A Prefeitura de São Paulo iniciou a implantação de um bolsão de estacionamento sob o Elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, na Rua Amaral Gurgel, região central da cidade. A proposta, segundo a gestão municipal, é experimental e será avaliada antes de qualquer possível ampliação para outros trechos.
Ao todo, o trecho, que já teve as obras finalizadas, tem aproximadamente cerca de 70 metros de extensão. Conforme havia informado a prefeitura, o traçado da ciclovia existente foi mantido, mas com ajustes que permitem circulação nos dois sentidos, além de um pequeno espaço para pedestres passarem entre os carros parados e as bicicletas.
Vagas já estão liberadas, mas sob testes
Segundo o vice-prefeito de São Paulo, Coronel Melo Araújo, que concedeu uma coletiva no local, as vagas já estão disponíveis para uso e, durante esse período de testes, pelo menos, não haverá cobrança. Ainda não há uma data definida para o término da fase experimental.
Segundo Melo Araújo, a área escolhida para a intervenção era um ponto crítico de descarte irregular de lixo e que o bolsão de estacionamento pode ajudar a coibir essa prática.
A região, a GCM e o vazio deixado pelos moradores de rua
Uma queixa comum dos moradores de região é a forte presença de pessoas em situação de rua que buscam abrigo embaixo do Minhocão. A reportagem percorreu a área na manhã desta segunda-feira e registrou a presença de ao menos cinco viaturas da Guarda Civil Metropolitana e mais de dez agentes espalhados ao longo de cerca de um quilômetro sob o elevado. Em contraste com dias anteriores, poucos moradores de rua foram vistos no local.
Questionado sobre a movimentação da GCM e o esvaziamento repentino da área, o vice-prefeito respondeu que, em frente às novas vagas, há um hotel solidário, onde 97 das 100 vagas estavam ocupadas no momento da visita, segundo ele.
Como forma de resolver a situação de maneira permanente, a prefeitura, de acordo com o Melo Araújo, deve realizar uma ação integrada na próxima segunda-feira, com equipes do CATE (Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo), com objetivo de oferecer oportunidades de emprego e acolhimento em hotéis solidários para pessoas em situação de rua.
Projeto urbanístico ou estratégia de exclusão?
Apesar da proposta da prefeitura, moradores e especialistas questionam a real intenção do projeto. Um desses moradores é o maquiador André Andrade, que vive há 40 anos na região e afirma não ver “sentido nas vagas de estacionamento naquele ponto”. Para ele, a medida parece “uma tentativa indireta de reduzir a presença de pessoas em situação de rua sob o Minhocão”.
E ele completa: “a impressão que dá é que querem apertar quem vive ali para forçar uma retirada. As vagas só fazem sentido se o objetivo for esse”, disse André.
Críticas técnicas e ação judicial
Nas redes sociais, urbanistas e vereadores têm chamado a proposta de mal planejada. Um dos principais críticos é o vereador Nabil Bonduki, que entrou com uma ação na Justiça para suspender as obras, sob o argumento de que o projeto vai na contramão dos princípios de mobilidade urbana e incentiva o uso de carros em uma área já saturada de trânsito.
A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), em parecer técnico, também fez ressalvas ao modelo, alertando para possíveis impactos nos corredores de ônibus da região e recomendando estudos complementares antes de qualquer expansão.



