Quem aí lembra dos tempos áureos da MTV Brasil? Há exatos 12 anos, o canal de televisão Music Television – emissora que ajudou a transformar a maneira do brasileiro de consumir música – encerrava as suas operações no como um canal de TV aberta no Brasil.
Em seguida, o canal – que antes pertencia ao grupo Abril – foi comprado pela Paramount International Networks e tornou-se disponível apenas por assinatura e com um conteúdo mais voltado para o entretenimento do público jovem.
Hoje, vamos relembrar um pouco dessa história e do legado que a antiga MTV deixou para nós brasileiros e brasileiras, por conta de seus tempos áureos, entre 1990 e 2010.
A importância histórica da MTV para a música brasileira
Quando a MTV Brasil estreou em 20 de outubro de 1990, o país vivia um momento de abertura cultural após décadas de ditadura. A música nacional passava por transformações intensas: o rock brasileiro dominava as rádios, enquanto novos artistas buscavam espaço em um cenário cada vez mais plural. Foi nesse contexto que o canal, transmitido em sinal aberto e inteiramente dedicado à música, se tornou um fenômeno geracional.
A estreia da MTV Brasil se deu com a exibição do clipe do remix feito por Marina Lima para a canção “Garota de Ipanema”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
Inspirada na MTV norte-americana, a versão brasileira não apenas exibia videoclipes – ela ajudou a formar identidades, ditou modas, revelou talentos e consolidou uma maneira inédita de consumir música no Brasil.
Ícones como Cazuza, Legião Urbana, Titãs, Paralamas do Sucesso, PittyeMarisa Monte ganharam uma vitrine poderosa para suas produções audiovisuais. Mais tarde, a emissora se tornaria decisiva para o sucesso de bandas como Raimundos, Skank, Planet Hemp, Charlie Brown Jr. e O Rappa, que encontraram no canal um público jovem ávido por novidades.
Os programas também tiveram papel fundamental. O “Disk MTV” revelou tendências, o “MTV ao Vivo” registrou apresentações históricas e o “Acústico MTV” criou uma coleção de álbuns que entraram para a memória afetiva do público, transformando shows intimistas em grandes marcos da discografia brasileira. Basta lembrar os registros de Titãs (1997), Legião Urbana (1999), Cássia Eller (2001) ou Capital Inicial (2000), que redefiniram a carreira desses artistas.
A MTV não foi só música. Foi comportamento, linguagem e atitude. Seus VJs – como Astrid Fontenelle, Cazé Peçanha, Marina Person, Sabrina Parlatore, Edgard Piccoli, Thunderbird, Sarah Oliveira e Zeca Camargo – se tornaram porta-vozes de uma juventude urbana, conectada e disposta a experimentar. O canal aproximou o Brasil de tendências globais e, ao mesmo tempo, valorizou nossa produção local, criando um diálogo direto com quem estava em casa.
E ainda tinha o VMB – Video Music Brasil, que premiava os melhores videoclipes, bandas e artistas nacionais, por meio da votação de sua audiência e de um júri especializado para categorias técnicas, além de promover apresentações históricas.
Declínio com as novas tecnologias
Com a ascensão da internet e a mudança nos hábitos de consumo, a emissora enfrentou dificuldades. Em 30 de setembro de 2013, a MTV Brasil encerrou sua programação em sinal aberto.
Foi o fim de uma era, mas não de sua influência: a marca se manteve em canais pagos e o legado segue vivo na memória de quem acompanhou seus programas, nos discos históricos que ela inspirou e no impacto duradouro que teve sobre a forma como ouvimos e vemos música no país.
Nos anos seguintes, o espaço que antes era da MTV foi ocupado por novas plataformas digitais. O YouTube se consolidou como a principal vitrine audiovisual para artistas de todas as gerações, permitindo que videoclipes fossem lançados e consumidos sem barreiras de tempo ou lugar.
Já as redes sociais transformaram a relação entre músicos e público, criando novas formas de engajamento e permitindo que artistas independentes conquistassem espaço sem depender das grandes gravadoras. Se hoje vivemos uma era em que a música circula de maneira instantânea e democrática, é inegável que a MTV pavimentou esse caminho ao mostrar, ainda nos anos 1990, que ver música podia ser tão importante quanto ouvi-la.
A MTV Brasil foi muito mais do que um canal de TV aberta. Foi um movimento cultural que mudou para sempre a forma de se relacionar com a música. Uma janela que nos mostrou que imagem e som, juntos, podiam criar experiências inesquecíveis – legado que reverbera até hoje nas telas e nos fones de ouvido de milhões de brasileiros.
