Festas de Natal em julho, Halloweens no verão, mini Carnavais fora de época. O que antes parecia só uma brincadeira inofensiva, hoje se mostra um fenômeno cada vez mais presente. Para as psicólogas Márcia e Chiara Lenci Viscomi, esse comportamento pode ir além da diversão: pode ser uma tentativa inconsciente de escapar de angústias internas e silenciar dores emocionais.
Fuga ou expressão? A linha é tênue
O brincar é fundamental para a saúde mental — alivia o estresse, fortalece vínculos e organiza emoções. Mas quando a vida se torna uma sucessão de festas temáticas e performances, o risco é substituir o enfrentamento emocional por evasão crônica. “É preciso perguntar: estamos realmente vivendo ou apenas encenando?”, provocam as psicólogas.
A multiplicação de experiências “instagramáveis” pode esconder uma dificuldade coletiva de lidar com o vazio e a frustração. No lugar de sentir, anestesiamos com distrações. “A fantasia vira uma zona de conforto — acolhedora, mas também limitadora. E como toda zona de conforto, nela não se cresce. Apenas se adia”, alerta Márcia.

Quando a festa substitui o real
Isso não significa que eventos criativos devam ser rejeitados. Eles podem, sim, ser espaços de afeto e conexão. “O problema surge quando o ritual ocupa o lugar da realidade, e a fantasia se torna o único território possível”, reforça Chiara. Nesse contexto, o que parece apenas uma brincadeira pode ser, na verdade, um pedido silencioso por pausa, trégua e escuta.
Talvez, ao celebrar um Halloween fora de época, estejamos apenas querendo brincar. Mas talvez também estejamos dizendo, sem palavras, que está difícil lidar com o peso da realidade. E isso merece atenção — muito mais do que curtidas.



