclusive, o guitarrista era bastante fã da canção, que fala sobre aproveitarmos a vida enquanto estamos aqui.
Em 2003, os Titãs lançaram o disco “Como Estão Vocês?”, que traz a faixa “As Aventuras do Guitarrista Gourmet Atrás da Refeição Ideal” (de Tony e Paulo), uma homenagem a Marcelo Fromer:
“Atrás da refeição ideal
Marcelo foi pro Nepal
Comer iogurte com colher de pau
Também foi pro Alaska
Peixe na brasa
Dentro do iglu
Navegou o Xingu
Pra comer o angu
Da índia tupi
Comeu tudo o que quis
Marreco, perdiz
Sempre um aprendiz
Marcelinho pão e vinho
Guitarrista gourmet
Malandro sommelier
Atrás da refeição ideal
Na cordilheira central
Uma receita contra todo mal
Marcelo pisou na lama
Carne de lhama
Experimentou
O Inferno de Dante
E foi mais distante
Até Paris
Comeu tudo o que quiz
E dizem que assim
Ele foi feliz
Marcelinho pão e vinho
Guitarrista gourmet
Malandro sommelier
Atrás da refeição ideal
Marcelo encontrou afinal
Uma receita contra todo mal”



