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Grande Otelo: artista que traduziu o Brasil e abriu caminhos para a representatividade negra

Grande Otelo foi mais do que um grande artista: foi a própria imagem do Brasil em movimento. Nascido Sebastião Bernardes de Souza Prata, em 18 de outubro de 1915, na cidade mineira de Uberlândia (MG), viveu uma infância marcada por dificuldades e pela ausência da mãe. Aos oito anos, foi entregue a um capitão de circo, onde começou a descobrir o poder do riso como forma de sobrevivência.

A partir dali, o menino tímido e curioso se transformou em artista. Adotado primeiramente pela cantora lírica e atriz Abigail Parecis, e depois por mais duas famílias, com sua voz impressionante subiu aos palcos para cantar e atuar e recebeu o apelido de “Pequeno Otelo”, por conta da sua baixa estatura. 

Mas, com o talento gigante, passou a ser chamado merecidamente de “Grande Otelo”. E foi exatamente isso que ele se tornou: um gigante das artes brasileiras.

Sua versatilidade o levou a brilhar em diferentes linguagens: no teatro, no cinema, na televisão e também na música. Grande Otelo se tornou um dos principais nomes do teatro de revista, tendo participado da Companhia Negra de Revistas, e levou o humor popular para as telas com as inesquecíveis chanchadas da Atlântida Cinematográfica.

Em 1942 participou do filme inacabado “It’s All True”, de Orson Welles. O diretor norte-americano considerava Grande Otelo o maior ator brasileiro. Também conquistou o público com sua parceria com o ator Oscarito, em filmes que marcaram gerações, como: “Este Mundo é um Pandeiro” (1947); “Carnaval no Fogo” (1949);e “Aviso aos Navegantes” (1950).

Mais tarde, em 1969, seu papel no filme Macunaíma – dirigido por Joaquim Pedro de Andrade e baseado na obra homônima de Mário de Andrade o consagrou como um dos maiores atores do país, capaz de dar vida às múltiplas faces do brasileiro: entre a alegria, a esperteza, a dor e a contradição.

Com o filme, Grande Otelo recebeu diversos prêmios de melhor ator, como o Prêmio Air France, o Troféu Candango do Festival de Brasília e o Coruja de Ouro do Instituto Nacional de Cinema.

A partir da década de 1960, Grande Otelo passou a ser contratado da TV Globo, emissora na qual atuou em diversas telenovelas de grande sucesso, como “Uma Rosa com Amor” (1972). 

O ator, comediante, cantor, produtor e compositor brasileiro Grande Otelo | Foto: Mila Petrillo / Reprodução

Entre a dor e o riso: resistência

Mas por trás da carreira consagrada de Grande Otelo, havia uma realidade desigual. Mesmo aclamado, ele enfrentou o racismo e a desvalorização que atingiam os artistas negros em um país ainda distante da igualdade (e, ainda hoje, MUITO distante!). 

Grande Otelo recebia salários menores que colegas brancos (ganhava três vezes menos que Oscarito para fazer os mesmos filmes!) e teve de provar, inúmeras vezes, o próprio talento, algo que – para ele – nunca foi apenas arte, mas também resistência.

Em uma época marcada pelo racismo institucionalizado, ele desafiou estereótipos e se destacou em espaços tradicionalmente dominados por artistas brancos.

Ao longo de sua trajetória, construiu um legado de representatividade. Em cada personagem, trouxe à cena a força e a humanidade do povo preto brasileiro, transformando sua história pessoal em símbolo coletivo. A dor que marcou a infância se transformou em expressão artística, e o riso, em gesto político.

Grande Otelo morreu em 1993, aos 78 anos, deixando uma obra que reflete, com sensibilidade e genialidade, o retrato de um país plural e contraditório. Sua presença segue viva, não apenas nas telas e palcos que iluminou, mas também em cada artista que hoje ocupa o espaço que ele – com coragem e talento – ajudou a abrir.

Ele sabia que a sua permanência nesses espaços cotidianamente era uma forma de assegurar o espaço do negro nesses locais.

Por mais de 60 anos, Grande Otelo foi protagonista de filmes, novelas e peças teatrais. Ele passou por todas as escolas do cinema brasileiro, se tornando um dos poucos pretos à época a ocupar um lugar de destaque no cenário artístico brasileiro. 

Não tem como falar de cinema e do teatro brasileiro, sem falar da figura de Grande Otelo!

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